Dizia Magalhães Pinto, banqueiro, udenista, depois governador de Minas, que ‘política é como nuvem: você olha e ela está de um jeito, olha de novo e está de outro’.
Se isso é verdade, mais verdade ainda é em períodos de formação de ministérios e secretariados. A nomeação dada como certa num dia não raro faz água no dia seguinte. Mas, assim mesmo, há limites para informação de pé quebrado na cobertura das tratativas para a escalação do primeiro time dos governos.
Conforme o jornal, o leitor vê a nuvem de um jeito ou de outro, sem saber em cada caso, quem a deixou de um jeito ou de outro: as fontes que sopram as suspostas verdades do dia para o reportariado e que podem ser tudo, menos isentas ou desinteressadas no desfecho da novela.
Muitos dos informantes agem como se pudessem emplacar seus ministeriáveis se os jornais disserem que eles serão emplacados. É do jogo, mas o leitor acaba sendo literalmente o último a saber.
Um caso particular chama a atenção no que tem saído sobre o futuro ministério do presidente Lula.
Há tempos vinha-se publicando que ele queria ter em Brasília a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy, desde que ela descartasse a idéia de voltar a concorrer em 2008 ao cargo no qual não conseguiu ficar em 2004. Divulgou-se também, mais de uma vez, que ela aceitou a restrição – de olho na sucessão do próprio Lula.
Domingo passado, enfim, o Globo e a Folha bancaram que Marta deverá ocupar a Educação.
Na segunda, o presidente anunciou a dirigentes do PMDB que a Pasta terá ‘uma ministra’. A notícia não foi desmentida pelo Planalto.
Na terça, olimpicamente alheio a esse fato – apurado nesse mesmo dia pela Folha e pelo Valor – o Estado deu que ‘no Ministério da Educação, o presidente não deve fazer mudanças, mantendo o petista Fernando Haddad. Apontada como opção para a Pasta, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT-SP) não deve ganhar posto de comando na Esplanada dos Ministérios. Seu nome tem o apoio do grupo do ex-ministro José Dirceu, mas Lula já contou a amigos que resiste em trazer a prefeita para Brasília’.
Hoje, enfim, enquanto o Estado finalmente mudou de tom, noticiando que Lula ‘parece inclinado a nomear Marta’ e afirmando em editorial que há um ‘retrocesso à vista na Educação’, a nuvem talvez esteja ficando de outro jeito.
Pelo menos se lê no Valor que Lula disse a um interlocutor que ‘voltara a considerar a permanência de Fernando Haddad’.
Até que isso não seria má idéia. Haddad, que foi secretário-executivo do ministério na gestão Tarso Genro e depois o substituiu quando ele assumiu interinamente a presidência do PT, tem bagagem de sobra.
Ele se formou em direito, fez mestrado em economia e doutorado em filosofia, tudo na USP, onde lecionava ciência política. Revelou-se um ministro competente, familiarizado com o pedaço. Até o Estadão que critica – também – a política educacional do governo, reconhece que o ministro é do ramo.
Mas essa é outra história.
O que interessa, no caso, é a velha lição de que jornalista não deve brigar com os fatos. E ou o resto do batalhão está todo marchando com o passo errado, ou o Estado vem tropeçando nos próprios cadarços.
Como dizem os colunistas, a conferir.
P.S. “Erramos” errado
A Folha informou ontem que o governo paulista contingenciou [reteve] 15% das verbas das universidades estaduais [USP, Unesp e Unicamp] destinadas ao custeio de suas atividades.
Hoje, o jornal publica extensa carta do secretário de Comunicação do governo paulista, Hubert Alquéres, contestando a matéria, como se ela tivesse afirmado que as folhas salariais das três universidades tinham entrado no contingenciamento.
A Folha, que não disse nada disso, declarou-se ainda assim culpada, publicando na seção “Erramos” o seguinte nonsense: “O texto “SP vai liberar recursos para universidade” informou incorretamente que o Estado retém 15% da verba de custeio da USP, Unesp e Unicamp. Na realidade, o contingenciamento não incide sobre a folha de pagamento das instituições, que corresponde a cerca de 90% dos gastos de custeio.”
A resposta certa teria sido: “A Folha informou corretamente que o Estado retém 15% da verba de custeio da USP, Unesp e Unicamp. Não informou, nem ontem, nem antes, que o contingenciamento atinge a folha de pagamento das instituições. O secretário, portanto, não tem do que reclamar.’
Vai ver a Folha teve um surto de auto-desconfiança ou de culpa por erros que realmente cometeu. Seja como for, o leitor que leu a matéria, a carta e o “Erramos” ficou sem entender coisa nenhuma.
[Acrescentado às 17:10 de 15/2]
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