[A continuação de um debate]
“(As) notícias podem e devem ser o ponto de partida e não de chegada.” Esta foi a frase usada pelo leitor Lucio Lambranho para mostrar a diferença entre o jornalismo profissional e o praticado por amadores, questão levantada no debate proposto no texto “Somos todos jornalistas. Será possível?“. Outros oito leitores também publicaram – até a manhã do dia 26/1 – ideias, questionamentos e sugestões sobre como situar a produção de notícias no contexto da internet contemporânea.
A notícia é realmente um ponto de partida porque é por meio dela que surge a troca de informações, opiniões e propostas em comunidades, sejam elas uma família, uma associação, clube, movimento político ou religioso, até cidades, regiões e países. A notícia é o gatilho para disparar a recombinação de percepções individuais que são transformadas em informação, e depois em ações individuais ou coletivas e em conhecimento. Por isso ela precisa ser tratada com muito cuidado, tanto por profissionais como por amadores.
O leitor Eduardo Cezimbra diz que “hoje já podemos praticamente dispensar esta mídia”, referindo-se à imprensa convencional. Tecnicamente ele tem razão, porque a internet deu aos indivíduos o poder de publicar, mas na prática eles continuam dependemos dos jornais, revistas, emissoras de rádio, TV e sites noticiosos porque a maioria dos blogueiros, por exemplo, ainda toma a grande imprensa como referência para criticar ou simplesmente passar adiante a notícia ou informação.
Não quero aqui polemizar com vocês, leitores, porque não é este o objetivo do blog e nem do tema que propus. Pretendo seguir a sugestão de Vitor Alvez: “Perguntas que geram perguntas”. Esta frase é perfeita porque reflete a realidade. Nosso conhecimento da realidade é limitado, é impossível fazer afirmações definitivas e, portanto, a melhor forma de estimular a troca de ideias é responder com uma nova pergunta.
É mais ou menos o mesmo que diz Ramsés Albertoni quando leva a questão para o terreno das teorias da complexidade ao afirmar que “um dos princípios mais significativos do pensamento complexo é o que afirma não existir apenas um único plano de realidade, ou de objetividade, porquanto a existência faz parte de múltiplos planos simultâneos de realidade”.
Essa mesma preocupação está implícita na resposta de Maria Macedo à sugestão de debate sobre novas funções para o jornalismo profissional: “Analisar, em profundidade e de forma holística, o contexto, buscando uma forma diferencial do jornalismo vigente”.
Frederico Strube propõe outro tema polêmico ao sugerir que “dificilmente se pode comparar um simples blogueiro com um jornal (dos grandes, digo)”, ao se referir à questão da credibilidade e visibilidade pública dos praticantes do jornalismo. Fiel ao espírito de uma pergunta gerar outra pergunta, é necessário levar em conta que no Brasil ainda estamos numa fase inicial no processo de diversificação noticiosa na chamada blogosfera. Nos Estados Unidos já existem casos consolidados de indivíduos que lograram credibilidade, visibilidade e até sustentabilidade financeira.
Uilson Noel se referiu ao “faro jornalístico”, uma questão controvertida pois implicaria a existência de uma habilidade inata em determinadas pessoas para o exercício do jornalismo, o que até agora não foi provado. É claro que algumas pessoas têm uma maior inclinação para investigar notícias, outras para interpretá-las, e outras ainda para transformá-las em conhecimento teórico. O “faro” ou “sexto sentido” é uma habilidade desenvolvida pela prática e, portanto, não é um atributo exclusivo dos profissionais. Mas é evidente que um repórter de jornal, pela sua formação e experiência, tem mais condições de identificar um fato, dado ou fenômeno novo e relevante. Para isso ele precisa conhecer o contexto em que a noticia está inserida e para tanto ele necessita da ajuda dos praticantes do jornalismo, porque são eles, na maioria dos casos, que estão em contato direto com o fato, dado ou fenômeno.
A leitura dos comentários publicados a propósito do texto “Somos todos jornalistas. Será possível?“ mostra que a interação com os leitores pode se transformar num processo coletivo de produção de conhecimento, sem preocupações deliberativas ou consensuais. Por isso é importante que a interação não se transforme apenas num diálogo meu com os leitores. Como disse no post anterior, eu sou apenas o cara que oferece o campo e a bola para vocês jogarem. Vocês mesmos levantaram uma série de temas e observações que podem e devem ser discutidos com mais detalhes daqui por diante.
Para fechar este texto e deixar outra pergunta no ar,recorro a uma observação de Ibsen Marques: “Não é muito frequente encontrar na Internet textos, posts e artigos que abordem todos os lados da notícia, todas as realidades, visões, versões. Parece que essa busca ainda fica por conta do leitor ou navegador, mas o que demonstra que essa busca realmente acontece?” Seria interessante ver se isso ocorre e, em caso contrario, por que não acontece.