Hoje como hoje, a equação do impeachment do presidente Lula está no seguinte pé:
A direita só se animará a embarcar nessa jogada de alto risco se ficar convencida de que, se for saído do Planalto, junto com o vice José Alencar, Lula não levará consigo também a política econômica. Não a dos juros altos. Mas a dos superávits altos para pagar os juros da dívida.
A alternativa, quase uma quadratura do círculo, seria Antonio Palocci não ser despejado da Fazenda. Mas isso exigiria, para parafrasear o imortal Mané Garrincha, “combinar com os russos”. Muitos russos.
Já a esquerda só se animará a matar e morrer, metaforicamente, pelo mandato de Lula se ficar convencida de que, se for mantido no Planalto graças a ela, despejada terá de ser a política econômica. Não apenas a dos juros altos. Mas a dos superávits altos.
Se assim é, pode apostar o seu último centavo que Lula ficará. Graças à direita que está deixando claro para quem quiser ouvir – é só ler os jornais de hoje – que pensará duas vezes antes de não pedir o impedimento.
Tecnicamente há alguma base para isso. Pela legislação eleitoral, o candidato é o responsável último por tudo que tiver sido feito na sua campanha. Mesmo que seja o último a saber.
Quer dizer, se ficar provado que o comando da operação eleitoral do PT em 2002 – Dirceu, Delúbio, Silvinho – exportou dinheiro para fora, ou usou dinheiro que já estava fora para pagar o criador do Lulinha, paz e amor, pouco importa se por iniciativa dele ou de Marcos Valério, sobrará inevitavelmente para a criatura.
Mandato ao câmbio do dia
Mas a prudência das “elites”, como disse lá em cima, vale para hoje como hoje. Ou enquanto novos podres não aparecerem e ficar impossível segurar o estouro da manada.
O caminho das pedras, para todos os caminhantes, foi desenhado pelo comentarista político mais ouvido do Brasil (porque aparece no Jornal Nacional), Franklin Martins.
Dele, aliás, se pode dizer que é a versão brasileira do mais célebre dos âncoras da TV americana, Walter Cronkite. O homem da CBS foi certa vez apontado numa pesquisa como aquele de quem nenhum americano se recusaria a comprar um carro usado. Franklin tem o mesmo figurino.
Ontem à noite ele aconselhou o presidente a dizer, olho no olho dos brasileiros, o que aconteceu no governo e no PT, a identificar quem o traiu (se traído ele se declarar) e a se desculpar pela escolha de colaboradores errados. Tudo com serenidade e sem radicalização.
À oposição ele aconselhou botar os pés no chão e a cabeça na geladeira, porque apostar no quanto pior, melhor, é brincar com fogo.
Daqui a pouco vai se ver como Lula cumprirá a sua parte nesse projeto de acordo tácito. Com a palavra, o excelentíssimo senhor.