Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

PRB, Universal, Record e PT

O cientista político Claudio Gonçalves Couto publicou no Estado de S. Paulo artigo (“Russomanno, o católico”, 18/9) que desmonta a argumentação do candidato Celso Russomanno quanto à opção confessional dos integrantes de sua legenda, o Partido Republicano Brasileiro: 80% de católicos e 6% de membros da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Esses dados demonstrariam que o PRB não é um braço político do bispo Macedo. Couto, porém, constatou que pelo menos 10 dos 18 membros da Executiva Nacional do PRB são oriundos da Igreja Universal ou da TV Record, ou de ambas, em alguns casos. E que 85% dos dirigentes estaduais do PRB são funcionários e dirigentes da Iurd, que classifica como uma das três organizações negociais do bispo Macedo (as outras são a Record e o próprio PRB).

Couto escreve:

“Celso Russomanno é também empregado da Record, cujos funcionários demonstraram sua lealdade ao bispo, chefe maior da igreja, que controla o grupo de comunicação. Tendo em vista que vínculo equivalente há entre igreja e partido, que conduta se pode esperar dos membros da agremiação que forem eleitos?”

A resposta óbvia é que terão conduta compatível com o projeto de poder do bispo Macedo e seus correligionários, ou associados.

José Alencar, patrono do PRB

O que complica a equação é que o presidente de honra do PRB é José Alencar Gomes da Silva, o falecido vice-presidente de Lula, que pertencia ao Partido Liberal (PL), rebatizado Partido da República (PR), ninho de Valdemar Costa Neto e outros. PRB e PR fazem parte da famosa base aliada. No plano federal, portanto, Celso Russomanno apoia o governo de Dilma Rousseff, como apoiava o de Lula, quando pertencia ao Partido Progressista (PP), atual legenda do doutor Paulo Maluf, que apoia Fernando Haddad, rival de Russomanno.

A Record, uma das Organizações Edir Macedo (nome de mentirinha, inventado aqui), usa sua artilharia midiática em defesa do governo do PT.

Confira, leitor suspicaz:

    1) uma reportagem-panfleto de 15 minutos no Domingo Espetacular da TV Record acusa a revista Veja de conspirar para derrubar o governo Dilma (seria trágico se não fosse uma piada; a Veja apoia com tanto fervor a presidente que já chegou a escrever, citando o duque de Caxias: “Sigam-me os que forem brasileiros”; ver aqui). O vídeo está, entre outros lugares, no blogue "Dilma presidente". Notar que não aparece a logomarca da emissora (ver aqui);

    2) mais recente foi a visita da presidente Dilma aos estúdios da Record em Londres, devidamente festejada em site da Iurd (ver aqui).

Em resumo, Russomanno é ligado a Macedo, que apoia Lula, que é o mentor de Dilma, que corteja Macedo, que é o chefe de Russomanno.

A coisa vai longe. O próprio PRB se ufana em seu site de uma trajetória vitoriosa:

“2006 −O PRB participa de sua primeira eleição. Com pouco mais de um ano de existência, elege 01 (um) deputado federal e 03 (três) deputados estaduais. Mas, sua maior conquista foi a eleição de José Alencar como Vice-presidente da República, na chapa do então Presidente Lula.

2008 −Nas eleições de 2008, o PRB totalizou em torno de 4 milhões de votos em todo Brasil. Foram eleitos 54 prefeitos, 30 vice-prefeitos e 780 vereadores.

2010 − Com uma campanha espalhada por todo território nacional, o PRB sai das urnas com um resultado bastante animador: 01 senador da República, 8 deputados federais, 17 deputados estaduais e 01 deputado distrital. Foram em torno de 7 milhões de votos de brasileiras e brasileiros que depositaram suas expectativas no trabalho de homens e mulheres do PRB. Como disse certa vez o saudoso Presidente de Honra do PRB, José Alencar: ‘Os republicanos são pessoas que têm compromisso com a Pátria e com a democracia’.”

Em 2012, o partido do bispo Macedo pode conquistar o poder na maior cidade do país. Resta ver se, nesse caso, o PT fará parte da “base aliada” na Câmara de Vereadores, ou se vai se juntar ao PSDB e outros partidos na oposição a Russomanno. Depende. De quê? Da situação do mercado. Que mercado? O mercado político, onde também se aprenderam as lições de Michael Porter sobre clusters em que há simultaneamente cooperação e competição.

No tempo do falecido Robertão Cardoso Alves era mais simples: “É dando que se recebe.”