Entende-se o que o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, quis dizer com “o PT deve esquecer o mensalão”, em entrevista à Folha de S. Paulo de sexta-feira (28/12). É o que aparece no título da página 4: “PT já fez tudo o que podia por condenados”. Ou seja: a “agenda de solidariedade” se esgotou. Tornou-se contraproducente.
Mas o que ele deveria ter dito, se não tivesse pensado um tanto cinicamente, seria exatamente o contrário: “O PT nunca deve se esquecer do mensalão.” Como Café Filho, no tempo em que era um político “do bem”, volta e meia dizia a respeito do golpe do Estado Novo: “Lembrai-vos de 37.”
A matéria não esclareceu, mas é preciso saber que Tarso Genro não pertence, no PT, à mesma corrente de Lula e José Dirceu (Construindo um Novo Brasil). É um dos líderes da Mensagem ao Partido, com José Eduardo Martins Cardozo e outros próceres petistas. Isso ajuda a entender a posição de Tarso. Imagina-se que um integrante graduado da corrente de Lula não daria esse tipo de entrevista, em que ele diz que Delúbio, réu confesso, tinha que ser punido pela Justiça.
Não são os homens, é o sistema
Ressalvas à parte, Tarso, que frequentemente embarca em volteios retóricos salpicados com pitadas teóricas, foi muito claro e lúcido quando isentou os congressistas de maior responsabilidade pelas omissões que levam o Judiciário a avançar numa “posição vanguardista”. Ele disse: “No sistema político atual o Parlamento é mais um conjunto de retalhos de interesses regionais, que não têm a questão da Federação como elemento central.”
Acertou. Deu a dica para uma pauta jornalística que consiga fugir da execração fácil de deputados e senadores. Talvez o mais indicado seja começar pelo Senado, onde chama atenção a quantidade de ex-governadores.
Esse trânsito entre palácio do governo estadual e Senado seria “natural”, porque a escolha dos eleitores é feita, nos dois casos, em eleições majoritárias. Mas quando se contemplam os balanços políticos e administrativos da maioria desses governadores, entende-se que o Senado seja hoje uma pálida sombra do que foi mesmo em décadas recentes.
Um caso espetacular é o de Marconi Perilo, hoje governador de Goiás, ontem senador, anteontem governador. Mas há muitos outros.
Isso sem falar nos suplentes que cumprem mandatos longos. Em muitos casos, os suplentes só têm da política o traquejo de financiar campanhas eleitorais. E acabam assumindo responsabilidades sem estar à altura delas.