Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A relação entre imprensa e público continua piorando

O criticismo do público em relação à imprensa já deixou de ser mera manifestação isolada de inconformismo ou divergência ideológica. Está começando a configurar um processo e, como tal, provoca uma grande preocupação porque, se por um lado, o leitor se mostra mais cético em relação à mídia, por outro crescem igualmente as evidências de que a imprensa é cada vez mais essencial na era da informação.


 


Esta é a conclusão a que se chega depois de analisar os resultados da última pesquisa sobre comportamento dos leitores diante da imprensa norte-americana, divulgada na quinta-feira (9/8) pelo Pew Research Center, um instituto sem fins lucrativos especializado em sondagens sobre tendências entre os consumidores de informação.


 


Esta é a segunda pesquisa do Pew Center sobre o criticismo do público norte-americano em relação à imprensa do país, desde 1985. O dado mais significativo, na versão 2007 da pesquisa, é o alto índice leitores de notícias pela internet que qualificaram como tendenciosas as informações publicadas pela imprensa escrita e pela TV.


 


Mais de dois terços dos que buscam notícias pela web afirmaram que os jornais e emissoras de televisão ignoram as preocupações das pessoas sobre as quais informam. Nada menos que 59% dos entrevistados, nesta mesma categoria de leitor de noticias, afirmaram que as informações publicadas não eram exatas, enquanto 64% as qualificaram como politicamente distorcidas.


 


A mesma tendência foi registrada entre os leitores de jornais impressos e entre os espectadores de programas noticiosos na televisão, mas a intensidade das críticas foi 20% menor do que na web.


 


O maior criticismo dos internautas em relação à mídia convencional é conseqüência de dois fatores cujos efeitos são cumulativos e tendem a crescer de intensidade no médio e longo prazos:


 


1)    O público na internet é bem mais jovem do que o dos jornais e da TV, o que é considerado um fator estimulante do inconformismo e criticismo;


2)    A web oferece uma maior possibilidade de comparar informações entre diferentes publicações permitindo descobrir falhas e distorções, ao mesmo tempo em que oferece a possibilidade de os leitores expressarem suas opiniões.


 


Este crescente inconformismo dos internautas pode ser facilmente percebido aqui no Brasil por meio da leitura dos comentários postados por leitores de weblogs que publicam notícias e comentários sobre a atualidade nacional.


 


Mesmo descontando que os comentaristas em blogs são uma minoria muito reduzida no conjunto da população brasileira, impressiona o fato deles serem tão sistemáticos e críticos em relação à cobertura da imprensa nacional. 


 


A web cresce a um ritmo espantoso no Brasil (680% desde 2000), o que indica que o criticismo informativo dos internautas deve continuar em alta e contagiando outros tipos de leitores, já que o público da web no Brasil também é um formador de opiniões.


 


A imprensa mundial parece estar fechada naquilo que o professor de direito da Universidade de Chicago, Cass Sunstein, chama de “bolhas informativas”. O autor do livro Infotopia, lançado no final do ano passado, define a bolha como um ambiente onde pessoas e instituições só ouvem e publicam o que lhes agrada.


 


A divulgação da pesquisa do instituto Pew Research aconteceu dias depois que o site Google News decidiu dar às pessoas citadas em notícias a possibilidade de opinar sobre o texto publicado.


 


A novidade, que será inicialmente exclusiva da edição em inglês, é uma resposta indireta às críticas dos internautas contra o que chamam de “indiferença” dos jornais, revistas e telenoticiários em relação ao público.