Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Veirig, the Brazilian Airways

Tudo muito bom, tudo muito bem, a marca está preservada, a bandeira brasileira continuará a circular pelos ares do mundo, mas acontece que uma das principais questões não foi respondida: a Varig, depois de vendida, é ainda brasileira? Terá sido legal a venda da Varig a uma empresa que se presume estrangeira?

A lei brasileira não permite que empresas aéreas tenham mais de 20% de capital estrangeiro. A VarigLog, pelo que se sabe, é controlada majoritariamente pelo fundo americano Matlin Patterson, que por sua vez é controlado pelo empresário Lap Chan, nascido na China e naturalizado americano.

E que tem a imprensa a ver com isto? Tem que, embora a VarigLog fosse a candidata favorita à compra da Varig há um bom tempo, não houve reportagem sobre a origem de seu capital. Talvez haja, no Matlin Patterson, alguma injeção desconhecida de capital brasileiro; talvez Lap Chan tenha colocado no negócio empresas brasileiras de seu grupo, de maneira a manter a empresa dentro do que determina a lei. Uma boa reportagem poderia mostrar a composição do capital usado para salvar a Varig e acabar com essas insinuações maldosas – ou, confirmando-as, impedir um negócio que, neste caso, se terá tornado ilegal.

Enfim, estará o controle da Varig mantido no Brasil ou o ‘Brazilian Airlines’ pintado nos aviões será apenas uma fantasia? Será a Varig a Estrela Brasileira no Céu Azul ou é melhor chamá-la de The Brazilian Star in the Blue Skies?



Não é bem assim

A imprensa não tem avançado no assunto, mas o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (que engloba a Varig) parece atento. Se, a seu ver, houver irregularidades, pedirá à Justiça a anulação do negócio.



Feio não é bonito

Enquanto se comemorava o sucesso da compra da Varig, houve um festival de frases feitas que merece registro. Houve o tradicional ‘não se faz omelete sem quebrar os ovos’ e um clássico ‘Nem sempre o bom é ótimo’.

Lembra um dos grandes presidentes do Corinthians, Vicente Matheus: ‘O difícil não é fácil’.



Racismo pesado

O racismo, um dos crimes mais nojentos que existem, volta à tona: mais uma vez, a Afropress, Agência Afroétnica de Notícias sofreu ataques tão violentos de piratas de computador que teve de sair do ar.

A Afropress não ataca ninguém: procura dar visibilidade a temas étnicos, de valorização do negro. Isso irrita profundamente os racistas, que permanentemente atacam negros, judeus e nordestinos; e os incita a derrubar o site da agência.

Um dos acusados de atacar a Afropress, Marcelo Valle Silveira Mello, de Brasília, está sendo processado pela prática do crime de racismo. É pouco: é preciso ficar atento e aplicar a lei contra todos os que, movidos por preconceitos e ideologias nazi-fascistas, pretendem inferiorizar outros seres humanos.



O serviço e o desserviço

A imprensa está prestando um serviço ao país, ao divulgar o nome dos parlamentares acusados de participar da máfia dos sanguessugas. A imprensa está prestando um serviço ao país, ao lembrar o nome dos parlamentares acusados no caso do mensalão.

Mas a imprensa erra ao julgar coletivamente, igualando todos e considerando todos culpados, apenas por terem sido citados. No caso dos sanguessugas, é importante acompanhar a defesa de cada um dos parlamentares, lembrando que apresentar emendas na área da saúde é obrigação legal: 30% das emendas propostas por um parlamentar devem obrigatoriamente se vincular à saúde. É preciso verificar se a verba foi efetivamente liberada, e se a ambulância com ela adquirida foi mesmo superfaturada. Não se pode correr o risco de desacreditar publicamente um parlamentar que cumpriu sua obrigação e de cuja emenda não resultou dano aos cofres federais. Nem se pode correr o risco de deixar de informar quem ganhou o Mercedes, o ônibus, o dinheiro na conta do Exterior.

No caso dos mensaleiros, é preciso distinguir os que renunciaram para evitar o julgamento; os que foram julgados e absolvidos pelo plenário, mesmo que o Conselho de Ética tenha recomendado condenação; e os que foram absolvidos pelo Conselho de Ética e tiveram a absolvição confirmada pelo plenário. Igualar todos é um erro; e, acima de tudo, não é lógico. Como se pode condenar o plenário por não seguir a recomendação do Conselho de Ética, e também por segui-la?



Pagando por descuido

A imprensa andou cometendo alguns descuidos e isso está saindo caro. Levou anos, mas o pessoal da Escola Base, difamado pela imprensa a partir de informações de servidores públicos, está sendo indenizado. Eduardo Jorge, que a imprensa triturou a partir de denúncias, entrevistas, vazamentos e insinuações de servidores públicos, está também sendo indenizado.

Vale a pena ler, a esse respeito, o artigo ‘A conta da festa’, de Márcio Chaer e Pryscila Costa, publicado no ótimo portal Consultor Jurídico.



Quantos são?

Esta coluna procurou, no mesmo horário, portais diferentes que cobriam o velório de Raul Cortez. Um falava em 120 mil pessoas no velório; outro, em 10 mil. No dia seguinte, a imprensa escrita mantinha a divergência: para alguns jornais, 10 mil; para outros, 120 mil, dependendo da agência que assinem.

Este colunista não esteve no velório, nem teve oportunidade de vê-lo pela TV. Mas conhece o local, o Theatro Municipal de São Paulo. Dez mil pessoas está de bom tamanho. Cento e vinte mil só entram ali depois de moídos e prensados.

A discrepância das multidões, aliás, só confirma o mau relacionamento do jornalismo com os números. Na Avenida Paulista não cabem três milhões de pessoas, por exemplo. Mas o problema não é apenas brasileiro: este colunista leu em jornais europeus notícias sobre um comício no Uruguai no qual haveria três milhões de pessoas. No local, claro, não caberiam essas pessoas. E não poderíamos esperar que toda a população uruguaia, incluindo velhos, doentes e crianças, incluindo até os adversários, estivesse reunida num comício em Montevidéu. Aliás, o candidato que teria realizado esta façanha tirou o terceiro lugar nas eleições.



Além-túmulo

Pelo jeito, está na moda: no anúncio da Pepsi, os mortos deixam suas tumbas pedindo a uma moça bonita que dê. Ela não dá, eles se decompõem.

O outro é uma notícia amplamente divulgada, com o título ‘Farinelli sai da tumba para revelar segredos sobre castração’. Não, o lendário cantor não ressuscitou, ao contrário do que insinua o título; aliás, nem saiu da tumba por seus próprios meios. Como diz a notícia, Farinelli foi exumado, para estudos sobre os efeitos da castração em cantores de ópera (na época, séculos 17 e 18, era hábito castrar meninos de voz bonita para que, ao crescer, continuassem cantando com voz fina). Farinelli, ou Carlo Broschi, que atuou na primeira metade do século 18, foi o mais famoso dos castrati.



Direito penal mínimo

O advogado Aristides Junqueira, ex-procurador-geral da República, manda bilhete sobre a nota ‘Idéias, cadê as idéias’ [ver aqui e rolar a página], que sugere que as cadeias sejam destinadas exclusivamente a pessoas que coloquem a sociedade em risco físico.

Diz Aristides Junqueira: ‘Não posso deixar de aplaudir sua coragem em manifestar a idéia de que o cumprimento de pena privativa de liberdade há de ser destinado a criminosos que ofereçam risco físico à sociedade. A mentalidade reinante, entretanto, inclusive da imprensa, é de que a sanção penal se reduz à cadeia. Esquecem-se de que prisão não cura, corrompe. Parabéns!!!’



E eu com isso?

Este colunista está preocupado com as eleições presidenciais, com a mudança para um novo e mais amplo escritório, com a crise no Corinthians, e boa parte de nossa imprensa traz informações como essas:

1. Viviane Victorette curtiu a manhã desta sexta-feira em uma praia carioca.

2. Atriz Hilarie Burton desfila decote ousado em festa.

3. Namorada de latino exibe seios turbinados em show

A propósito, que show será esse que turbina seios?

4. Ex-BBB Grazi fotografa para campanha ao lado do namorado.

5. Em recuperação, Daniel lança novas doses do amor.

6. Lois Lane de ‘Smallville’ exibe decote em festa

Há uma notícia que merece ser destacada: uma informa que Malu Mader foi vista numa farmácia com visual ‘cotidiano’ – ou seja, sem maquiagem especial, nem penteados, nem roupa de sair.

Mas a melhor de todas, sem dúvida, é a das modelos voadoras. Um portal importante da internet informou, na legenda de uma foto em que uma modelo fotografa a outra, que ‘uma pousa para a outra’. E, mostrando que não houve apenas um erro de digitação, insiste: ‘Elas adoram pousar’.

Não seja cruel, caro colega: ‘pousar’ é ‘fazer pouse’.



O melhor título

O grande título da semana relembra um fato ocorrido há pouco na política brasileira, mas é bem mais pitoresca: ‘Homem é pego contrabandeando ovos raros na cueca’.

Como diria o Cid Moreira, não é fantástico?

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados