Salvo engano, a primeira vez que o sobrenome Haddad e o substantivo candidato apareceram juntos na grande imprensa foi em 26 de março, na matéria da Folha sobre a sabatina a que o jornal submetera, na véspera, o ministro da Educação, prenome Fernando.
Perguntado se poderia vir a ser candidato a prefeito de São Paulo na eleição deste ano, respondeu, singelamente: “Ninguém falou comigo sobre essa possibilidade”.
Desde então, a possibilidade de Haddad vir a ser candidato – à sucessão do presidente Lula – tem aparecido com crescente freqüência nas colunas políticas.
Se os colunistas, ou os petistas, falaram com ele sobre isso, ao leitor não é dado saber. Mas se dá como que de barato que o plano B de Lula, se a protocandidatura da ministra da Casa Civil não emplacar, seria ir de Haddad, quem sabe promovido a “pai da Educação”.
Da ministra, Lula disse numa entrevista recente: “A Dilma é de uma capacidade de gerenciamento impecável. Agora, entre ser uma figura extraordinária para gerenciar e ser candidata à Presidência é uma outra conversa, porque aí entra um ingrediente chamado política, que exige outras credenciais.”
Do ministro, Lula nada disse, nem insinuou.
Mas os comentaristas já falam da alternativa Haddad com uma naturalidade perturbadora. Ainda hoje, a colunista Dora Kramer, especulando sobre o desempenho da ministra, no depoimento marcado para amanhã na comissão de Infra-Estrutura do Senado, arrematou – ou, talvez fosse o caso de dizer, arremeteu:
”Se for boa [a performance], [Dilma] continua cotada no ensaio de candidaturas. Se for ruim, sai de cena e cede a cadeira de pista no palanque para o ministro da Educação, Fernando Haddad.”
Isso não pode continuar assim. A esta altura, a imprensa deve ao perplexo leitor a cortesia elementar de lhe transmitir as informações de cocheira em que presumivelmente se baseiam os colunistas para escrever o que têm escrito sobre os(as) candidatos(as) dos planos de Lula.
Como é que começou essa conversa? De que área do governo partiu a hipótese Haddad? Quantos – pedir quais seria pedir demais – são os palacianos, os proverbiais “interlocutores próximos do presidente”, que estimulam o colunato a ficar mencionando o nome do ministro? Ou será que tudo – ou quase – é chute?
Se a eventualidade é considerada, como é que os que a admitem, ou defendem, imaginam que será a substituição daquela que foi sem ter sido por aquele que ainda não é, mas “pode estar sendo”?
O presidente Lula deixa a ministra em casa e sai pelo país afora de braços dados com o outro?
Candidaturas presidenciais não se constróem com tamanha simplicidade, ainda mais quando o presidenciável nunca antes foi candidato a qualquer coisa – e mesmo que não se ouça uma voz criticando o seu trabalho na Educação e se ouçam muitas cobrindo-o de elogios.
Aliás, outro dia deu numa coluna, meio a sério, meio a brinca, que é só Fernando Henrique parar de falar bem do ministro que Lula põe o seu nome na praça.
É, pode ser. Mas, se depender do descaso da mídia, o leitor será o último a saber.