O afamado senador Joaquim Roriz – aquele que teria pedido a um amigo um empréstimo de R$ 300 mil para comprar um embrião de gado nelore e dele recebeu um cheque de R$ 2,2 milhões – é apenas o mais novo membro do esquadrão da morte moral, como disse, trocando as bolas, outro notório, o presidente do Senado Renan Calheiros, para tapar o sol com a peneira.
O esquadrão da imoralidade, seu nome certo, é uma gangue sem fim. Dela fazem parte os políticos de todos os calibres e cores, os juízes das mais variadas instâncias, as autoridades federais, estaduais e municipais que se consideram vítimas do ‘massacre da imprensa’ quando os seus malfeitos e a sua esqualidez ética vêm a público.
Quaisquer e quantas sejam as mazelas do jornalismo brasileiro, todo jornalista que valha o seu sal só pode se sentir envaidecido quando a corja lhe ofende a profissão.
Sinal de que alguma coisa boa ela fez.
É como diz a leitora Ana Maron Vichi, de Campinas, em carta irrepreensível publicada na Folha de hoje:
‘O grande crime neste país não é roubar, matar, corromper, desviar etc etc… O grande crime é falar sobre os crimes, sobre os atos ilegais, imorais e antiéticos. Portanto, o maior criminoso do país é, sem dúvida, o jornal. Ou o jornalista. Uma ministra que diz ‘relaxa e goza’ e um ministro que diz que a confusão aérea é resultado do progresso mostram falta de compostura, descaso e desrespeito para com os cidadãos, além de um cinismo que não é compatível com a posição que ocupam.
P.S. ‘Um cara desses’
Este é o título da coluna da jornalista Eliane Cantanhêde, também na Folha de hoje. Encabeça o mais afiado comentário que me lembro de ter visto na mídia sobre a selvageria de que foi vítima a doméstica Sirlei Dias de Carvalho. Leiam e me digam se estou errado.
‘Quando os filhos são pequenos, chutam a canela da empregada, e os pais acham ‘natural’, fingem que não vêem. Já maiores um pouco, comem o que querem, na hora em que querem, não falam nem bom-dia para o porteiro e desrespeitam a professora. Na adolescência, vão para o colégio mais caro, para o judô, para a natação, para o inglês e gastam o resto do tempo na praia e na internet. Resolvido.
Dos pais, ouvem sempre a mesma ladainha: o governo não presta, os políticos são todos ladrões, o mundo está cheio de vagabundos e vagabundas. ‘E quero os meus direitos!’ Recolher o INSS da empregada, que é bom, não precisa.
É assim que os filhos, já adultos, saudáveis, em universidades, são capazes de jogar álcool e fósforo aceso num índio, pensando que era ‘só um mendigo’, ou de espancar cruel e covardemente uma moça num ponto de ônibus, achando que era ‘só uma prostituta’.
A perplexidade dos pais não é com a monstruosidade, mas com o fato de que seu anjinho está sujeito -em tese- às leis e às prisões como qualquer pessoa: ‘Prender, botar preso junto com outros bandidos? Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?’, indignou-se Ludovico Ramalho Bruno, pai de Rubens, 19.
Dá para apostar que ele votou contra o desarmamento, quer (no mínimo) ‘descer o pau em tudo quanto é bandido’ e defende a redução da maioridade penal. Cadeia não é para o filho, que tem estudo e dinheiro, um futuro pela frente. É para o garoto do morro, pobre e magricela, que conseguir escapar dos tiroteios e roubar o tênis do filho.
Isso se resolve com o Estado sendo Estado, com justiça, humanidade e educação -não só com ensino para todos e professores mais bem treinados e mais bem pagos, mas também com a elementar compreensão de que ‘o problema’, e os réus, não são os pobres. Ao contrário, eles são as grandes vítimas.’
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