Vejam como são as coisas. O Estadão acertou em cheio, transcrevendo hoje do Washington Post o artigo “Por que publiquei as charges”, de Flemming Rose, o editor de Cultura do jornal dinamarquês cuja decisão inflamou o mundo muçulmano.
Acertou em cheio porque o artigo é um prato de primeira para continuar a necessária discussão sobre liberdade de imprensa, responsabilidade da imprensa e sensibilidade da imprensa. [Mais sobre isso em outro texto que tentarei escrever ainda hoje].
Em compensação, o Estado errou feio ao reduzir a uma noteta de 11 linhas, com uma foteca, na seção vala-comum NoMundo, a condenação do historiador inglês David Irving a 3 anos de prisão por um tribunal austríaco por ter ele negado em livro, artigos, conferências e entrevistas, também na Áustria, que o Holocausto existiu. Em 10 países europeus, como a Áustria, isso é crime.
Já a Folha abriu a seção Mundo com o assunto, em duas matérias e uma fotona que ocupam mais de meia página. O jornal teve a sensibilidade de sacar que o julgamento de Irving ganhou importância extra por causa do furor causado pelas charges dinamarquesas. Uma coisa e outra envolvem o pantanoso problema dos limites à liberdade de expressão.
Problema brilhantemente abordado em um punhado de linhas pelo jornal britânico The Independent – que a Folha, em outra bola dentro, transcreveu no corpo de sua reportagem:
“O princípio da liberdade de expressão não pode se aplicar apenas àqueles com posições com as quais concordamos. Mas tampouco, como temos visto com as charges dinamarquesas, pode ser um escudo atrás do qual podem se esconder aqueles que, deliberadamente ou não, ofendem gratuitamente os outros.”
“Apesar disso todos deveriam ter o direito de crer no que quiserem e dizerem isso, até o ponto em que suas palavras não incitem o ódio, a violência ou o assassinato. Negar o Holocausto, por si só, não está nessa categoria, embora errado e repulsivo. [Trechos sublinhados por mim.]
Enquanto isso, o Globo nem tchuns para o momentoso caso.
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