Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A era da incerteza informativa


A medida que nos aproximamos das eleições de novembro deve aumentar o uso da internet como ferramenta fácil, barata e eficiente para distribuir informações cuja origem e conteúdo são, no mínimo, questionáveis.


Isto coloca um enorme desafio tanto para os jornalistas como para os usuários da Web pois a questão da credibilidade passa a rondar os links da internet de uma forma inquietante. Como no resto do mundo, a guerra político/ideologica também vai contaminar a rede, obrigando os que nela se informam a mudar de hábitos.


A avalancha informativa, na qual lixo e luxo se misturam, está dando mais importância ao que já se convencionou chamar de leitura crítica, ou seja, uma atitude através da qual os internautas acreditam desconfiando, ou se preferirem, desconfiam acreditando.


O episódio das fotos maquiadas na guerra do Líbano mostram que já não dá mais para acreditar na veracidade de imagens jornalisticas, até então consideradas uma evidência mais sólida do que um texto. Mas qualquer pessoa normal também sabe que é impossível desconfiar de todas as imagens, porque ai estariamos totalmente perdidos.


A era da incerteza informativa está chegando para valer e não é nenhuma nova catástrofe. É simplesmente uma consequência da inovação tecnológica e da apropriação pelo cidadão comum das novas ferramentas de comunicação.


Os consumidores terão que desenvolver uma postura crítica permanente, não como uma preocupação neurótica mas como um hábito sadio no sentido de questionar tudo o que recebe como informação.


Sempre que houver uma disputa de qualquer natureza, alguém acabará usando a internet para distribuir versões favoráveis à sua causa. Os métodos tendem a se tornar cada vez mais sofisticados porque as técnicas de difusão de meias verdades podem ser facilmente baixadas da internet, numa simples pesquisa no Google.


A guerra dos rumores e informações tendenciosas não é um monopólio nem da antiga direita ou da antiga esquerda. Ela é um fato tão concreto como o de que não podemos mais sair com jóias caras numa rua popular, porque o assalto é inevitavel. A precaução tende a se transformar num comportamento automático.


Muitos lamentarão os bons tempos onde era possível acreditar em tudo que as pessoas diziam. Mas os tempos mudaram e não há mais volta. Hoje, nossa sobrevivência informativa está diretamente vinculada a nossa capacidade de desenvolver a leitura crítica num ambiente cada vez mais congestionado pela avalancha informativa.


Mas por outor lado, a era da incerteza informativa vai permitir que tenhamos uma relação mais serena com a informação. É um processo similar ao dos rótulos de alimentos. Antes não havia nenhuma informação nutricional nas embalagens. Quando elas foram introduzidas, muita gente se assustou porque não gostou do que estava ingerindo. Mas depois a coisa foi incorporada ao quotidiano e hoje o consumidor exige ainda mais detalhes ainda no rótulo.


O DNA da informação passa a ser um elemento indispensável ao cidadão comum. Quanto mais transparente for a composição da notícia, ou seja a sua contextualização (causas, consequências, possiveis beneficiados ou prejudicados) menor a chance de levarmos gato por lebre. No mercado financeiro, o DNA da informação já é essencial em qualquer negócio e sujeito a um número crescente de regras e exigências.


Agora a questão está colocada para o público em geral. A leitura critica não se limita a quem toma contato com uma informação mas atinge também os que a distribuem sem ter conferido sua veracidade. Pois eles passam a ser cúmplices na generalização do engano, complicando a tarefa dos demais cidadãos de separar o joio do tribo na guerra da informação.