Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A ‘Voz do Brasil’ e a voz da sociedade

Em boa hora, a repórter Mônica Tavares colheu no governo o mais que oportuno esclarecimento sobre a natureza da pretendida ‘Rede Nacional de Televisão Pública’, comentada ontem neste espaço [‘TV de governo não é pública, é estatal’]. Está no Globo de hoje:

‘Dois dias depois de o ministro das Comunicações, Hélio Costa, anunciar projeto para a criação da TV do Poder Executivo e classificá-la como uma TV pública, o Ministério da Cultura veio a público para discordar do ministro.

Sem criticar o anúncio de Costa, o secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Orlando Senna, disse que foi feita uma confusão entre TV estatal e pública. Explicou que existem três tipos de TVs no país: estatal, pública e privada. E que o que Costa está propondo é uma ampliação da TV estatal, da Radiobrás.

A TV estatal é o ponto de vista do governo. É, entre aspas, a Voz do Brasil. A TV pública é a televisão da sociedade, não do governo, afirmou Senna.’

P.S. Da série ‘O jacu e as garças’

Numa nota não assinada no Estado de hoje, ‘Radiobrás tem custo de R$ 156 mil’, se lê que a estatal custou R$ 418,2 milhões nos últimos quatro anos, ‘valor suficiente para asfaltar mais de 400 quilômetros de estradas’.

O que se quer dizer com isso? Que a Radiobrás é um brinquedo caro? Que mais vale asfaltar 400 km do que o governo federal ter uma rede de comunicação, que abastece 20 emissoras públicas coligadas e a própria imprensa, com a sua agência noticiosa?

Lê-se ainda que a empresa tem 1.150 funcionários e ‘atinge um índice médio de audiência de 2%’. De novo, o que se quer dizer com isso? Que a Radiobrás é um cabide de empregos? Que tem gente demais por trás do monitor da TV Nacional e afiliadas para tão pouca gente diante dele?

Jornalismo que preste é aquele que, entre outras coisas, é capaz de estabelecer, a bem do leitor, relações significativas entre os fatos. O oposto disso é estabelecer o que os estatísticos chamam ‘relações espúrias’ de causa e efeito. A nota do Estado sobre a Radiobrás é um exemplo de manual dessa, literalmente, segunda categoria de jornalismo.

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