Diogo Mainardi não conseguiu celebrizar-se como encarnação tupiniquim de Gore Vidal. Exigiria muito talento, muito trabalho, anos de pesquisa. Sobretudo recolhimento e silêncio. Preferiu o caminho mais rápido e barulhento: afamar-se através da difamação. Queria a glória instantânea, holofotes, lantejoulas – optou pelo paradigma Matt Drudge, o pinico-escarradeira da imprensa americana.
Não foi casualidade, mas livre arbítrio. O rapaz sabe o que lhe convém.
Veja é que não tem o direito de achincalhar seus quase 40 anos de história incorporando com tanto gosto a depravação que Diogo Mainardi espalha em seus escritos. Os nomes que enfeitam o expediente da Veja não merecem entrar para a história associados a um dos episódios mais nauseantes do jornalismo brasileiro.
O carro-chefe da Editora Abril tem responsabilidades, compromissos com a sociedade. Uma de suas co-irmãs, Nova Escola, é distribuída pelo Ministério da Educação, concebida como ferramenta para a formação de cidadãos decentes e dignos.
Veja segue impávida na direção contrária: a brava resposta do jornalista Franklin Martins às patacoadas mainardianas não foi publicada, sequer em parte, na edição nº 1.953 (de 26/4/2006). A democrática Veja não admite contestações, é tão infalível como o Santo Ofício da Inquisição. Do convívio com a ditadura, os responsáveis pelo semanário não desenvolveram uma repugnância à arbitrariedade, ao contrário, assimilaram a arrogância e a prepotência.
Ganhou a parada
No lugar de respeitar o direito de resposta de quem foi ultrajado, Veja preferiu exibir o poder do arbítrio: publicou duas cartas de mainardis-mirins. Seus atentos editores nem perceberam a única frase verdadeira que Diogo Mainardi escreveu nos últimos dez anos:
‘Jornalistas não estão acostumados a prestar contas a ninguém’ (pág. 127, 6º parágrafo).
Ele, principalmente. Seus contratantes, mais do que ninguém.
De vilania em vilania, Veja transformou-se no exemplo de um voluntarismo tornado démodé até na máfia siciliana. Sua famosa ‘lista negra’ perenizou-se, atravessa gerações, transfere-se para outros veículos, caso clássico de fascismo que nossa imprensa – apesar das mazelas – não merece exibir.
Mainardi ganhou a parada: contaminou a revista Veja com o lado marrom da sua alma.