Em qual dessas manchetes deve o leitor acreditar?
”Marta lidera; Alckmin pára de cair” (Folha).
‘Alckmin cai mais e Kassab sobe em SP, aponta Ibope” (Estado).
As duas devem estar “certas”, ou seja, correspondem aos resultados da rodada de pesquisas eleitorais a que se referem (a noticiada pela Folha, como sempre, é a do Datafolha).
Mas, para o leitor, isso não faz diferença. Ele não tem como saber por que uma pesquisa deu uma coisa e a outra, praticamente nos mesmos dias e na mesma cidade, deu outra.
Ele não tem os meios – nem a obrigação – de saber por si só se a diferença entre os resultados se explica por eventuais diferenças de metodologia entre as pesquisas. Muito menos se, nessa hipótese, qual delas está mais “certa” – ou seja, qual identifica com mais precisão as tendências de voto do eleitorado em dado momento da campanha.
Os políticos têm lá os seus especialistas no assunto para lhes dizer, com razoável margem de segurança, por que as pesquisas divergem, quando divergem, e que importância efetiva tem isso.
Além do mais, os candidatos contam com os seus próprios esquemas para garimpar sistematicamente as inclinações do eleitorado, entre eles as pesquisas chamadas qualitativas, a que o pessoal do ramo vem dando importância cada vez maior.
Mas, perplexo diante do “Alckmin pára de cair” e do “Alckmin cai mais”, não se culpará o leitor se ele concluir que não deve confiar em pesquisas porque elas são todas manipuladas.
Não são, na esmagadora maioria dos casos, mas e daí?
Daí o seguinte. Não é de hoje que a mídia se tornou refém do pesquisismo – dando às sondagens, que ela própria encomenda, um peso enorme na cobertura das campanhas, em detrimento do jornalismo que não só informe o que os candidatos dizem e fazem, nem só aponte as falsidades de suas propagandas e promessas, mas também apure e explique as suas estratégias, para tornar o processo o mais transparente possível.
Já que é assim, os jornais não fariam nada além de seu dever se tratassem com a mesma frequência de familiarizar o leitor com as pesquisas: além de apresentar os números devidamente mastigados, indicar como os diversos institutos chegam a eles.
Isso é mais, muito mais do que informar burocraticamente as datas dos levantamentos, o número de pessoas ouvidas e a margem de erro dos resultados. É abrir até onde der o que o público decerto considera a caixa-preta das pesquisas eleitorais.
Mas se os diários sequer se dão o trabalho de explicar por que a margem de erro de uma sondagem é tal ou qual, que dirá traduzir a expressão técnica “intervalo de confiança” quando a utilizam, fará melhor quem prefira esperar sentado pelo dia em que o pesquisismo terá uma face humana – a do respeito pelo leitor.