Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A caipirinha

 New York Times, Financial Times, Wall Street Journal, The Economist. A grande imprensa internacional adora elogiar o programa brasileiro do álcool. Já os jornais e revistas brasileiros são bem mais reticentes. Não é por menos. Usineiro por aqui nunca foi visto como sujeito de confiança. No Brasil Colônia, era escravocrata. Depois, passou a coronel e explorador de mão-de-obra. Jogava sujeira nos rios, mandava e desmandava.


            Até que um dia o Brasil descobriu as qualidades ambientais do álcool como combustível, principalmente no que diz respeito à qualidade do ar. Ao contrário da gasolina, o etanol não tem enxofre e, portanto, é bem menos poluente. Antes disso, o país já havia percebido, durante a crise do petróleo, que o álcool é uma excelente alternativa para substituir a gasolina. Mais ainda. Os usineiros descobriram também as vantagens de utilizar o vinhoto como fertilizante e o bagaço para a geração de energia. De um dia para outro, viraram, todos eles, “ecologistas de carteirinha’’.


            Brincadeira á parte, as usinas de uns anos para cá ganharam se modernizaram e ganharam eficiência. O álcool brasileiro faz mais sucesso lá fora do que aqui. E não é por causa da caipirinha. Basta ler as últimas colunas de Thomas Friedman  no New York Times, para ver o respeito que o mundo tem pelo programa brasileiros de bicombustíveis. Esta semana, Friedman, que visita o interior paulista, comentou a estupidez americana: “os EUA tributam o etanol, que poderia ajudar os amigos pobres, mas não o petróleo, que financia os inimigos ricos”. Friedman, porém, errou ao citar o valor da tarifa que os EUA impõem ao etanol brasileiro. Diz ele que é de US$ 0,14/litro, mas o correto é US$ 0,54/litro.


            Para o jornalista americano, o Brasil “precisa ser inteligente para pensar imediatamente sobre maneiras de expandir sua indústria de biocombustíveis à base de cana-de-açúcar sem prejudicar o ambiente.”


            Será que é possível? Os canaviais estão em franca expansão pelo Brasil afora, principalmente em São Paulo, onde roubam espaço da laranja e dos pastos. Até aí, tudo bem. Mesmo porquê não falta pasto degradado neste país, e nada como uma lavoura para melhorar a qualidade do solo. O problema é se a cana começar a invadir também áreas do Pantanal. Aí a coisa complica.