Preciosa informação dada no jornal Valor de quinta-feira (8/12): caso fossem criados, os estados de Carajás e Tapajós teriam controle restrito de seus territórios, porque 70% deles estão sob administração da União: reservas indígenas, áreas de proteção ambiental, áreas militares. E diz a reportagem, na qual foi ouvido um professor da Universidade Federal do Pará: “Com uma área reduzida e a expansão da agropecuária, a tendência é que as novas unidades federativas registrem o aumento da devastação em seus territórios.”
E ninguém tinha falado nisso até agora…
Uma das “retrancas” (jargão jornalístico) da matéria desdiz o que está escrito na imediatamente anterior. Último parágrafo da matéria principal: “Mesmo se a maioria da população paraense votar a favor da divisão do Pará, a proposta ainda terá de ser aprovada pelo Congresso e sancionada pela presidente Dilma Rousseff.” Início da “retranca” seguinte: “A criação de Carajás e Tapajós, mesmo se aprovada pela população paraense” etc.
Plebiscito, uma etapa
É um erro frequente na mídia: a decisão sobre a divisão não se encerra com o plebiscito. Se a maioria for (fosse) a favor da divisão, isso ainda teria que se transformar em proposta da Assembleia Legislativa do Pará remetida ao Congresso Nacional, e sujeita, em última instância, a veto presidencial.
O mais importante nessa movimentação foi chamar a atenção para os problemas de um estado em que, como no resto do território brasileiro, mas em escala mais acentuada, ilhas de riqueza, modernidade, produtividade convivem com atraso e miséria. Infelizmente, é só uma onda que passará rapidamente, sem nem mesmo ter ido muito longe, como se constatou no programa de TV do Observatório da Imprensa (6/12) sobre o tema.
Leitor corrige
P.S. – Marco Aurelio Gondim corrigiu informações erradas dadas por mim no texto “Razões do separatismo”. São informações relativas a Mato Grosso do Sul, estado em relação ao qual o raciocínio por mim exposto não se aplica.
A saber:
“A divisão do MT ocorreu em 1977 por meio da lei complementar n° 31 sancionada pelo presidente Geisel. Na década de 70, o sul do MT, atual MS, ainda era a fronteira agrícola brasileira e estava em pleno desenvolvimento. Além desse processo em andamento, a proximidade geográfica com SP sempre havia ajudado a economia do MS em relação ao escoamento da produção e afastava politicamente a região da administração central. Ao contrário do que afirma o texto do jornalista, houve resistência dos políticos de Cuiabá quanto à divisão do Estado, pois diziam eles que isso diminuiria a arrecadação e criaria dois estados pobres. Posteriormente, o desenvolvimento do MS foi superado pelo do MT em função do deslocamento da fronteira agrícola para o norte, na área de transição entre o Cerrado e a Amazônia. Ainda assim, a Pnad tem verificado que o MS tem a melhor renda entre os estados do Centro-Oeste e um dos melhores níveis de emprego e renda do país, apesar das desigualdades sociais que persistem no estado.”