Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Curadoria de notícias ganha espaço na grande imprensa

O grupo News Corporation implantará nas próximas semanas em seus principais jornais um aplicativo de curadoria de notícias, seguindo uma tendência em ascensão na Europa e nos Estados Unidos. Antes do grupo News, o Washington Post lançou o aplicativo Trove, na sua página online. O New York Times fez o mesmo no início do ano com o programa Now e mais recentemente foi a vez a revista digital BuzzFeed engrossar a tendência de sugerir artigos para seus leitores.

Os aplicativos de curadoria de notícias estão programados para sugerir leituras complementares de material publicado pelo próprio veículo como também de outras publicações. Isso cria uma importante alteração nas rotinas editoriais da imprensa convencional, onde as menções a reportagens e notícias publicadas em veículos concorrentes eram mais uma exceção do que uma regra.

A popularização da curadoria de notícias na grande imprensa mundial assinala também uma mudança de políticas editoriais inédita na imprensa. Usar concorrentes como referências de qualidade informativa deixa de ser considerado um sinal de fraqueza e reconhecimento da competência alheia.

A modéstia nunca foi uma virtude dos grandes grupos jornalísticos mundiais, mas quando a crise aperta é melhor sacrificar os anéis para não perder os dedos. A News Corporation, o Washington Post e o New York Times tentam recuperar o público jovem perdido para a internet onde ele encontra maior flexibilidade e diversidade de fontes noticiosas, o que cria uma sensação de autonomia informativa maior do que a transmitida pelos veículos convencionais.

Independentemente dos motivos que levam tantos jornais importantes a optar pela curadoria de notícias, o fato é que este é um avanço significativo na busca de um novo modelo de negócios para a imprensa. A imprensa é hoje um imenso laboratório de experiências em alternativas empresariais na transição para a era digital. Cada empresa tenta fórmulas próprias e já existe um consenso de que a estratégia global tem três componentes básicos:

1. Reconquistar a fidelidade dos leitores, especialmente os mais jovens, por meio da reformulação das políticas editoriais responsáveis pela produção de notícias;

2. Reduzir o custo financeiro das instalações e passivo trabalhista herdados da época em que a informação era escassa e que só entrava no ramo da imprensa quem tinha muito dinheiro;

2. Gerar novas receitas por meio da reformulação das estratégias publicitárias tradicionais, em que os anunciantes não tinham outra alternativa senão comprar espaços em jornais, revistas, rádios e emissoras de TV.

A curadoria de notícias é uma das experiências em curso no item 1, que trata da nova fidelização do público. Os executivos da imprensa sabem que ela não é uma tábua de salvação para todos os problemas financeiros do setor e as redações apresentam uma série de restrições à curadoria, porque ela implica a revisão de vários procedimentos editoriais consagrados em manuais de estilo.

A maioria dos profissionais do jornalismo ainda considera a curadoria e edição como sinônimos. Ambos os procedimentos têm muitas semelhanças e uma diferença fundamental. Na edição, o jornalista organiza informações inéditas e as formata num conjunto fechado para publicação na forma de texto, áudio ou imagem noticiosos. Já o curador de notícias seleciona um conjunto de conteúdos de referência e os transfere para um público-alvo definido na forma de recomendações abertas.

Ainda é impossível vislumbrar qual será o novo formato editorial dos jornais e revistas, impressos e online. Mas as experiências feitas até agora mostram que a curadoria é um dos componentes do mix de procedimentos editoriais a serem adotados na era digital. E sua grande virtude não está apenas na filtragem, seleção contextualização e distribuição das recomendações, mas na maior aproximação entre jornalistas e o público.

A curadoria de notícias tende a ser praticada preferencialmente na internet, onde há uma maior facilidade de personalização e customização das recomendações informativas. Além disso ela pode atender segmentos mais específicos e localizados de interesses por parte de leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Isso tende a transformar os jornalistas em referências obrigatórias para comunidades com preocupações particulares. E muitos acreditam que este pode ser o caminho para uma nova relação entre jornalistas e o público.