A maioria dos pesquisadores e estudiosos da mídia contemporânea está debruçada sobre o que alguns especialistas passaram a chamar de “economia do Tarzan”, numa alegoria à necessidade de largar um cipó, ou um modelo de negócios, antes de agarrar o próximo no esforço para sair da crise no setor.
Poderia ser também chamada de “economia do trapézio”, já que um acrobata do circo é obrigado a soltar uma barra antes de pegar a próxima para chegar ao outro lado do picadeiro.
O que há em comum entre o trapezista, Tarzan e as indústrias contemporâneas da comunicação é que todos eles precisam abandonar um sistema seguro (cipó, barra ou modelo de negócios) para embarcar num novo sistema. Entre o novo e o velho há uma fração de tempo (segundos no caso do trapézio e do cipó, ou anos no caso da mídia) onde tudo é inseguro.
Para os executivos da mídia, este intervalo de insegurança é um dilema porque eles não gostam de correr riscos, apesar do discurso de que, no capitalismo, uma das virtudes da atividade empresarial é a aposta no novo.
É nesse ponto que os trapezistas superam os executivos das indústrias jornalísticas porque os primeiros assumiram o risco como uma decorrência normal de sua atividade, enquanto os segundos estão imobilizados pela preocupação em manter a lucratividade.
No caso da indústria do cinema e das gravadoras de músicas, o cipó está cada vez mais curto, o que aumenta a necessidade de largar o que está seguro e aumenta o desespero dos tomadores de decisões, porque eles têm cada vez menos tempo para escolher entre espatifar-se no solo ou pular para o próximo cipó, sem saber direito se este aguentará o peso.
Apesar dos temores e vacilações, algumas empresas começam a descobrir que o medo do fracasso pode ser mais forte que o fantasma do prejuízo. Nos Estados Unidos, o Warner Music Group, integrante do mega conglomerado Warner, resolveu apostar na troca do produto por serviços como atividade básica da empresa.
Depois de gastar milhões de dólares para combater o que a Warner chama de pirataria musical, ela lançou o projeto Choruss — cuja base financeira não é mais a venda de produtos musicais, mas a prestação de serviços musicais. Em vez de vender CDs e DVDs, a indústria parece interessada em explorar a possibilidade faturar com a oferta de serviços que ampliem o prazer de ouvir uma música ou ver um filme.
O projeto está sendo testado por estudantes de universidades norte-americanas, o mesmo ambiente que tornou mundialmente famosos os sites de trocas gratuitas de músicas que tanto enfureceram os executivos das grandes gravadoras mundiais.
O grupo brasileiro RBS, baseado em Porto Alegre, cresceu como um conglomerado de indústrias jornalísticas, mas hoje está mais voltado para a área da promoção de serviços de entretenimento do que no desenvolvimento de negócios informativos.
Como opção empresarial é uma alternativa válida na busca de um novo modelo de negócios. O problema é que a notícia está sendo usada para alavancar projetos do grupo nos jornais e programas jornalísticos nas rádios e emissoras de TV da RBS. A promoção de shows musicais, concursos e eventos esportivos já ocupa a maior parte do tempo nos telejornais regionais, enquanto nos jornais a publicidade vinculada a interesses da casa ganha cada vez mais espaço.
O caso gaúcho não é isolado. Em várias outras partes do mundo as empresas jornalísticas estão abandonando a notícia, especialmente a impressa, devido aos altos custos de produção. Em 2010, o preço da tonelada de papel jornal aumentou 22,4% (vale hoje US$ 114) enquanto a publicidade e as assinaturas continuaram caindo, com perdas acumuladas de quase 50% nos últimos cinco anos.
Estes dados mostram que o cipó do velho modelo de negócios já não aguenta mais o peso de conglomerados industriais no setor da comunicação, que ainda resistem à mudança de cultura. Grupos como a RBS já namoram novos esquemas, mas ainda mantêm o discurso tradicional em matéria de jornalismo, embora estejam cada vez mais distantes das necessidades informativas do público.
Nesta semana, as matérias promocionais do evento musical ‘Planeta Atlântida’, veiculadas na emissora da RBS em Florianópolis, ocuparam quase o dobro do espaço noticioso dado à cobertura dos monumentais congestionamentos de trânsito na capital catarinense, causados pelo afluxo de turistas. O sucesso do evento superou a preocupação com a busca de soluções para um problema que afeta milhares de pessoas.
Está cada vez mais evidente que as empresas já começam a vislumbrar uma saída para o “dilema do Tarzã”. O problema é que o público ficou órfão nessa troca de cipó. Ele está recebendo matérias promocionais como se fossem notícias enquanto a oferta de informações vinculadas aos problemas comunitários fica cada vez mais minguada.