Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Texto de repórter do NYT
sobre acidente causa evolta


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 4 de outubro de 2006


NYT & VÔO DA GOL
Sérgio Duran


Repórter do ‘NYT’ causa revolta na web


‘A versão do jornalista americano Joe Sharkey para o maior acidente aéreo do Brasil, que matou 155 passageiros do vôo 1907 da Gol na sexta-feira, revoltou internautas brasileiros e americanos. Sharkey publicou uma crônica em seu blog e uma reportagem no jornal e no site do The New York Times. A tragédia é colocada em segundo plano, em detrimento do ‘susto’ que ele levou sobrevoando a ‘selva brasileira’.


Um dos mais respeitados jornais do mundo, o Times convidou os leitores a enviar histórias sobre ‘experiências assustadoras em vôos’, em seu portal na internet, logo abaixo do artigo de Sharkey.


Na primeira página do portal, além da reportagem, intitulada Colidindo Com a Morte a 37 mil pés, e Sobrevivendo, havia outro título a respeito da retenção do passaporte dos pilotos americanos do Legacy e nenhuma menção ao drama dos parentes das vítimas do vôo 1907.


Até as 17 horas de ontem, 137 mensagens de internautas haviam sido deixadas no fórum do Times – 42 das quais questionavam o artigo, a postura do jornalista e do jornal e a falta de informações sobre o que ocorreu dentro do jato Legacy antes da colisão. As demais contavam experiências sobre turbulências vividas em vôos comerciais.


Meia hora depois, o jornal retirou a reportagem e o fórum da primeira página do portal. Uma hora antes, o Estado solicitou entrevista com a porta-voz do Times, Diane McNulty. ‘Isso não teve a intenção de desviar a atenção da tragédia’, informou a resposta oficial do jornal, lida por McNulty, por telefone. ‘Esta é uma trágica perda de vidas e nossos pensamentos e sentimentos estão com todas as pessoas afetadas pela tragédia.’


DEPLORÁVEL


‘Que diabos o Legacy fazia a essa altitude?’, escreveu um internauta do Times que se identificou como O’Donahue. Outro participante do fórum, Paul Schlieben, levantou seis questionamentos a respeito do Legacy.


A maior parte das críticas é endereçada a Sharkey e ao jornal. ‘Isso é, para dizer o mínimo, deplorável. Eu realmente duvido que, se isso tivesse ocorrido em espaço aéreo americano, o The New York Times e seu jornalista estariam com uma cara divertida e um artigo em que internautas dividem suas experiências ‘assustadoras’, escreve Guilherme Martins. ‘Por que o sortudo jornalista não esperou um pouco mais para publicar sua reportagem?’, questionou Alexandre R.


No mesmo espaço, a mensagem de número 85, antecedida de vários ataques, é assinada pela filha dele, Caroline Sharkey, lamentando o destino do vôo 1907. ‘Não há palavras para descrever o sentimento por essa tragédia e não há dúvida de que os passageiros do Legacy sentem um misto de exultação por terem sobrevivido e devastação ao saberem do acidente com o Boeing 737-800’, escreveu Caroline.


ATÔNITO


No blog de Joe Sharkey, o artigo intitulado Atônito por Estar Vivo era seguido de 64 comentários até as 18 horas de ontem – praticamente todos de brasileiros, escritos em inglês, criticando o jornalista.


O principal questionamento dos internautas no blog foi sobre a preocupação de Sharkey, expressa no artigo, sobre o destino da tripulação do jato, os pilotos americanos Jan Paladino e Joe Lepore, que tiveram os passaportes retidos e podem ser obrigados a ficar no País até o fim da investigação.


Outros participantes criticaram o fato de o jornalista escrever que o jato foi atingido pelo Boeing, mesmo sabendo que foi o contrário.


COLABOROU GABRIELLA DORLHIAC’


ELEIÇÕES 2006
Dora Kramer


Eleitos serão trunfo de Lula


‘O presidente Luiz Inácio da Silva emprestou seu prestígio, e, em alguns casos, até pagou o preço da perda de espaço na propaganda gratuita para aparecer no horário de candidatos a governador e ajudá-los a ganhar a eleição e agora terá a retribuição.


Na reunião de hoje de manhã com governadores aliados eleitos no primeiro turno, Lula distribuirá tarefas a cada um deles, cuja função primeira será a de percorrer o País, compartilhando com o presidente candidato à reeleição o simbolismo de suas vitórias.


O mais precioso desses troféus, o homem que derrotou de virada Antonio Carlos Magalhães, o autoproclamado rei da Bahia e o opositor mais agressivo do presidente da República, Jaques Wagner, é apontado como substituto de Marco Aurélio Garcia na coordenação-geral da campanha.


Ele nega e avisa que, se convidado, não aceitará. Isso ele dizia ontem depois de uma reunião pela manhã com o presidente no Palácio da Alvorada, antes de uma nova conversa à tarde e muito antes do encontro dos eleitos com Lula.


Essa reunião, aliás, inaugura oficialmente a renovação da parceria com o PMDB, pois lá devem estar também os vitoriosos do partido em primeiro turno.


Wagner acha que pode contribuir mais na rua, em busca de votos – ‘Fazendo discurso em São Paulo, por exemplo’ -, do que fechado num gabinete de coordenador em Brasília, dando ordens e administrando problemas.


Além do trunfo da mais vistosa vitória petista da temporada, Jaques Wagner integra o grupo dos petistas não contaminados pelos escândalos, como também fazem parte dele os governadores eleitos de Sergipe, Acre e Piauí.


Como Lula precisa abrir espaço de atuação em campo moralmente desinfetado e também necessita readquirir terreno no tocante à expectativa de vitória, os governadores já vitoriosos funcionam como cabos eleitorais de primeira grandeza e ainda podem retribuir a ajuda recebida no primeiro turno.


Ainda que não assuma mesmo o posto de coordenador, Jaques Wagner estará entre os conselheiros mais próximos do presidente na campanha do segundo turno.


Ele é contra ‘pirotecnias’ de qualquer natureza, acha que Lula deve tocar a campanha como vinha fazendo até então, mas baixando um pouco o tom. ‘Humildade nunca é demais’, diz Wagner.


Não vê espaço para grandes invenções para ganhar votos, além do que já vinha sendo feito: reforço na agenda positiva, de realizações do governo, e empenho na comparação com o antecessor para atingir Geraldo Alckmin.


Mas, e os efeitos do dossiê?


Jaques Wagner aposta que vão se enfraquecer. Tem até uma frase pronta para demonstrar menosprezo aos prejuízos do escândalo: ‘É mais do mesmo.’


Por via das dúvidas, não deixa o curso dos acontecimentos nas mãos do acaso e trata de atacar o adversário: ‘O eleitor vai perceber que não serão o PSDB e o PFL que darão aulas de pós-graduação em moralidade.’


O problema talvez resida no fato de o eleitor ter acreditado que o PT, então, assumiria na matéria o papel de professor e não o do aluno transgressor.


A musa


A mulher de Jaques Wagner, Maria de Fátima de Mendonça, tem todo o instrumental para assumir em breve o posto de musa da estação.


Bonita, falante, politicamente atuante, dividiu com o marido o palanque, apareceu três vezes no horário eleitoral e recebeu de Lula o reconhecimento por uma parte da vitória baiana.


Amiga quase irmã do presidente – foi também chegada a Leonel Brizola ( ‘tio Briza’ ) -, vira onça quando se fala mal dele. É louca por sapatos (ontem os calçava vermelhos de verniz, em modelo meia bota), tem predileção por observar em detalhes os trajes das noivas em casamentos e, não sendo educado qualificá-la como ciumenta, digamos que cerca de acentuado zelo o companheiro.


É personagem emergente desta eleição.


Pé atrás


O candidato Geraldo Alckmin gostou, é claro, de ter recebido apoio de Anthony Garotinho e de sua mulher, Rosângela Matheus, governadora do Rio de Janeiro.


Mas não recebeu sem alguma preocupação.


Assessores de campanha fizeram discretas sondagens para saber como seria a repercussão do anúncio. Acabaram concluindo que vale mais a máxima segundo a qual apoio não se recusa e avaliaram que se Lula não pagou preço pelo apreço manifestado por Fernando Collor, Alckmin também não pagaria pela simpatia da família Garotinho.


Além do mais, o tucano precisa de votos no Estado do Rio, pois a candidata ao governo Denise Frossard teve bom desempenho, mas faz sucesso basicamente na capital.


Armadilha


Corre no PT a versão de que o dossiê Vedoin foi uma armadilha montada pelo Ministério Público de Mato Grosso. O partido só não investe na história porque, se arapuca foi, seus ‘aloprados’ caíram nela, tornando-se cúmplices.’


LIBERDADE DE IMPRENSA
O Estado de S. Paulo


Dominicano é o novo presidente da SIP


‘O jornalista dominicano Rafael Molina, diretor do jornal El Día, foi eleito ontem presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), na 62.ª Assembléia Geral da instituição, na Cidade do México. Foram escolhidos também o 1º vice-presidente da instituição, o americano Earl Maucker (Sun Sentinel), e o 2º vice, Enrique Santos (El Tiempo, de Bogotá). EFE’


PUBLICIDADE
Andrea Vialli


Boas causas ajudam imagem das empresas


‘Quem passa pela Marginal do rio Tietê, em São Paulo, dificilmente deixa de notar um outdoor de 45 metros que alerta sobre o tráfico de animais silvestres nas estradas brasileiras. Não se trata de uma campanha governamental: o outdoor em questão faz parte da estratégia de comunicação de uma empresa de ônibus, a Itapemirim, em associação com uma ONG ligada à causa, a Renctas.


No final do ano passado, uma campanha nacional na televisão e nas principais revistas mostrava os benefícios para o consumidor e para o meio ambiente do uso de refil de produtos cosméticos: são mais baratos e poluem menos. A campanha da Natura foi a primeira no País a mostrar como uma decisão de compra pode ajudar a diminuir a produção de lixo.


Tanto a Itapemirim quanto a Natura puseram em prática uma ferramenta de comunicação que governos e ONGs já vêm utilizando, e que começa a se disseminar pelas empresas: a comunicação de interesse público. Nessa estratégia, as empresas usam a mídia para comunicar sobre uma causa, antes mesmo de anunciarem sua marca ou seus produtos.


A ferramenta ainda é embrionária entre as empresas brasileiras, mas já é bastante conhecida nos Estados Unidos. ‘Lá, mais de 30% do volume de comunicação já tem esse viés’, explica o publicitário João Roberto Vieira da Costa, da agência Nova S/B, que acaba de lançar um livro sobre o tema.


Segundo ele, empresas de petróleo como a Chevron e a British Petroleum (BP) e montadoras como a Toyota têm usado o recurso para falar de questões ligadas a mudanças climáticas, um dos temas do momento. ‘É um tipo de comunicação que não visa simplesmente vender um produto. Ela fala para o cidadão, não apenas para o consumidor ou acionista’, diz.


O Grupo Itapemirim resolveu investir na campanha contra o tráfico de animais após detectar o problema em suas operações. ‘Tivemos várias ocorrências de pessoas que tentaram transportar animais dentro de malas. Vimos que uma das saídas para o problema poderia ser a conscientização dos funcionários e passageiros’, explica Erika Facca, gerente de projetos do Grupo Itapemirim.


A partir da parceria com a ONG Renctas, a empresa traçou um plano de comunicação que inclui, além de outdoors, alertas sobre o tráfico de animais em sua revista de bordo e nos pontos-de-vendas de passagens. Os informes dão ainda o caminho para se denunciar os traficantes de animais. ‘A campanha tem sido decisiva para que a empresa não seja vista como cúmplice desse tipo de crime ambiental.’


Segundo Costa, a ferramenta traz ganhos para a imagem das empresas, mas precisa ser acompanhada de coerência. ‘Não basta reformular a publicidade se a empresa não tiver uma mudança de atitude.’’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Vem aí Ídolos 2


‘O SBT já deu início à produção da segunda edição do programa Ídolos, versão brasileira do sucesso internacional American Idol. A emissora acaba de abrir as inscrições para a segunda temporada do programa, que deve estrear em março.


Cedo demais para se inscrever? Não. É que a atração realiza audições com milhares de candidatos em vários Estados, por isso a antecipação. É justamente essa fase da seleção, onde aparecem os candidatos mais absurdos, que será melhor explorada na nova edição.


A idéia é dar um espaço maior para essas eliminatórias que rendem boas risadas. As seleções ocorrerão em Salvador, Belém, Florianópolis, Campinas, além de São Paulo e Rio.


A primeira versão de Ídolos alcançou boa audiência – a atração chegou a registrar 18 pontos de média – mas ainda não rendeu frutos ao seu vencedor, Leandro Lopes.


O jovem, que acaba de lançar um CD pela Sony/BMG, Por Você, não virou ídolo do dia para noite, como foi com Kelly Clarkson, vencedora da versão americana.


Os interessados em participar da atração devem acessar o site www.idolosnosbt.com.br .


O crime, 70 anos depois


Passados quase 70 anos, o mistério do crime no Castelinho da Rua Apas permanece e será reconstituído pelo Linha Direta Justiça do dia 19. É o caso de três pessoas da aristocracia paulistana que foram assassinadas em 1937 misteriosamente.


entre- linhas


Bicho do Mato, da Record, obteve na segunda-feira uma de suas melhores audiências desde sua estréia. A novela registrou 15 pontos de ibope, diante dos 8 pontos do SBT, terceiro lugar no horário. Há tempos o folhetim não alcançava essa marca.


O Sexy Hot premiará o curta-metragem mais picante do 1º Festival Internacional de Animação Erótica do Rio (FiaeRio). O vencedor será exibido no canal pago na sexta e sábado, às 23h20.


O lançamento da série Heroes nos Estados Unidos, no dia 25 de setembro, fez a rede americana NBC alcançar sua melhor audiência em estréia dos últimos cinco anos – 14 milhões de pessoas assistiram ao episódio. Heroes estreará no Brasil em 2007, no Universal Channel.


A TV Cultura colocará no ar, de 9 a 15 deste mês, a Semana da Criança, que trará, além de filmes, teleteatros e novos desenhos infantis, pautas sobre criança em seus programas para o público adulto como o Vitrine, o Entrelinhas e o Metrópolis. No dia 12, a emissora vai veicular vinhetas com personalidades como Ruth Rocha, Renato Aragão e Tatiana Belinky.


Zeca Camargo lança hoje o livro De A-Ha a U2, no Sesc Paulista, às 19h30.


Chegam ao fim na próxima semana no SBT as gravações de Cristal. A emissora não tem planos de produzir outra novela da parceria com a Televisa ainda este ano.’


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 4 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Ney Figueiredo


As pesquisas eleitorais erram?


‘EXISTE UMA relação de amor e ódio entre os políticos e as pesquisas de opinião. Festejadas em algumas ocasiões e excomungadas em outras, não conheço um só político que, ao longo da vida, não tenha se sentido prejudicado por elas.


Em 85, ao ser derrotado por Jânio Quadros na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique, desolado, declarou à imprensa: ‘Não é possível que todas as pesquisas estivessem erradas’.


Mais ou menos na mesma linha foi a recente declaração de Guilherme Afif (PFL) após a apuração, quando teve quase o dobro dos votos apontados pelas pesquisas sobre a corrida para o Senado por São Paulo e perdeu por pouco para Eduardo Suplicy (PT): ‘Minha votação só surpreendeu os institutos de pesquisa’, disse ele.


E os equívocos se sucederam. Na Bahia, segundo os institutos, era remota a possibilidade de haver segundo turno. Estaria assegurada a vitória de Paulo Souto (PFL). Não foi o que aconteceu: Jaques Wagner (PT) levou, e o fez já no primeiro turno.


Embora o número de acertos dos institutos tenha sido em maior proporção, houve ainda tropeços no Rio Grande do Sul, em Goiás e no Rio de Janeiro, onde Jandira Feghali (PCdoB) dormiu senadora e acordou com a notícia de que a vaga era de Francisco Dornelles (PP), que, no dia anterior, estava 12 pontos atrás. Entre os gaúchos, o governador Germano Rigotto (PMDB), primeiro nos levantamentos durante toda a campanha, nem foi para o segundo turno.


Para explicar por que essas coisas acontecem, é necessário examinar minuciosamente a natureza das pesquisas de opinião pública.


Preliminarmente, é preciso esclarecer que se trata de uma técnica que explora o mundo social, descobrindo como ele funciona e revelando as conexões causais. Pessoas que lêem bola de cristal, jogam tarô ou põem cartas muitas vezes fazem predições acertadas, mas não conseguem fornecer razões para os prognósticos nem estabelecer relação de causa e efeito. É um trabalho secreto: só elas têm acesso aos mistérios dos seus vaticínios.


Isso não ocorre com as pesquisas. As causas do comportamento social são perfeitamente mensuráveis. Já em 1833, Gabriel Tarde publicou artigo em que apresentava de forma consistente a idéia de avaliação da política de massas que o levaria a propor, depois, os primeiros elementos de métodos para aferir a opinião pública. Se os homens ainda vivessem em tribos separadas, não haveria como falar em pesquisa de opinião, pois esses grupos tenderiam a ter opiniões diferentes, baseados em sua cultura, sobre os mesmos fenômenos.


A partir do século 19, a sociedade tendeu a se homogeneizar. As cidades e as províncias passaram a se assemelhar, assim como os valores e as preferências. A rapidez dos transportes e a informação de massas desempenharam papel decisivo nesse processo.


Na década de 70, Marshall Mcluhan veio a confirmar toda essa tese com a idéia de que o mundo era uma aldeia global, o que, na época, chegou a causar um grande espanto. No inicio do século 21, Thomas Friedman foi além, afirmando e provando que, graças à internet, o ‘mundo era plano’. O cidadão dos tempos novos se orgulha de fazer uma livre escolha entre as proposições que lhe são feitas, mas, na verdade, a que aceita é aquela que responde melhor as suas necessidades, a seus desejos, que preexistem e resultam da sua cultura, de seus costumes e de seu passado.


O famoso escritor Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, dizia: ‘Enquanto um homem, individualmente, é um quebra-cabeça insolúvel, no conjunto, ele se torna uma certeza matemática. Você nunca pode prever o que um homem fará, mas você pode dizer com precisão o que, em média, um deles fará. Individualmente, eles variam, mas, em média, se mantêm constantes’. E é isso o que as pesquisas têm fartamente demonstrado.


O que as pessoas comumente chamam de ‘erro das pesquisas’ faz parte da natureza do processo. A pesquisa é um retrato do comportamento do eleitorado num determinado momento. Mas a sociedade não é estática. Fatos novos podem ocorrer, mudando a tendência dos eleitores. Por isso é que a pesquisa de boca-de-urna é a que apresenta menor nível de erros, pois capta o desejo do eleitor poucos minutos antes de ele votar.


Sendo seres humanos, outros fatores podem prejudicar a aferição correta. E é bom não esquecer da margem de erro, que indica o espaço em que o resultado pode variar. Erra quem pretende ver as pesquisas como uma projeção do futuro. Sua principal função não é antecipar resultados, mas antecipar uma tendência.


NEY FIGUEIREDO, 69, consultor político, é membro do Conselho Orientador do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor do livro ‘Diálogos com o Poder’.’


Marcos Nobre


A imagem do dinheiro


‘O SEGUNDO TURNO não servirá para ‘aprofundar as propostas’, ‘discutir o país’ ou qualquer outro desses clichês habituais. A campanha foi ruim e não vai melhorar.


Alckmin até agora não disse a que veio. E vai continuar assim, porque nada tem mesmo a dizer. Lula vai continuar na campanha plebiscitária de aprovação do seu governo. Não vai além disso.


É esse o sentido do instituto da reeleição. O que está em jogo é uma aprovação ou uma reprovação do governo em curso. O governo do candidato à reeleição estabelece a pauta de discussão. Quanto mais altos os níveis de aprovação do seu governo, maior a capacidade do candidato à reeleição de estabelecer a agenda da eleição.


Alckmin está obrigado a discutir o governo Lula. Mas não conseguiu dizer nada de relevante até agora. Quando muito, disse que faria exatamente as mesmas coisas só que melhor. Não colaborou para a qualificação do debate eleitoral.


Sua candidatura vive da rejeição a Lula e dos repetidos escândalos de banditismo político. De positivo, conta com o apoio envergonhado de lideranças tucanas e pefelistas. Não dá para ganhar eleição assim. Nem para melhorar nível de campanha.


Uma parte importante das decisões de voto de última hora foi simplesmente expressão da vontade de realização do segundo turno e não o resultado de um entusiasmo repentino com a candidatura Alckmin.


O que mais se ouve é que o segundo turno veio do dossiê, da ausência no debate e da imagem do dinheiro. Em 2002, também se disse que a imagem do dinheiro tinha causado a derrocada da candidatura presidencial de Roseana Sarney. Mas é difícil imaginar que a foto de um monte de maços de notas possa realmente ser decisiva.


Se há imagem que levou ao segundo turno foi a de um persistente descontrole da máquina petista. A possibilidade de que os esquemas mafiosos persistam e possam vir a ter influência num eventual segundo mandato foi decisiva aos rumos da votação de 1º de outubro. A tarefa de Lula nas próximas semanas é convencer o eleitorado de que o banditismo partidário será banido.


Mais que isso, Lula terá de convencer esse eleitorado que não o rejeita, mas lhe é ainda resistente de que seu próximo governo não se confundirá com o PT. Para isso, será obrigado a mostrar afinal qual arco de alianças pretende construir no segundo mandato. Vai ter de colocar na mesa as cartas que pretendia guardar na manga de uma vitória em primeiro turno. Essa vai ser a verdadeira novidade dessa nova etapa da campanha e, talvez, um ganho para o debate político.


Nenhuma candidatura conseguiu abalar o pilar da campanha à reeleição: o de que não haveria de fato opção melhor ao governo Lula. Alckmin depende do noticiário policial para manter viva sua candidatura. E imagens, mesmo de dinheiro, passam.


MARCOS NOBRE é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap’


Marcelo Coelho


O homem de gelo


‘TENTO REMEMORAR o que foi a campanha de Geraldo Alckmin até agora, e o que surge são imagens gastronômicas: perdi a conta das fotografias do candidato comendo pastel, tomando cafezinho, entrando num bandejão, experimentando não sei que famoso sanduíche de mortadela… Se lhe derem mariscos, ouriços, buchadas, não hesitará: apesar da aparência ascética, seu apetite é colossal.


Uma das primeiras cenas de sua campanha no horário político mostrava-o diante de uma mesa farta de casa interiorana, elogiando a comida de sua ama-seca. Ironizei, num texto que já faz parte do passado, a sem-gracice com que Alckmin tecia elogios à tal ‘dona Nhá’.


Ele cometia um deslize, a meu ver, classificando de ‘imbatível’ o arroz-com-feijão da cozinheira. Se havia uma coisa imbatível, naquele momento, era a candidatura Lula. Não houve analista político que não desdenhasse das chances de ‘Geraldo’.


Agora, o picolé de chuchu ameaça o governo do Fome Zero. Curioso que sejam raríssimas as fotos de Lula comendo alguma coisa. Os marqueteiros devem ter concluído que isso acentuava uma imagem excessivamente popular e proletária. O físico robusto do candidato do PT, a dignidade do cargo presidencial, o interesse em depurar, espiritualizar, sutilizar o que Lula possa ter de tosco aos olhos da classe média contribuíram para evitar a divulgação de imagens desse tipo. Com Alckmin, ocorre o contrário.


O nariz afilado, os gestos de médico, o sorriso eclesiástico, a silhueta esguia e a fala insossa do candidato impuseram à sua campanha a necessidade de uma espécie de vacina simbólica. Ele tinha de contaminar-se com as bactérias de todos os quibes de padaria, de todas as maioneses de comício, de todos os acarajés suspeitos que lhe aparecessem pela frente.


Uma candidatura que teve início num restaurante de alto luxo (quando os cardeais do PSDB, unânimes no desfrute de bons vinhos, todavia se desentenderam a respeito de Serra) aceitou bravamente esse entupimento de pastéis e mortadelas.


Alckmin pode até ser um picolé de chuchu, mas demonstrou um calmo e inabalável apetite pelo poder. Não disse nada até agora. Ao contrário de FHC, Bornhausen, Tasso Jereissati ou Artur Virgílio, soube manter a boca fechada, abrindo-a apenas nos balcões de lanchonete.


Toda fraqueza parece força, quando obtém os resultados desejados. Diante das forças de Napoleão, o comandante russo Kutuzoff decidiu não fazer nada. Um grande aliado, o general Inverno, determinou a derrota dos franceses em 1812. Como Kutuzoff, o gelado Alckmin teve a sorte, o acaso, a tropical incompetência dos Tabajaras a seu favor.


Sem mover um músculo, deixou o PT soçobrar na autoconfiança e na falta de autocrítica. Sem se mexer, vê agora os aliados que o desprezavam há meses enfileirar-se sob seu fleumático, discreto, talvez inexistente comando.


É estranho pensar num postulante à Presidência da República tão vago, tão avesso ao perfil de liderança que Aécio Neves e José Serra, para não falar de FHC e Bornhausen, possuem a seu modo. Um mínimo de vaidade, ou melhor, de brio, seria de esperar que corresse nas veias diluídas e transparentes de Geraldo. Tudo vira maquiavelismo, entretanto, quando as coisas dão certo.


No caso de Alckmin, até a anemia ganha portanto explicação. De um lado, ele se apresenta como um tucano suavíssimo, incapaz de incorrer no alarido histérico de seus correligionários. Ganha respeito do eleitor, porque foi o único oposicionista a não entrar em desespero; foi o anti-Heloísa Helena nesse aspecto. De outro lado, não foi exatamente o anti-Lula que a oposição esperava que ele fosse. Contra um Fome-Zero pronto a fazer alianças à direita, ele foi o zero à esquerda, pronto a encarnar (por W.O.) o Estado liberal dos sonhos direitistas: invisível, cauteloso, mas nada cego diante dos próprios interesses. Agiu como quem já está no poder.


A direita pefelista viveu dias de delírio revolucionário. Alckmin, não: mostrou-se um verdadeiro conservador. Dedicou-se a manter o que já havia conquistado, a saber, a candidatura. O resto viria naturalmente, como lucro, do mesmo modo que um investidor não muda sem esta nem aquela suas posições em carteira. Suas ações subiram a passo lento e seguro.


Neófito no mercado, Lula apostou alto, apostou a própria alma, pactuou com o Diabo; terá de temer um jesuíta. Frio, cercado do incenso dos turíbulos, sorriso fixo, Alckmin avança, crucifixo em punho, ao encontro do Grande Pecador.’


NOVA COLUNISTA
Folha de S. Paulo


Maria Sylvia estréia amanhã como colunista


‘A filósofa Maria Sylvia Carvalho Franco, autora do clássico ‘Homens Livres na Ordem Escravocrata’, estréia amanhã como colunista da Folha na pág. A2 (Opinião). Ela substituirá Demétrio Magnoli como titular da coluna às quintas-feiras.


Maria Sylvia formou-se em ciências sociais pela USP em 1952 (na mesma turma de Fernando Henrique Cardoso) e doutorou-se em 1964, sob a orientação de Florestan Fernandes, com a tese ‘Homens Livres na Velha Civilização do Café’ -um estudo sobre os homens livres e pobres na sociedade escravocrata. Publicada em 1969 com o nome ‘Homens Livres na Ordem Escravocrata’, a tese foi considerada em 1999, por um júri de intelectuais, um dos vinte ensaios de não-ficção mais significativos da história do país.


Após a defesa, Maria Sylvia se transferiu para o Departamento de Filosofia, tendo dirigido a instituição nos anos mais repressivos da ditadura. Tornou-se livre-docente em 1970, adjunta em 1976 e titular em 1989, sempre por concurso. Aposentada na USP, foi para o Departamento de Filosofia da Unicamp, do qual se tornou professora titular, por concurso, em 1999.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Eu vou morrer’


‘Ao longo do dia, o texto ‘mais popular’ no site do ‘New York Times’ foi ‘Colidir com a morte a 37 mil pés, e viver’, o relato do jornalista Joe Sharkey sobre a viagem no Legacy que se chocou com o Boeing na Amazônia (leia a tradução no caderno ‘Cotidiano’). No site, também relatou em vídeo, abrindo assim:


– Pela primeira vez na minha vida eu pensei, ‘Ok, é agora, eu vou morrer’.


No original, ‘this is it, I’m gonna die’. Depois:


– Tudo estava calmo, nenhuma indicação de que existia qualquer problema, e subitamente, ‘boom’… Começamos, pelo menos eu escrevi algumas cartas ou notas para nossas mulheres ou crianças, às pressas, não tínhamos muito tempo, dobramos e pusemos nas bolsas, pensando, ‘se ocorrer o pior, talvez achem’… Vi os pilotos se esforçando fisicamente… Finalmente o avião parou. Nós estávamos trêmulos, mas vivos.


Joe Sharkey, do ‘NYT’, descreve na home do jornal o episódio, desde antes do choque até ser informado da queda do Boeing


ATÉ O DEBATE


A Globo enviou à tarde um e-mail anunciando que a ‘propaganda para o segundo turno começa dia 7’, sábado. No TSE, nas duas campanhas, outras emissoras, nada. Mais um tempo e outro e-mail deu o anterior por ‘sem efeito’.


Assim, até segunda ordem, a campanha reabre domingo com o debate na Band, com Franklin Martins e outros.


(Para registro, a campanha foi parar no fim da escalada do ‘Jornal Nacional’ -que mal notou o apoio de Garotinho a Alckmin, a notícia do dia.)


JEITO LIVRE


Helena Chagas, blogueira até meses atrás nas Globos, hoje no ‘SBT Brasil’, estreou seu novo blog ontem. Dela:


– Não disse que voltava? É bom estar de novo blogada… O tema é aquele, política, mas de um jeito livre, leve e solto. Apesar dos pesares, política não tem que ser algo árido.


Depois, ‘um lembrete’:


– Não divido o mundo em petistas e tucanos, em ricos e pobres. E me assusta o que vem acontecendo, as pessoas carimbadas de acordo com posições -que até nem tem.


No blog espanhol, o vídeo com o suposto furto, criado por uma agência de propaganda como ação de marketing de efeito viral


DA INTERNET À ESCALADA


O blog Blue Bus, em nota de internauta de Barcelona, relatou como a agência Tiempo BBDO ‘conseguiu mídia espontânea em todos os noticiários do espaço nobre’ com um suposto furto no parlamento. Em blogs, as imagens aparentemente amadoras mostram homens carregando a cadeira do primeiro-ministro Jose Luis Zapatero.


Entre outros, virou notícia no ‘El País’, entre as mais lidas do site, mas com a revelação de que foi tudo parte da mobilização para a campanha da ONU ‘contra a pobreza’.


SEXO EM QUEDA


O blog de mídia Ponto Media destaca artigo científico que analisa dados fornecidos por Google, Yahoo e outros, por solicitação da procuradoria americana, e conclui:


– Os resultados mostram que as buscas sobre sexo e pornografia vêm caindo proporcionalmente desde 97 e agora representam menos de 4% de todas as buscas.’


VENEZUELA
Folha de S. Paulo


Chávez viola ‘reiteradamente’ liberdade de imprensa, diz SIP


‘O governo da Venezuela, do presidente Hugo Chávez, viola de modo ‘reiterado’ o direito à liberdade de expressão, afirmou a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), em sua assembléia anual, realizada no México.


Segundo o informe da SIP, na Venezuela os jornalistas enfrentam situações ‘cada vez mais restritivas’, além de ‘ameaças e agressões por parte do governo’.


O informe cita Cuba, Colômbia e México (ao lado da Venezuela) como os países da América onde o exercício do jornalismo é mais perigoso e observa que, com a guerra ao terror declarada por Washington, os EUA tiveram ‘um grave retrocesso’ no último semestre em relação à liberdade de imprensa.


Também critica o presidente argentino, Néstor Kirchner, afirmando que, três anos após sua eleição, ele não se adaptou à independência da imprensa. Com agências internacionais’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Suassuna escreve final de livro para Globo


‘Obra-prima de Ariano Suassuna, a trama de ‘A Pedra do Reino’, livro lançado em 1971, finalmente terá um final. Apesar das quase 800 páginas, o original de ‘Romance D’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta’, que mistura tradição sertaneja nordestina com a Ibéria da Idade Média, deixa o final em aberto.


Segundo a TV Globo, Suassuna escreveu desfechos para personagens da obra, que está sendo adaptada para o formato de microssérie, a ser exibida de 12 a 16 de junho de 2007, quando o autor de ‘Auto da Compadecida’ completará 80 anos.


A conclusão de ‘A Pedra do Reino’ foi escrita à mão e entregue ao diretor Luiz Fernando Carvalho (‘Lavoura Arcaica’, ‘Hoje É Dia de Maria’), que a incorporou à microssérie.


Carvalho já está em Taperoá, sertão da Paraíba, ensaiando elenco local para as filmagens (em película) da microssérie, que começam no final do mês e só devem terminar no Natal.


A microssérie terá uma produção artesanal. Por exemplo, usará máscaras feitas por artistas plásticos nordestinos.


‘A Pedra do Reino’ será a primeira microssérie do projeto ‘Quadrante’, que irá adaptar obras literárias de autores de todas as regiões brasileiras. A idéia da Globo é exibir duas microsséries por ano, uma de um autor consagrado e outra de um jovem talento. A segunda deverá ser ‘Corpo Presente’, do carioca João Paulo Cuenca.


SAIA JUSTA 1 Filhos do presidente Lula, Fábio Luís e Sandro pediram à MTV convites para o Video Music Brasil (VMB), realizado na última quinta, mas não foram. Mandaram André Vaisman, diretor da Play TV.


SAIA JUSTA 2 A presença de Vaisman no VMB causou desconforto. A Play TV, da qual Fábio Luís é sócio, se declara concorrente da MTV. E Vaisman foi diretor da MTV, à qual costuma criticar em entrevistas.


NOVA SAFRA O galã Bruno Gagliasso será mesmo o protagonista de ‘Dom’, projeto de seriado que a Globo testa no final do ano. Zezé Polessa e Werner Schunemann serão seus pais e Luigi Barrichelli e Fernanda Paes Leme, seus irmãos.


VIDAS CRUZADAS 1 Barracos à vista nos capítulos da semana que vem de ‘Páginas da Vida’. Carmem (Natália do Valle) irá raptar o ex-marido, Bira (Eduardo Lago), e interná-lo em uma clínica de recuperação de alcoólatras.


VIDAS CRUZADAS 2 Bira, no entanto, irá fugir da clínica, invadirá o casarão em que Carmem mora e ficará observando a amada se despir. Enquanto isso, no mesmo casarão, Greg (José Mayer), atual marido de Carmem, será seduzido por Sandra (Danielle Winits). E irá para a cama com ela.


CALENDÁRIO A Record negocia com as assessorias de Lula e Geraldo Alckmin a realização de um debate no próximo dia 16. A Band fará o seu neste domingo e a Globo, no dia 27.’


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EUA vêem estréia de 3º ano de ‘Lost’


‘A terceira temporada da série-sensação ‘Lost’ faz sua estréia na rede norte-americana ABC hoje à noite. O episódio se chama ‘A Tale of Two Cities’ (Um Conto de Duas Cidades) e mostra o que acontece no acampamento dos sobreviventes do desastre aéreo, após a explosão da escotilha. O primeiro episódio com a participação de Rodrigo Santoro deve ir ao ar daqui a duas semanas. Não há previsão de estréia da nova safra no Brasil.’


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