Incrível como a imprensa brasileira é cara de pau. No caso do aquecimento global, passou da mais completa indiferença para a total histeria. A situação é séria, mas a saída não está no pânico, e sim na ação. Vejam o caso da Folha, que pós-divulgação do relatório foi buscar argumentos para comprovar sua tese do fim do mundo. Primeiro veio com a história do desaparecimento de 18 praias no litoral de São Paulo. O tema é importante, mas merecia mais conteúdo. Ao ler a reportagem, ficamos sem saber se as praias vão desaparecer amanhã de manhã, se todas elas estão classificadas como ‘muito alto risco’ e, principalmente, se alguma coisa ainda pode ser feita para se reverter a situação.
Se a Folha tivesse investido uns R$ 100, a experiente repórter Cláudia Collucci, minha ex-colega de Redação, poderia ter visitado algumas das praias condenadas. Em Bertioga, por exemplo, Cláudia poderia constatar que grandes construtoras (de fama internacional) estão destruindo a Mata Atlântica para implantar condomínios de luxo à beira mar. Atenção Sr. Xico Graziano, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo!
Outra pérola da Folha: ‘Agricultura estressa o meio ambiente´´. Se não tivesse fechado o seu caderno agropecuário (AgroFolha) em 2002, a Folha jamais publicaria tamanha asneira. Ora, qualquer atividade econômica estressa o meio ambiente. Neste momento, milhões de carros que circulam pela cidade estressam o meio ambiente. Os 180 milhões (ou mais) de bovinos que caminham pelos pastos contribuem para destruir a camada de ozônio com seus peidos e arrotos. Os empreendimentos imobiliários trazem sérios impactos ao ambiente.
Que falta faz o Agrofolha! Que falta faz o Marcelo Leite! Não basta tê-lo como frila. É preciso contratá-lo como editor de ambiente em período integral.
Observatório de Imprensa
O programa desta terça foi muito interessante, mas faltou alguém da área agrícola. Muito se falou sobre a Amazônia e os riscos da expansão da cana e da soja para plantio de biocombustível. Ninguém lembrou, porém, que uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa está reduzindo significativamente a abertura de novas áreas para a produção agrícola, simplesmente recuperando as pastagens degradadas.
O Brasil tem 20 milhões de hectares de pastagens degradadas. Em São Paulo, há mais de 1,5 milhão de hectares de pastagens degradadas. A integração lavoura-pecuária consiste na diversificação e na rotação das atividades agrícola e pecuária dentro da mesma propriedade. Por meio desta tecnologia, a fertilidade do solo é corrigida com os cultivos anuais. Consegue-se recuperar e reformar as pastagens degradadas, evitar a erosão e quebrar o ciclo de pragas e doenças da monocultura. Ao se recuperar pastos degradados evita-se o desmatamento para ampliar as áreas de plantio.
O país conta com 62 milhões de hectares agricultáveis e mais de 200 milhões de hectares de pastagens, dos quais 20 milhões são aptos para agricultura. Não há nenhum continente, para não falar país, com este potencial de crescimento espantoso, que não implica em derrubar a Amazônia: são pastagens, já conquistadas a qualquer bioma do país.