Em todas as discussões surgidas a propósito do escandalo do mensalão, parece cada vez mais concreta a suspeita de que está mudando a matriz informativa dos chamados formadores de opinião no Brasil. É urgente quantificar este processo para poder avaliá-lo em detalhes e tirar as conclusões necessárias. Enquanto isto não acontece temos que nos conformar com hipóteses para tentar entender como e porquê as pessoas estão emitindo opiniões sobre a crise. O crescimento da influência de weblogs como os de Ricardo Noblat, José Bastos Moreno e Luis Weis indica que um setor dos formadores de opinião passou a preferir a notícia personalizada e opinativa em vez da informação impessoal dos jornais, revistas, rádios e telenotícias. As pessoas seguem os depoimentos ao vivo via TV Senado ou GloboNews, com o outro olho nos blogs políticos. Até mesmo os deputados e senadores cairam na tentação cibernética e monitoram a web enquanto participam das reuniões das CPIs do Mensalão e dos Correios. Se esta parece ser a tendência em matéria de desenvolvimento de percepções e do desenvolvimento daquilo que o norte-americano Daniel Yankelovitch chama de ‘opinião equilibrada‘, por outro, a agenda de novos temas está sendo ditada pelos jornais, revistas e pelo desfile ao vivo de acusados ou acusadores pela televisão. A agenda coloca para a opinião pública as novas denúncias resultantes tanto da investigação jornalística e policial como da promovida por políticos do governo ou da oposição. As pessoas parece estar usando a agenda como referência para consultar os blogs e conselheiros de confiança, antes de formar uma opinião. A grande mudança neste processo é a redução da importância relativa dos comentaristas e analistas de jornais e da televisão em favor dos blogs. Isto significa que nomes famosos no jornalismo político estão perdendo lugar para a internet. É uma perda considerável para os jornais, revistas e emissoras de TV, que no entanto podem compensá-la com reportagens investigativas. Os weblogs brasileiros ainda não adquiriram a experiência e o espírito de ajuda mútua dos seus equivalentes norte-americanos para poderem promover suas próprias investigações. Um dia isto ainda vai acontecer, mas por enquanto a função opinitiva personalizada vai predominar. Inclusive é muito provável que comentaristas políticos de jornais, que ainda não aderiram à moda blog, o façam a curto prazo para não perder público. Os do Globo já migraram para a internet. O fato dos blogs estarem assumindo uma força crescente na interpretação personalizada de fatos marcantes na agenda pública nacional assinala também uma pulverização do núcleo de analistas políticos da imprensa brasileira. A credibilidade e visibilidade obtidos nos jornais, revistas e TV ainda é um fator decisivo no ranking dos blogs políticos mais consultados na web brasileira, mas o quadro já começou a mudar, na esteira do fenômeno Noblat.