Nos Estados Unidos e Inglaterra, o procedimento é comum: muitos veículos de comunicação declaram abertamente seu candidato e, supostamente sem prejuízo do noticiário, fazem campanha por ele. No Brasil, isto é raro: os veículos se apresentam como neutros, apartidários, mas na verdade muitos têm seu candidato e fazem campanha; alguns vão mais longe e fazem campanha distorcendo o noticiário.
Declarar a preferência partidária (sem distorcer o noticiário) é um comportamento rigorosamente ético. E, mesmo que na paixão da campanha haja distorções, o consumidor da notícia terá condições de avaliar o desvio. Já fazer campanha (mesmo sem distorcer o noticiário) e proclamar-se neutro é se colocar fora dos limites da ética; é negar ao consumidor os elementos necessários para que avalie corretamente as informações colocadas a seu alcance.
Como isso funciona? Vejamos um exemplo já antigo: uma importante rede de comunicações sabidamente apoiava Fernando Collor para a presidência da República. Mas, como isso não era declarado, abriu-se a oportunidade para um importante funcionário dizer que, na verdade, o candidato da rede não era Collor, era Mário Covas. O leitor, ouvinte, telespectador teve todo o direito de ficar confuso: afinal, que tipo de desvio de noticiário ele deveria compensar?
No segundo turno, identificar os candidatos favoritos de cada grupo de comunicação já não é tão difícil. No primeiro, com muitos candidatos, fica complicado. Muitos argumentarão que a oficialização da posição do veículo é desnecessária, e que todo mundo sabe quem está com quem. Na verdade, algumas pessoas sabem, mas não todas. E por que as poucas que sabem devem levar vantagem sobre as outras, menos ligadas a essa questão?
Se cada produto à venda no supermercado tem no rótulo suas especificações e o detalhamento da composição, por que o produto-notícia deveria ter um tratamento diferente? Uma notícia mal dada faz mais mal que um alimento vencido.
Falar e ouvir
Comunicação não é aquilo que se diz: é aquilo que se ouve. Os debates entre os candidatos à Presidência ignoram esta verdade fundamental: cada um fala sua linguagem, sem a menor preocupação com quem o ouve, sem a menor preocupação com aquilo que será entendido (ou não) pelo público.
Alguns detalhes são até cômicos. Alckmin acusou Lula de ter roubado até os aplausos de Kofi Annan. Mesmo para quem sabe que Kofi Annan era o secretário-geral da ONU, quantos terão conhecimento do episódio a que o candidato se referia? Foi o seguinte: Annan, em suas despedidas da ONU, foi longamente aplaudido. Em seguida, falou o presidente Lula. A produção de seu programa gravou os aplausos a Annan e colocou-os no final do discurso de Lula, como se tivesse sido ele o aplaudido. Para quem conhecia a história, foi uma tirada engraçada. Mas, entre os que assistiram ao debate, quantos a conheciam?
Já o presidente Lula se esmerou em ataques a Barjas Negri. Os eleitores de Piracicaba, que elegeram Barjas Negri seu prefeito, o conhecem. E quem não vota em Piracicaba? Falou-se em choque de gestão, que deve ser alguma coisa importante, mas também não foi explicado; falou-se numa tal PEC 29. Este colunista, que vive disso, até sabe que PEC quer dizer Proposta de Emenda Constitucional. Mas 29? E que é que o governo tem a ver com a crise da agricultura?
Falta treino. E falta aos candidatos, principalmente, a humildade necessária para saber o que é que seu público está ouvindo, em vez de deliciar-se apenas com aquilo que eles mesmos estão falando.
Bom serviço
A propósito do primeiro debate, na Rede Bandeirantes: os jornais fizeram um excelente serviço, confrontando as informações dos candidatos com os fatos reais. A quantidade de coisas que não batiam foi imensa. Se, na frente do adversário (que pode eventualmente contestá-lo), diante dos repórteres (que vão investigar o caso), diante do público (que, afinal de contas, é quem vai ou não votar neles), os candidatos têm tão pouco apreço pela verdade, imagine quando, do conforto de seus palácios, sem ninguém para corrigi-los, se dirigem ao populacho!
Pesquisas
Ainda a propósito de debates, cuidado com as pesquisas via internet. Nelas, vota quem quer, sem qualquer critério. Ou seja, ganha nos votos quem tiver a maior mobilização, mesmo que tenha menos adeptos, mesmo que tenha sido massacrado no confronto com o adversário.
A tragédia continuada
Poucas coisas são mais difíceis do que fazer a cobertura das investigações sobre a causa de um desastre de avião. O processo de análise das informações é necessariamente lento, mas as notícias têm de estar o tempo todo no rádio, na TV, na internet, nos jornais. A opinião pública quer um esclarecimento rápido, mas é preciso ler as caixas pretas (normalmente nos Estados Unidos), cruzar os planos de vôo com os fatos tais como se conhecem, ouvir sobreviventes, quando os há.
A imprensa em geral até que tenta ser justa, mas nem sempre isto é possível. Hoje, há uma convicção generalizada, na opinião pública, de que os pilotos americanos fizeram bobagem e são os responsáveis pelo desastre que matou 154 pessoas. Pode ser; mas o que acontecerá se, no final, as investigações concluírem que a culpa não foi deles? Teremos aí aquela multiplicação de teorias conspiratórias, segundo as quais o governo americano evitou que os pilotos fossem punidos, ou que a verdade não pode ser revelada porque ‘eles’ não querem (quem são ‘eles’? Ora, ora! Os mesmos que não querem admitir que os ETs freqüentam nosso planeta há muito tempo), ou para proteger a empresa nacional que fabricou um dos jatos envolvidos no acidente.
Há uma diferença de tempo entre imprensa e investigação. E, sem um amplo debate jornalístico sobre como cobrir um assunto de interesse cujo desfecho é demorado, dificilmente se chegará a uma solução.
No muro
Já faz uns 2.500 anos. Ciro, rei da Pérsia, marchava contra a Lídia, um reino riquíssimo, mas para alcançá-la teria de atravessar um rio. Creso, rei da Lídia, consultou o oráculo: deveria enfrentar os persas do outro lado do rio ou aguardar que atravessassem para dar-lhes combate? O oráculo respondeu, à moda tucana: ‘Se suas tropas atravessarem o rio, um grande reino cairá’. Creso interpretou as palavras do oráculo a seu modo: era a Pérsia o grande reino que estava destinado a cair. Atravessou o rio, foi derrotado, e hoje só se ouve falar da Lídia quando se conta essa história.
Um grande jornal, outro dia, noticiando as investigações sobre o acidente que matou 154 pessoas, deu o seguinte título:
** ‘Crescem indícios de que jato causou acidente’
Considerando-se que tanto o Legacy quanto o Boeing são jatos, explica-se por que tantas pessoas consideram que os jornais são os oráculos de nossos tempos.
E eu com isso?
Thomas Edison, um dos grandes gênios inventores da Humanidade, achou que o disco era uma bobagem: quem se interessaria em ouvir gravações? Thomas Watson, da IBM, achava que no mundo haveria mercado para quatro ou cinco computadores. Charles Chaplin, o gênio do cinema, desdenhava o filme sonoro: achava que ninguém iria ao cinema para ouvir o que diziam os atores. E a Western rejeitou a proposta de Graham Bell para comprar sua nova invenção, o telefone, achando que não teria qualquer valor comercial.
E, no entanto, quando todos esses aparelhos se juntaram, o mundo mudou. Como, sem essa convergência fantástica, conheceríamos a intimidade dos famosos? Mais do que isso, como saberíamos quem é ou não famoso?
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Alinne Morais troca beijos com Sérgio Marone em pré-estréiaNão é incrível? Que mais um casal de namorados faria numa pré-estréia?
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Prestes a dar à luz, Adriana Esteves vai ao cinema com o maridoDetalhe: Adriana Esteves nem entrou no nono mês. E desde que estava com sete tudo o que fazia vinha com o comentário ‘prestes a dar à luz’.
A notícia mais interessante, entretanto, é de algo inusitado – um ator que faz algo absolutamente incomum, que usa algo que ninguém mais usa:
5.
Francisco Cuoco assume que usa viagraComo é mesmo?
É um título notável, por todos os aspectos:
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Médico de Maringá recupera funções do ovárioAinda bem! Imaginemos que o citado cavalheiro tivesse perdido as funções do ovário e não conseguisse recuperá-las!
O pior de tudo é que se trata de um médico conceituadíssimo, dos mais respeitados, com estudos publicados em revistas internacionais.
Mas o melhor título da semana, sem dúvida, é esportivo. Quando se depara com algo tão precioso, este colunista se recusa a ler a matéria: fica tentando, com base no título, decifrar aquilo que se tentou dizer. Mais uma vez, o esforço foi vão.
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Com gol brasileiro e falha bisonha de goleiro, Croácia vence a Inglaterra******
Jornalista, diretor da Brickmann&Associados