Jornalismo aberto (Open Journalism), Jornalismo de Fontes Abertas (Open Source Journalism) e agora também a Noticia Aberta (Open News) são algumas das iniciativas que transformaram a a transparência e abertura na produção de notícias na grande meta das organizações e indivíduos interessados em adequar o jornalismo à era da internet.
O jornal inglês The Guardian completa em maio um ano de experiências com o ambicioso projeto Open Journalism, por meio do qual a publicação tenta criar um sistema estável de colaboração entre seus profissionais e os leitores. Pouca gente acreditava que a audaciosa proposta do editor chefe do jornal, Alan Rusbridger, iria durar tanto tempo, embora a sua consolidação definitiva ainda dependa do desenvolvimento de um modelo de negócios financeiramente sustentável.
O Open Source Journalism, idealizado em 2007 pelo jornalista e professor norte-americano Jay Rosen, visava produzir a primeira reportagem desenvolvida de forma coletiva e aberta segundo a modalidade conhecida como crowdsourcing (produção colaborativa). O projeto – batizado pelo nome de Zero Assignment – reuniu um grupo de estudantes de jornalismo coordenados por professores e profissionais para produzir uma reportagem a ser publicada na revista Wired.
A resposta do público por meio de comentários, sugestões, novos dados e depoimentos ficou aquém do esperado pelos idealizadores do projeto, que após um mês de exposição na página web da Wired foi classificado como “um fracasso promissor”. Apesar da frustração, a ideia do jornalismo de código aberto foi retomada mais tarde por projetos como o Scoop it e o The Exchange, que sobrevivem até hoje.
A Noticia Aberta é a mais recente de todas as aventuras jornalísticas baseadas na abertura dos processos de investigação de noticias. O Open News, uma coprodução do projeto Challenge, da Fundação Knight e da empresa criadora do navegador Mozilla Firefox, busca uma maior integração entre programadores e jornalistas no desenvolvimento de aplicativos para produção e circulação de notícias.
Todas essas iniciativas têm em comum o fato de procurarem aquilo que o Observatório da Imprensa definiu, em 2006, como “redações de vidro”, a ideia de que a produção de notícias jornalísticas não deveria ser algo tão misterioso quanto a produção de salsichas, e que a transparência deveria se transformar na marca registrada tanto das redações como principalmente na contabilidade das empresas jornalísticas..
Chris Elliott, ombudsman do The Guardian, com quem conversei em Brasília durante o Seminário Internacional Infância e Comunicação, reconhece que todos os esforços para inserir a expressão abertura (open) em todas as modalidades de jornalismo ainda dependem do desenvolvimento de um modelo de negócios. “O open journalism é uma estratégia editorial e nesta condição ela só sobrevive se estiver apoiada num modelo de negócios adequado. Nosso principal dilema no momento, no Guardian, é justamente este, e ainda não temos uma resposta para ele”, disse Elliott.
À medida que o tempo passa e as experiências vão se sucedendo fica cada vez mais claro que a sonhada abertura é mais do que uma palavra mágica, capaz de salvar negócios sem perspectiva imediata. O fim da caixa preta das redações passa a ser a condição indispensável para que o jornalismo deixe de ser uma ferramenta para alavancar receitas de empresas de comunicação e assuma o seu papel como fator de produção de conhecimento em comunidades sociais.
Para Chris Elliott, são muitos desafios a ser enfrentados ao mesmo tempo – o que transforma a atualização do jornalismo num processo complexo em que os insucessos são inevitáveis. Mas uma coisa é essencial, segundo ele: “Até o novo modelo de negócios deve estar pautado pela preocupação com a abertura”.