Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Razões do separatismo

De todas as falhas da cobertura nacional a respeito do plebiscito paraense – discutida no programa de TV do Observatório da Imprensa (6/12) −, a mais grave é a ausência de investigação jornalística sobre as deficiências da atuação do governo paraense nas regiões cujas elites – e o povo, a acreditar nas pesquisas de opinião – querem se emancipar de Belém.

Jornalistas que fizeram coberturas nessas regiões recentemente dão testemunho de que a situação administrativa, das políticas públicas e dos serviços sociais é muito precária em Marabá, Santana do Araguaia ou São Félix do Xingu (Carajás), e em Santarém, Altamira ou Óbidos (Tapajós), para não falar dos municípios menores − o que embasa a adesão popular à tese separatista.

Quando a capital não quer…

Do ponto de vista da política democrática, o processo paraense é uma evolução em relação ao que se fez antes, seja depois da aprovação da Constituição de 1988 (Mato Grosso do Sul e Tocantins), quando a decisão foi do Congresso, sem consulta popular, e mais ainda diante da fusão da Guanabara com o antigo Estado do Rio, decidida manu militari em 1975 pelos generais Ernesto Geisel, então na presidência da República, e Golbery do Couto e Silva, que o acolitava, para dissolver a rebeldia guanabarina no governismo dos caciques fluminenses.

Tudo indica que os processos de separação só funcionam quando o centro está interessado em se livrar de regiões consideradas um peso, como foi o caso nas divisões de Mato Grosso e de Goiás. Belém não quer a divisão.  Minas Gerais jamais deu chance ao desenvolvimento do separatismo do Triângulo Mineiro, que tem mais de 160 anos de idade. No Rio Grande do Sul, um movimento espelha identidades gauchescas que passam as fronteiras do Uruguai e da Argentina. Mas o Brasil não o deixa avançar.