O Globo não percebeu, ou preferiu não ver, que um dos políticos sentados atrás da presidente Dilma Rousseff no evento de abertura da Rio + 20, na sexta-feira (15/6) era o deputado estadual Paulo Melo (PMDB-RJ), personagem de importante série de reportagens publicadas no jornal sob o título “Os homens de bens da Assembleia Legislativa”.
A reportagem, ganhadora do Prêmio Esso de 2004, foi obra dos jornalistas Angelina Nunes, Alan Gripp, Carla Rocha, Dimmi Amora, Flávio Pessoa, Luiz Ernesto Magalhães e Maiá Menezes. Eles usaram o direito de consultar informações de natureza pública: declarações de bens exigidas pelo Tribunal Regional Eleitoral entre 1996 e 2001.
O estudo dos dados de 113 deputados estaduais mostrou que 70 haviam aumentado seu patrimônio. Desses, 27 tinham ampliado seus bens em mais de 100%. Um deles era Paulo Melo, alvo, como os demais, de investigações do Ministério Público e da Receita Federal.
Melo, não obstante, se reelegeu duas vezes desde então e chegou à presidência da Alerj. Foi nessa condição que o deputado compareceu ao evento com Dilma, ao lado do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Confira neste vídeo do Jornal Nacional. Orgulhosamente, Paulo Melo publicou fotos do evento em seu site, onde ele também aparece abraçado ao ex-presidente Lula.
Uma atualização do patrimônio imobiliário de Paulo Melo é apresentada, em modo sensacionalista, no blogue do hoje deputado federal Antony Garotinho.
André Luís, Loterj, Cachoeira
Outro deputado com muitos bens dá à reportagem de 2004 grande atualidade: André Luís (Lopes da Silva), eleito em 2002 deputado federal, cassado em maio de 2005. André Luís havia sido segurança do capo dos bicheiros fluminenses, Castor de Andrade.
O Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (que pode ser consultado aqui) resume:
“Em outubro de 2004, a revista Veja publicou gravações em que André Luís pedia quatro milhões de reais ao publicitário Alexandre Chaves, sócio de Carlinhos Cachoeira, para o pagamento de 40 deputados estaduais do Rio com o objetivo de retirar o nome de Cachoeira da lista de indiciados no relatório da CPI da Loterj. [O verbete recapitula o episódio Waldomiro Diniz-Carlinhos Cachoeira; no governo de Anthony Garotinho e Benedita da Silva (1999-2002), Diniz fora presidente da Loterj.]
“Após as denúncias publicadas pela imprensa, a Corregedoria da Câmara abriu um processo de investigação contra ele. Ainda em outubro, a investigação da Casa solicitou um laudo ao perito Ricardo Molina, da Universidade de Campinas (Unicamp), que confirmou a autenticidade de sua voz nas gravações com as supostas tentativas de extorsão. Em novas gravações divulgadas pelo programa Fantástico, da Rede Globo, confessou o assassinato de oito pessoas. Trechos dessas gravações foram publicados na revista Veja.”
Critica-se, com razão, o esquecimento midiático de que se beneficiou Cachoeira nesses anos todos. Mas ele não foi o único personagem cujas façanhas ficaram – e continuam − longe das luzes da imprensa.