Os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo deixaram de lado as divergências, que não são poucas, e a concorrência, que é muita, e reclamaram dos critérios da mais tradicional premiação do jornalismo brasileiro, o Prêmio Esso. Os leitores dos dois jornais paulistas ficaram sabendo da inusitada união de opostos na edição de terça-feira (14/12), quando os diários publicaram matérias com tamanhos e textos semelhantes, informando que os diretores de Redação do Estado, Sandro Vaia, e da Folha, Otavio Frias Filho, escreveram uma carta conjunta ao presidente da Esso Brasileira de Petróleo Ltda., Carlos Noack, e ao diretor da RP Consultoria de Comunicação, Ruy Portilho, responsáveis pelo Prêmio Esso de Jornalismo (leia no Entre Aspas a íntegra das matérias da Folha e do Estado).
Na carta, Vaia e Frias simplesmente desancam o Prêmio Esso. Escrevem os diretores, de acordo com a reprodução da correspondência publicada nos jornais:
"Com desalento, constatamos que o Prêmio Esso, considerado referência no jornalismo impresso brasileiro, tem passado ao largo de rico e oportuno debate. Sua estrutura conspira contra a análise do mérito jornalístico dos trabalhos. A composição do corpo de jurados não é representativa do mercado editorial e tende a favorecer determinados grupos de mídia. (…) Com a preocupação primeira de buscar a qualidade jornalística, a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo manifestam sua inconformidade com os atuais processos de funcionamento do prêmio e sugerem a discussão de mudanças substantivas."
A bem da verdade, os jornalões paulistas parecem estar cobertos de razão. Se tivessem lido este Observatório com atenção, já teriam reclamado há mais tempo. Em dezembro do ano passado (23/12), a respeito desse mesmo famoso Prêmio, Alberto Dines escrevia, :
"Jornalista deve ser premiado pelo veículo (por meio do destaque que confere ao seu trabalho), pelos leitores (por intermédio de cartas ou do aumento da circulação) e por seus pares (através da competição). Excelência não se compra. (…) Não está em discussão a qualidade dos trabalhos premiados nem a conduta dos jurados na recente premiação do Esso. Mas, novamente, em seguida ao anúncio dos escolhidos, surgem fundadas reclamações. (…) O imbróglio acontece no momento em que a pletora de prêmios de jornalismo começa a chamar a atenção do público, escancarando o que se esconde atrás do súbito interesse ou do desinteressado amor pela qualidade jornalística: a jogada promocional. Empresas ou entidades, com bons ou maus propósitos, com boa ou má-fama, descobriram que sai mais barato, baratíssimo, criar um prêmio de jornalismo com o seu nome no título do que comprar espaço nos veículos pela tabela de publicidade. Além da propaganda gratuita, o patrocinador do galardão ganha uma espécie de habeas-corpus prolongado. Isto não tem preço. Nenhum profissional ou veículo ousará criticar uma empresa ou entidade que se mostra tão generosa com a imprensa."
Não era a primeira vez que Dines apontava problemas com premiações. Em 2001 e 2002 ele mesmo já havia feito comentários sobre outros prêmios. No artigo do ano passado, anotou:
"Este Observatório há anos vem solitariamente chamando a atenção para a perigosa armadilha dos prêmios. Agora, quando os principais veículos do país mostram-se tão zelosos em matéria de credibilidade e lisura, a confusão entre prêmio e promoção nos remete novamente à esfera do conflito de interesses."
A manifestação do Estadão e Folha de preocupação com os critérios do Prêmio Esso merece aplauso. Resta saber se os jornais agiram pelas razões apontadas neste Observatório há tanto tempo ou se eles tiveram motivos mais particulares para reclamar da premiação. De toda maneira, chegaram atrasados.