Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Requião critica “mídia paga” e Judiciário

Após ser proibido pela Justiça de usar a TV Educativa do Paraná para promoção pessoal, ofensas à imprensa, a adversários e instituições, o governador Roberto Requião (PMDB) disse, em entrevista à Folha, que não pode ficar ‘ao sabor da opinião da mídia paga, da mídia subsidiada pelo capital’.


A entrevista foi feita na sexta-feira, horas antes de ele ser multado em R$ 50 mil por desrespeitar a decisão -terça passada, em seu programa semanal ‘Escola de Governo’, Requião cortou o som da própria voz e colocou um carimbo de ‘censurado’ sobre a imagem.


Durante os 50 minutos de conversa em seu gabinete, ele ficou irritado (‘Você não existe, rapaz, como jornalista’). Antes de iniciar, apontou para um gravador. Depois, disse que colocaria a gravação na íntegra na TV Educativa se a publicação não fosse fiel a suas palavras. Até ameaçou suspender a entrevista. Mas continuou para dizer que trabalha para ser ‘o melhor governador da história do Paraná’. O ranking de avaliação dos governadores do Datafolha, do final de novembro, apontou Requião como 5º mais bem avaliado entre dez pesquisados.


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A Justiça proibiu o sr. de usar a TV Educativa para promoção pessoal e ofensas. A decisão será cumprida?


Roberto Requião – Nunca fiz propaganda pessoal. Quando vou à ‘Escola de Governo’, coloco uma idéia e estou me expondo. Não vou lá dizer que sou rei da cocada preta.


O sr. diz que é vítima de censura, mas já processou meios de comunicação e jornalistas que publicaram algo que o desagradou.


R.R. – Se alguém não gostar do que eu digo, me processe. Posso provar que o que eu disse era exatamente o que acontecia. Censura prévia é um crime contra a Constituição.


Mas como o sr. lida com a situação antagônica?


R.R. – Não há situação antagônica. [Só] na sua cabeça. E me perdoe a franqueza: está funcionando mal sua cabeça. Se você me difama, eu te processo, eu não te censuro. Não difamei ninguém. Tudo o que eu disse na ‘Escola de Governo’ eu posso provar. E não tem nenhuma ação contra mim.


Como o sr. avalia a programação da estatal do Paraná?


R.R. – É a comunicação do governo com a população. Não posso ficar com o governo inteiro ao sabor da opinião da mídia paga, subsidiada pelo capital e pelos interesses. Não é o fato de eu ter me elegido governador que me tira o direito de opinião. Esperava que a censura contra a liberdade de opinião tivesse acabado no Brasil. Parece que não acabou. Só houve esse raio dessa ação [da Procuradoria] no dia em que expus os salários do Ministério Público.


Há ainda a questão do nepotismo no seu governo.


R.R. – Quando eu me candidatei, eu disse na televisão, no horário do PMDB, que nomearia meu irmão Maurício como secretário da Educação. E não existe impedimento constitucional para se nomear pessoas competentes, sejam quais forem. Você não pode cercear uma pessoa pelo fato de ser seu parente. O nepotismo é uma coisa mais ampla: é nomear [pessoa] inadequada por um protecionismo de qualquer sentido em um lugar importante onde ela prejudica a administração pública.


O vínculo familiar não atrapalha as cobranças?


R.R. – Não. Ajuda. Ele é meu parceiro político mais do que parente. O Maurício é o melhor secretário da Educação do Brasil. E outro irmão meu [Eduardo Requião], que está no porto de Paranaguá, transformou um porto falido no primeiro porto do país.


O sr. se recusa a conceder reajustes nos pedágios, que acabam sempre determinados pela Justiça. Vai continuar com essa oposição?


R.R. – Evidente que vou continuar. A Justiça assumiu a administração do pedágio no Paraná. Agora, depois da licitação em que o governo federal licitou o pedágio 10, 11 vezes abaixo do preço do Paraná, você nem devia me fazer essa pergunta. Você devia me perguntar se eu acho que a Justiça vai continuar dando esse absurdo de aumentos absolutamente indevidos. Reverta a pergunta que fica melhor.


Governador, os contratos estão registrados.


R.R. – Que maravilha. Acho que eu vou interromper essa conversa. Esse tipo de cabeça não existe. Você não existe, rapaz, como jornalista. Contratos estão registrados. Um governo corrupto faz um contrato absurdo, o povo é roubado, eu sou o governador do Paraná, eu tenho que dizer que o governo fez o contrato absurdo e o povo tem que continuar pagando. Não, tem que contestar isso.


Qual é o seu projeto político para o futuro?


R.R. – Gostei da palavra. Eu trabalho por projeto. O meu projeto é fazer o melhor governo da história do Paraná outra vez porque eu já fiz na legislação passada. Eu não vou dizer a você que o Ministério Público Federal e o Judiciário não estejam me lançando nacionalmente e me obrigando a fazer uma campanha nacional contra a censura prévia e que isso não me promova no Brasil. Mas, ao mesmo tempo, dizer que ao lado dessa promoção quem está sendo agredido é o país, a democracia, a liberdade de expressão.