Do Aurélio. ‘Entrever. 1. Ver confusamente ou de maneira imperfeita; distinguir mal.’
É nessa acepção – e olhe lá – que se encaixa a entrevista do presidente George W. Bush a cinco jornais latino-americanos, um de cada país que visitará a partir de amanhã. Ou, como destacou o Estadão, provinciano a não poder mais, ‘ao Estado e a outros quatro veículos…’
Na minha velha terra, a propósito, veículo é carro, ônibus, caminhão, avião, metrô, trem, trenó, carruagem… Mas deixa pra lá.
Foram cinco perguntas, sem identificação de autoria. Não perca o seu tempo com as respostas. E tampouco com a primeira pergunta:
‘[…] O que o senhor acha da disseminação do chamado modelo alternativo de desenvolvimento, proposto pelo presidente Hugo Chávez […]?’
O que o leitor acha que ele poderia achar?
Por isso, perto do blablablá que o Estado puxou para a manchete da primeira página, ‘ver confusamente, distinguir mal’, já seria alguma coisa.
Dificilmente poderia ser de outro modo nessas entrevistas rituais que presidentes e primeiros-ministros dão a jornalistas dos países que se preparam para visitar. É uma formalidade, como o brinde protocolar em banquetes diplomáticos.
Semana passada, publiquei no Observatório da Imprensa um comentário sobre o entrevista do presidente Lula a 11 colegas, sob o título ‘Café com um presidente absolutamente à vontade'[Ver em http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=422IMQ004.
Permito-me transcrever uma passagem:
‘Por mais que os jornalistas queiramos ter todas as oportunidades do mundo de sabatinar os poderosos para deles tentar extrair o que houver de podre nos seus poderes – pela confissão a que não se possam furtar ou pela descoversa tão ou mais reveladora de que as coisas não são exatamente o que eles tentam impingir ao distinto público –, a dura realidade é que o(a) sabatinado(a) precisa ser muito, mas muito perna-de-pau, para sair batido do jogo.’
É o caso de acrescentar:
Mesmo que o sabatinado se chame George W. Bush – ou ‘Jorge Doblevê’, como, encenando bonomia, ele autorizou um dos entrevistadores a chamá-lo, segundo a correspondente do Estado em Washington, Patrícia Campos Mello. E mais ainda quando o protocolo não prevê réplicas, deixando livre o campo para as abobrinhas que o entrevistado treinou para dizer impunemente.
P.S. Da série ‘Absolutamente indefensável’:
O leitor C.W. pescou o seguinte vexame de 100 quilos num texto do UOL Esporte:
‘Helton não conseguiu conter o chute forte, mas absolutamente defensável, e a bola passou por cima dele, de maneira vechatória.’
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