Algum jornalista foi pago para defender Daniel Dantas, ou para atacá-lo? Algum órgão de divulgação recebeu ou recebe favores para defender Daniel Dantas, ou para atacá-lo? A resposta é urgente: os inquéritos sobre o caso Opportunity indicam gastos de R$ 18 milhões, só em 2008, para subornar juízes, políticos e jornalistas (o dado foi fornecido pelo delegado Carlos Eduardo Magro, participante da Operação Satiagraha). Enquanto isso não for apurado – primeiro, se é verdade ou mentira; segundo, se o mesmo fato também ocorre com os adversários do banqueiro; terceiro, quem foram os subornados – todos ficarão sob suspeita. E nenhuma instituição pode funcionar sob suspeita permanente.
Nas investigações do delegado Protógenes Queiroz, houve coisas inaceitáveis: por exemplo, confundir uma repórter que deu um furo de reportagem (e absolutamente correto, como se soube mais tarde) com alguém a serviço de um dos lados é uma tremenda impropriedade. Confundir um repórter escalado para acompanhar um suspeito com alguém a seu serviço é também uma impropriedade. Mas às vezes acontece: quando alguém está muito próximo de uma fonte, relações incorretas tendem a ocorrer.
Como, durante muitos anos, a impunidade foi a regra, os envolvidos em escândalos nunca tomaram muitas precauções (houve gente que ia pessoalmente ao banco buscar a mesada, ou enviava parentes próximos; houve gente que combinava os pagamentos por telefone, correndo o risco do monitoramento). Isso facilita uma investigação bem-feita, capaz de responder às questões aqui propostas. E a busca da verdade não precisa ficar a cargo exclusivamente da Polícia: é uma boa hora para o jornalismo investigativo tentar se antecipar aos inquéritos policiais e reviver a boa prática dos furos de reportagem, contando quem é quem no Brasil.
Mas não sejamos ingênuos: o jornalismo investigativo, por melhor que seja, não terá condições de apontar empresas de comunicação que eventualmente tenham tido comportamento irregular e recebido benefícios, muitas vezes mascarado como publicidade. Há coisas que só as autoridades podem fazer. Mas, mesmo nesses casos, os jornalistas podem manter-se alertas, acompanhando as investigações oficiais, cobrando resultados e mantendo uma postura crítica – por exemplo, ninguém é culpado só porque alguma pessoa, num telefonema gravado, citou seu nome.
É difícil trabalhar quando todos são suspeitos e os que receberam se protegem por trás do corporativismo.
Pequenas guerras
É importante, também, ressaltar que muitos jornalistas precisam não apenas de autocontrole, mas também do acompanhamento crítico de outros jornalistas que conheçam seus afetos e desafetos. Porque esta é uma ocasião de ouro para descontar velhas pinimbas e colocar no pelourinho seus inimigos jurados. Quem já foi demitido de um veículo de comunicação precisa de muita força interior – ou de gente que mostre aos leitores, em outros veículos, o que está acontecendo – para resistir à tentação de jogá-lo às feras, juntamente com os ex-colegas responsáveis pela demissão.
Como se faz?
Uma empresa importadora de carros de luxo informa, em anúncios de página inteira, que recebeu recursos subsidiados do governo brasileiro e está vendendo com juros ainda menores do que antes.
O caso já foi narrado aqui: a empresa vendia seus carros (e isso constava em destaque nos anúncios) com juro zero – exatamente, 0% ao mês. Agora, está cobrando 0,99% ao mês. Todos os meios de comunicação têm uma ampla seção automobilística: ninguém vai perguntar a essa empresa como é que consegue fazer com que 0,99% ao mês sejam mais baixos do que 0%?
O dólar bom
Primeiro, toda a imprensa se preocupava com a baixa do dólar. Se caísse abaixo de R$ 2,30, os exportadores quebrariam. Depois, houve a barreira dos R$ 2,00. Abaixo de R$ 2,00, jamais! No fim, o dólar se estabilizou entre R$ 1,60 e R$ 1,70, e a imprensa reclamava. O Banco Central gastou muito comprando dólares para, segundo a imprensa informava, segurar a queda.
Agora o dólar subiu e está a R$ 2,40 (ou algo parecido, porque se mexe a cada momento). E a imprensa reclama que o dólar está alto, que vai repercutir na inflação, que o preço dos insumos agrícolas vai jogar o preço das commodities para cima e dificultar as exportações, essas coisas. O Banco Central, segundo a imprensa, já gastou US$ 50 bilhões, agora para tentar segurar a alta.
Este colunista entende o suficiente de economia para saber que, se o dólar baixo é ruim, é bom que suba um pouco. Mas, se o dólar baixo é ruim, se o dólar alto é ruim, que é que se propõe? Que o Brasil passe a negociar internacionalmente com aquela moeda do Mercosul?
Apareça lá em casa
Em sua primeira conversa por telefone, o presidente Lula convidou o presidente eleito americano, Barack Obama, a visitar o Brasil. Obama, protocolarmente, disse que teria o maior prazer em vir. Resultado: todos os meios de comunicação informaram que Obama tinha aceito o convite para vir ao Brasil. Parecia até que só faltava decidir o roteiro.
Na verdade, foi como aquela conversa com um conhecido que não se vê há muito tempo: ‘Apareça lá em casa!’ Ele concorda, claro. Mas, se aparecer de verdade, vai provocar uma tremenda surpresa.
Lá e cá
E falavam dos jornais soviéticos, tadinhos! Só porque, a cada mudança nos humores do poder, o Pravda e o Izvestia modificavam as fotos antigas, tirando gente que tinha deixado de ser conveniente. E falam dos jornais e revistas brasileiros, que também falsificam fotos, mas em geral para ocultar imperfeições femininas.
Pois isso acontece também na França: o tradicionalíssimo Le Figaro apagou um belíssimo anel de ouro e brilhantes da ministra da Justiça, Rachida Dati. Pelo que dizem, o anel custa algo como R$ 50 mil – e a ministra se apresenta como oriunda de família pobre. Como o dono do Figaro é Serge Dassault, dono também de boa parte da indústria bélica francesa (e que, portanto, precisa manter boas relações com o poder), o anel foi extirpado. Le Figaro assumiu a modificação da foto: ‘Não queríamos provocar polêmica em torno deste anel’.
Quem desmontou a farsa foi a revista L´Express, que publicou a foto original, com anel e tudo. E o jornal Liberation bateu duro: ‘Pravda, o retorno’.
Como…
Trechos extraídos de um pedido de entrevista encaminhado ao diretor de uma empresa estatal:
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‘As obras que liga (…) ao (…) ira deixar os trens mais vazios?**
‘Quanto relacionado ao publico um dos resultados é a insatisfação o que o senhor tem a dizer sobre a insatisfação do público quanto ao valor da passagem e aos transportes tão lotados?**
‘O que o (…) tem haver com esses problemas?**
‘Qual o grande acontecido? O que esta acontecendo para tudo isso acontecer?’…é…
Tirado de um jornal dos grandes:
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‘Homem ataca namorada com sanduíche nos EUA’…mesmo?
De um importante portal de notícias:
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‘Angelina Jolie confessa que amamenta gêmeos ao mesmo tempo’Terá sido habilmente interrogada antes de fazer essa confissão?
E eu com isso?
No salão de beleza, são assuntos imbatíveis. São temas democráticos: você pode conversar sobre eles com qualquer pessoa, seja qual for seu nível de instrução ou renda. No ônibus, no metrô, no táxi, pode puxar conversa: todo mundo está a par. Mãos à obra, pois! Informemo-nos!
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‘KLB estréia quadro em programa da Record’**
‘Camila Pitanga leva filha ao médico no Rio’**
‘Lavínia Vlasak faz compras para filho no Rio’**
‘Preta Gil viaja para encomendar alianças de casamento’**
‘Príncipe William flagrado fazendo xixi na cerca em jogo de pólo’O grande título
Títulos bons de verdade, poucos; mas bem interessantes. Comecemos com Sarah Palin, que perdeu as eleições mas continua nas manchetes:
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‘Sarah Palin comete gafe com peru em entrevista’Dá para explicar: nas vésperas do Dia de Ação de Graças, em que é hábito americano servir peru na ceia, muitas autoridades chamam a imprensa e ‘indultam’ o peru, salvando-o da panela. Sarah Palin fez isso – só que, enquanto dava a entrevista em que comunicava o indulto, algum idiota aparecia às suas costas cortando o pescoço do bicho. Só não disseram se o peru abatido era o mesmo que seria indultado.
E agora o grande título:
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‘Obama promete dar prioridade à redução da emissão de gases’Quanto os propagandistas de Luftal não pagariam por um merchandising como este?
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados