Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A agência de notícias Associated Press enfrenta uma crise de identidade que pode levá-la a um haraquiri corporativo

A agência de notícias Associated Press é mais um ícone da imprensa mundial que enfrenta uma traumática luta pela sobrevivência em meio à pior crise de sua história.


 


A AP, criada em 1846, e que chegou a ter quase sete mil clientes, com 243 escritórios em 121 países onde trabalhavam 4.100 jornalistas e funcionários, está hoje mergulhada num confronto financeiro e editorial com a maioria dos jornais que integram a cooperativa que mantém a agência desde sua fundação.


 


A crise começou em 2007,quando a direção da Associated Press anunciou um plano de reestruturação administrativa e um projeto de aumento dos preços, em 2009, dos serviços noticiosos fornecidos aos sócios da cooperativa e clientes externos.  Os jornais associados se revoltaram, principalmente os localizados em cidades médias e pequenas dos Estados Unidos.


 


A evasão de clientes agravou a crise financeira da AP mas a polêmica entre a direção da agência e seus sócios não se resume a cifrões. O problema é mais amplo, pois envolve opções estratégicas que podem determinar qual será o futuro da empresa.


 


A direção da AP acha que a agência só conseguirá sobreviver à crise do modelo de negócios das empresas jornalísticas provocada pela internet se assumir um caráter claramente global, ou seja, preocupar-se mais com as questões internacionais.


 


A estratégia está apoiada na convicção de que é impossível concorrer em matéria de custos e agilidade editorial com os milhões de weblogs que publicam notícias, com os serviços automáticos de noticias, como o Google News e com os portais informativos na Web. que usam material fornecido jornalistas autônomos e cidadãos informantes.


 


Já os sócios da cooperativa que mantém a AP querem que ela se concentre prioritariamente na produção de notícias nacionais e regionais para aliviar as exauridas finanças de jornais e emissoras de radio ou televisão instaladas fora dos grandes centros urbanos.


 


Até agora a Associated Press tinha lastro financeiro suficiente para atender tanto os grandes jornais mais preocupados com o noticiário internacional como os pequenos e médios, cuja vendagem depende basicamente da cobertura de questões domésticas e provinciais.


 


Mas o período de vacas magras iniciado na virada do século sugou, até agora, 30 milhões de dólares do orçamento da agência — que sobreviveu mais do que as suas concorrentes porque tem 27% de sua receita coberta pelo pagamento de serviços fornecidos a jornais e 17% de emissoras de rádio e TV nos Estados Unidos.


 


A briga entre a direção da AP e os sócios da cooperativa pode ter um desfecho radical, porque existe a possibilidade de a direção da agência fazer uma espécie de haraquiri corporativo, acabando com a cooperativa para ter mais autonomia econômica e estratégica.


 


Já os jornais que romperam com a cooperativa estão formando redes regionais para troca de notícias, fotos ,vídeos e programas radiofônicos, como aconteceu no estado de Ohio e pode ocorrer também na Flórida.


 

A experiência dos oito jornais regionais de Ohio está sendo acompanhada de perto por executivos e estudiosos da mídia, porque pode sinalizar uma alternativa para a veículos de pequeno e médio porte. Pode constituir-se também numa nova estratégia editorial, por meio da qual os jornais passam a colaborar entre si em vez de competir ferozmente.