Como era inevitável, uma batalha política interna nos Estados Unidos se transformou numa questão planetária na medida em que o tema envolve o futuro da internet. Os protestos contra dois projetos de lei em tramitação no congresso norte-americano acabaram envolvendo desde a rede mundial de blogueiros GlobalVoices até os mais importantes endereços da Web mundial.
Foi a primeira demonstração de força de toda a chamada nova mídia contra a possibilidade de punições por violação de direitos autorais. O embate chegou a ser classsificado pelo jornal francês Le Monde como um duelo de gigantes, porque de um lado está a poderosa indústria cinematográfica de Hollywood, junto com as principais redes de TV e gravadoras musicais dos Estados Unidos, e do outro, gigantes de internet como Google, Facebook, Wikipedia e a quase totalidade das milhares de pequenas e médias empresas desenvolvedoras de softwares espalhadas pelo planeta.
O protesto teve como principal protagonista a enciclopédia virtual Wikipedia, que retirou do ar sua edição em inglês por 24 horas, criando um grande congestionamento em algumas bibliotecas públicas dos Estados Unidos por causa do enorme afluxo de estudantes procurando enciclopédias impressas para fazer trabalhos escolares.
A batalha político-parlamentar ainda está indefinida. Embora os adeptos do SOPA e do PIPA tenham perdido alguns adeptos importantes no plenário do congresso norte-americano, a guerra da visibilidade tem um vencedor claro: a blogosfera e as empresas da internet. Quem entrou na rede nesta quarta feira (18/1) esbarrou a todo instante com sites usando tarjas negras.
A diversificação e disseminação viral do protesto impressionaram pela rapidez e descentralização, já que ninguém assumiu o papel de coordenador ou porta-voz. Esta é a regra da política cibernética: não há comando, não há slogan unificado, não se sabe quem participa, nem quando o movimento termina. Tudo é aleatório, fluido e imprevisível.
Quem se baseou apenas na imprensa convencional não chegou a ter uma real dimensão do protesto contra Hollywood. Os principais jornais mundiais, a televisão e até mesmo os sites noticiosos de conglomerados jornalísticos fizeram uma cobertura discreta, que se limitou ao registro dos fatos, sem contextualizar o problema central, que é o da liberdade de fluxos informativos na internet. As questões de direitos autorais, pirataria e controle de domínios são apenas consequências da questão central.