Cerca de um terço dos norte-americanos prefere acessar redes sociais na internet para obter informações sobre temas locais ou discutir assuntos comunitários. Trata-se de uma tendência que já está sendo observada na Europa, na Ásia e na Austrália, onde as pesquisas apontam também uma redução acentuada na participação da imprensa na produção de notícias locais.
Aqui no Brasil não temos pesquisas atualizadas sobre este fenômeno, mas é visível a redução do espaço dedicado às questões comunitárias, salvo nos casos de grandes enchentes, desastres naturais, crimes , escândalos e acidentes. Para a mídia, a redução é um problema de custos operacionais, mas para o público é a substituição de um modelo informativo por outro.
Uma pesquisa divulgada esta semana e realizada pelos institutos Monitor e Pew Internet, ambos com sede nos Estados Unidos, mostrou que as redes sociais como o Facebook e Orkut são hoje responsáveis por 32% da informação local consumida pelos norte-americanos. Em segundo lugar vieram os blogs com 19%, as mensagens por telefone celular, com 12%, e as micro-mensagens do Twitter, com 7%. Os restantes 30% estão distribuídos entre os veículos da imprensa convencional.
Na Holanda, Alemanha e Suécia, pesquisas feitas por empresas de publicidade e marketing também detectaram a mesma migração para a internet dos interessados em assuntos locais. Trata-se de um fenômeno que altera radicalmente a ecologia informativa nas áreas urbanas porque retira dos jornais um público fiel, especialmente os assinantes, ao mesmo tempo em que amplia o interesse dos usuários pelos assuntos locais, graças à maior diversificação temática.
A mesma pesquisa feita pelo Pew Center em três cidades norte-americanas mostrou que o interesse pelos temas comunitários é hoje duas vezes maior do que há cinco anos, principalmente porque as pessoas passaram a trocar informações entre si por meio dos mecanismos de interatividade. Estas mudanças de comportamento aumentam a importância dos estudos sobre participação do público na produção informativa, uma área que está praticamente virgem, tanto nas universidades como entre os institutos especializados.
A redução do noticiário local nos jornais, rádios e emissoras de TV é uma consequência direta do aumento da participação do público e da contenção de gastos nas redações. O acesso crescente à informação online está gerando um fenômeno mundial de busca de reconhecimento de direitos individuais e coletivos, fato que aparece de forma mais clara no âmbito da periferia das grandes cidades.
Mas ao mesmo tempo em que a demanda cresce, os jornais mostram-se impotentes para atender à cobertura comunitária, porque isto implica triplicar e até quadruplicar suas equipes de reportagem dedicadas a temas locais, o que é inviável nas condições atuais de fluxo de caixa da maioria dos jornais e emissoras de rádio ou TV.
A opção de usar cada vez mais o público como fonte de informações é uma possibilidade concreta porque permite ao jornal ou à TV estar no local dos fatos graças a câmeras fotográficas e filmadoras digitais de cidadãos comuns. Mas isso cria uma dependência em relação a pessoas sem formação jornalística, o que é rejeitado pela maioria das redações. Alguns veículos de comunicação que testaram essa alternativa com mais intensidade defrontaram-se com um outro problema: os chamados jornalistas amadores acabam reivindicando participação financeira ou funcional, o que também é rejeitado pelas redações.
O aumento da participação do público na produção de informações está obrigando os estudiosos a mudar seu foco de atenção. Até agora o estudo das mudanças na comunicação contemporânea provocadas pela internet e pela computação se limitaram a abordagens com foco no jogo de poder na mídia e na questão tecnológica. Falta ver o problema de baixo para cima, a partir das bases sociais, segmentos onde vão ocorrer as mais importantes transformações provocadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação.
O pouco que tem sido estudado, em especial por acadêmicos jovens, mostra que os processos de inovação ocorrem de forma mais intensa quando se incorpora o conhecimento tácito de pessoas até agora consideradas excluídas tanto do ponto de vista informativo como do tecnológico. As teorias desenvolvidas pelos grandes pensadores já não conseguem dar explicações completas para os complexos fenômenos contemporâneos porque em sua maioria foram construídas a partir de universos sociais reduzidos, se comparados às multidões que estão frequentando cada vez mais a internet.
A sociedade atual necessita de novas explicações e, ao que tudo indica, isso só se tornará viável quando os pesquisadores derem mais atenção ao que ocorre no Twitter, no Facebook, no Orkut. Nesses ambientes circula uma informação que é ignorada pela imprensa e pela academia, e que ainda é vista com um marcado desdém.