Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TV despreza a tradição nos gramados

O torcedor, por mais racional que pretenda ser, é sempre intransigente e exigente. O leitor, portanto, deve dar um desconto a este protesto. Mas como fiel torcedor do América Futebol Clube do Rio Janeiro há mais de 60 anos, este Observador achava-se no direito de assistir ao vivo – mesmo sendo morador de São Paulo – à decisão da Taça Guanabara contra o Botafogo. Que o jornal O Globo, na primeira página da sua edição dominical (12/2), designou como a volta dos anos de ouro do futebol carioca.


Há 39 anos que os dois times centenários não disputam um título. A última vez foi em 1967. O Botafogo não é campeão há sete anos, o América há 24. Um dos ingredientes essenciais do futebol é o componente histórico, sem ele o placar fica pífio.


Poupado da derrota


A Globo do Rio transmitiu a partida apenas para o público local, a emissora paulista ocupou-se com o enfrentamento do São Paulo e Portuguesa Santista, assim também a concorrente. As TVs por assinatura especializadas em esportes estavam preocupadas com o campeonato francês, Olimpíadas de Inverno e uma competição de tênis.


Culpa do Rio ou insensibilidade da mídia eletrônica sediada em São Paulo para atender a seus compromissos nacionais?


Que país é esse onde não há mais lugar para uma decisão estadual? O futebol, cuja força advém da sua origem eminentemente bairrista, só pode ser acompanhado na televisão quando tem importância nacional ou internacional? Será que a TV digital conseguirá quebrar esta perigosa homogeneização?


Dirá o leitor que graças à injusta programação esportiva da nossa TV este Observador foi poupado de assistir a vitória ‘de virada’ do Botafogo por 3 a 1. Pode ser. Mas o torcedor paulista-paulistano que gosta mesmo de futebol vibraria mais ao reencontrar os anos de ouro do futebol carioca do que do que com o nada surpreendente 5 a 0 do São Paulo sobre a Portuguesa Santista.