Esta é uma idéia que está provocando muita polêmica entre os responsáveis por algumas das publicações mais respeitáveis na imprensa mundial, desde que o jornal The Washington Post resolveu apostar a sua sobrevivência, como empresa, na valorização dos leitores.
Enquanto a maioria dos jornais encara a questão dos comentários de leitores como uma dor de cabeça permanente, o Post decidiu transformar a participação do público no seu objetivo estratégico na guerra por audiência no disputadíssimo mercado de oferta de informações na internet.
O novo modelo de publicação de comentários de leitores na página Web do jornal é inédito na internet, custou vários milhares de dólares e cria um padrão novo em matéria de relacionamento entre jornalistas e o público.
As duas principais novidades são a visualização fácil da relevância relativa de cada comentário em função das referencias recebidas de outros comentarias; e a preocupação em incentivar o relacionamento entre leitores, mais do que entre estes e a redação.
Ao lado está o formato visual na página do Post. Os quadrados maiores são dos textos mais comentados e citados por leitores. Os quadros mais próximos do centro pertencem a temas mais lidos, mas não necessariamente os mais comentados.
A organização visual constitui um enorme avanço em relação ao sistema usual onde as participações de leitores são publicadas em ordem cronológica e sem uma segmentação por tema. Isto confunde e cria obstáculos para quem deseja saber quem está discutindo o quê e com quem, na área de comentários.
A horizontalização do debate entre os leitores rompe a tradição de que o autor do texto é o centro e a referência na troca de informações. Na verdade esta centralização já é ignorada pelos comentaristas quando o debate se intensifica. Aqui no Código e noutros blogs do Observatório isto já é comum.
Analisada em perspectiva, esta tendência mostra que os autores de textos ou responsáveis por blogs deixarão de ter o controle sobre seus espaços informativos para se transformarem em provocadores e mediadores. Eles alimentam a agenda publica de debates mas depois se tornam espectadores da discussão.
Embora ainda seja cedo para dizer se o novo sistema do The Washington Post dará certo, não há muitas dúvidas sobre as vantagens que ele oferece e sobre o seu potencial para atrair novos leitores, o que inevitavelmente levará outros jornais a imitá-lo. Mas a opção estratégica do Post tem implicações ainda mais amplas.
Ela fortalece os indícios de que o jornalismo está começando a preocupar-se mais com o público comum do que com especialistas e personalidades do mundo político, diplomático e empresarial. Durante mais de cem anos, a grande imprensa mundial dedicou uma atenção quase exclusiva ao poder enquanto o leitor era visto como um mero consumidor passivo das informações que os especialistas e dirigentes acham relevante.
A relação com os leitores ganhou importância depois que a internet quebrou o monopólio da imprensa na produção e distribuição de notícias, criando uma forte concorrência entre os diversos provedores de informações.
Isto obrigou a imprensa a prestar mais atenção a um fenômeno que os estudiosos da comunicação vinham alertando há tempos: O fortalecimento da preocupação relacional no desenvolvimento do jornalismo depois de décadas de hegemonia absoluta da ideologia institucionalista na imprensa. Relacional e institucional são dois jargões acadêmicos para expressar duas preocupações diferentes: a relação com o publico e o culto da instituição