por Walter Alves
Desde terça-feira, 1º/11, os jornais mais influentes do Brasil têm trazido matérias sobre o grampo em telefones de parlamentares. Arthur Virgílio, senador do Amazonas pelo PSDB, abriu a lista um dia antes, da tribuna do Senado, para denunciar que estava sendo grampeado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e prometer uma surra ao presidente Lula. Os jornais deram destaque secundário ao discurso do senador. Ainda na repercussão da reportagem de Veja sobre o ‘ouro de Cuba’, a notícia ganhou espaço apenas nos cadernos internos, ou simplesmente foi ignorada, como nos casos, do Valor Econômico e Gazeta Mercantil.
Na terça-feira, imitando o senador tucano, o deputado baiano ACM Neto, do alto de seu 1m50, subiu à tribuna e ameaçou de surra o Presidente da República. No dia seguinte, Finados, a Folha de S.Paulo deu destaque à notícia na primeira página e acrescentou a disposição da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) de também querer surrar o mesmo. Jornal do Brasil, O Estado de S.Paulo e O Globo ampliaram o destaque às denúncias, mas mantiveram a notícia nas páginas internas. O governo respondeu através do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ao qual a Abin está vinculada, negando a acusação.
Hoje, quinta-feira, a notícia ganha a manchete principal do O Globo com novas personagens. O presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), e Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, ocupam a reportagem para denunciar que também foram grampeados. A Folha de S.Paulo amplia o número de deputados ‘monitorados’ e inclui o tucano Eduardo Paes (RJ). O mesmo jornal informa, num quadro de apoio à reportagem, que ‘segundo Osmar Serraglio, todos ‘os agentes públicos em evidência’ nas investigações em comissões de inquérito abertas no Congresso vêm sendo monitorados’. O Estado de S.Paulo acrescenta que, para Serraglio, ‘é difícil saber quem estaria por trás dos grampos’. O Jornal do Brasil amplia a cobertura e o destaque à notícia, faz chamada na primeira e dedica a página 3 ao assunto com uma manchete que põe em dúvida a palavra dos deputados: ‘Mania de perseguição no Congresso’, anuncia.
Os jornais econômicos, Valor Econômico e Gazeta Mercantil, continuaram não dando bola para o assunto.
Duas parlamentares petistas, a senadora Ideli Salvati (SC) e a deputada Angela Guadagnin (SP), também afirmaram ser vítimas da truculência. A senadora também suspeita que seus telefones estejam grampeados. A deputada relatou que na última terça-feira foi alvo de um trote com ameaça de seqüestro.
O general Jorge Félix, ministro-chefe do GSI, mais uma vez atuando como porta-voz do governo federal, informa que ‘enviou ontem um ofício ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo, pedindo que ACM Neto enviasse um relatório sobre o caso. Inicialmente, o GSI havia dito que as denúncias do deputado careciam de fundamento’, segundo o Jornal do Brasil.
Tereza Cruvinel, na coluna Panorama Político do O Globo, até o momento, foi a única a questionar a quem interessa os grampos e acrescenta: ‘… certamente há muito mais gente, além do governo, interessada em saber o que falam os membros da CPI. Inclusive os tais financiadores privados de campanhas e doadores do valerioduto. Alguns devem andar trêmulos de medo de que seus nomes sejam revelados.
O general Jorge Félix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ao qual é subordinada a Abin’, continua a coluna, ‘pedirá informações aos denunciantes para, se for o caso, abrir uma sindicância. A Abin freqüenta a crise desde a origem. Foi suspeitando que Dirceu mandara arapongas gravar seu afilhado Maurício Marinho com a mão na cumbuca da propina que Roberto Jefferson explodiu o valerioduto e o mensalão. Depois, o empresário Arthur Waschek assumiria que contratou um araponga para fazer a fita. E arapongas há de todas as linhagens, públicos e privados, federais e estaduais. Todos inalcançáveis’.
Não bastasse os cinco meses de crise política vividos intensamente, as denúncias múltiplas de grampo colaboram para que ela se agrave. Apesar do destaque à notícia dado hoje, a impressão que fica é que tanto a imprensa quanto os poderes Executivo e Legislativo não estão dando a devida importância ao fato. Parlamentares, sejam eles da oposição ou da situação, podem estar sendo grampeados e constrangidos e isso é grave, muito grave.
Da parte do Executivo, faltam atuação e respostas convincentes de que nada tem a ver com grampos e repúdio, com veemência, a tais procedimentos. Dos presidentes da Câmara e do Senado não se ouviu nenhuma palavra sobre o assunto. Da parte da imprensa, mais uma vez, faltou aprofundamento na investigação para demonstrar se os parlamentares denunciantes querem agitar mais a crise, se querem desviar a atenção de seus próprios problemas – como pode ser o caso de ACM Neto, com a denúncia que ocupa a capa da CartaCapital desta semana sobre caixa 2 na Bahiatursa – ou se eles estão sendo efetivamente vítimas de uma atitude antidemocrática e condenável.
Parlamentares não podem ser constrangidos ou espionados por quem quer que seja. Do contrário, a política estará sendo transformada na arte de chantagear e de surrar adversários – o que não combina com estado democrático.