O Estadão publica sobre o resultado (ou a falta de) das eleições na Alemanha um comentário do The Guardian, o Globo do The Independent. Na Folha, o comentário é do enviado especial, Márcio Senne de Morais. Em todos os jornais, o noticiário é dedicado ao factual, ou seja, a explicar o que aconteceu nas urnas e quais poderão ser as conseqüências.
Os três comentários são competentes. Mas o melhor texto saiu ontem na edição internacional da revista Der Spiegel (http://service.spiegel.de/cache/international/ ), sob o título ‘A própria Alemanha perde sua eleição’. Primeiro, relembra que praticamente todos os especialistas erraram ao prever o fim prematuro da carreira do social-democrata Gerard Schroeder, com uma vitória incontestável da conservadora Angela Merkel (como se previu erradamente a derrota do Partido do Congresso na Índia, em 2004). Depois, diz que a Alemanha ‘amanheceu na segunda-feira com dois chanceleres, nenhuma coalizão de governo e pouco no caminho de um plano que resolva a situação. Foi uma eleição sem vencedor. Pior ainda: não se sabe se a coalizão que vier a ser formada será capaz de governar. (….) A Alemanha está diante de uma coalizão dos perdedores. (….) Durante o verão, muitos se referiram às eleições como um momento decisivo no destino do país. Agora, parece que o país será dirigido pelo governo mais fraco da história do pós-guerra’. Na antiga Alemanha Oriental, apesar das colossais somas investidas dentro de um dos maiores programas de redução de desequilíbrios regionais de que se tem notícia, o desemprego é duas vezes maior do que na antiga Alemanha Ocidental.
A Europa preocupa. Inglaterra e Espanha foram castigadas por ataques terroristas. Na França, em 2002, Chirac virou a opção da maioria para barrar o fascistóide Le Pen. A Itália é governada pelo empresário de mídia Berlusconi. Um projeto de Constituição européia empacou em derrotas na França e na Holanda, e o pior é que, segundo os analistas, os eleitores tiveram boas razões para rejeitá-lo. Para complicar só um pouquinho mais, a União Européia terá de dizer à Turquia se aceita ou não sua candidatura a fazer parte da comunidade.