Box da matéria ‘Procurador determina escolta para promotor e acredita em represália’, publicada no ValeParaibano (7/4/04, pág. 7), de São José dos Campos (SP), importante diário regional do interior de São Paulo, demonstra como a pressa na edição – e a vontade de comprovar uma tese a todo custo – compromete a qualidade da informação. O que, a propósito, não é novidade alguma. No caso, porém, ainda que em matéria pequena e subalterna, tem-se uma das piores conseqüências do jornalismo desatento: o título esbofeteia o fato noticiado.
O texto principal informa das suspeitas do Ministério Público de que um promotor de Santa Branca, cidade próxima a São José dos Campos, teria sido vítima de uma tentativa de atentado em razão das investigações que leva a cabo em sua comarca. Até aí tudo bem. O diabo é que o texto do box, cujo título ‘Suspeito é preso e reconhecido’ dá idéia de que o jornal traria uma informação quente sobre o assunto, traz em si próprio a negação do que enuncia.
O texto, em parcas 34 linhas de coluna (11,5 cm), informa (ou ‘informa’) no lide que a polícia de Jacareí prendeu um suspeito de ter participado do atentado contra o promotor; mais adiante, que os peritos coletaram ‘cerca de 20 impressões digitais diferentes’ no carro usado pelos criminosos na ação; e, para fechar com glória, o seguinte parágrafo:
‘Como Mota [o tal suspeito] não foi identificado com absoluta certeza pelo promotor, as suas impressões digitais serão comparadas às coletadas no veículo. O laudo deve ficar pronto em uma semana’.
De verdade verdadeira no titulinho de 3 linhas por 11 toques (‘Suspeito é/ preso e/ reconhecido’), apenas o fato de que um rapaz de 24 anos fora preso. Mas, reconhecido por quem, cara-pálida?
Na mesma medida do título publicado caberia muito bem um outro: ‘Suspeito/ preso não é/ reconhecido’. Assim, pelo menos, o jornal não faria as vezes de juiz – um papel que não lhe cabe, aliás.