Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Álcool para menores, tema subestimado

A Veja São Paulo publicou na edição desta semana (com data de 14 de fevereiro) a reportagem “O teste do álcool para menores – Das dez casas visitadas por Veja São Paulo, sete não respeitaram a lei e serviram de choque a conhaque a modelos de 15 e 15 anos contratados pela revista”. A autora da reportagem foi Paola de Salvo.


Uma menina e um garoto, acompanhados de fotógrafo e da repórter, foram a bares e pediram bebidas, pagaram e se retiraram sem beber. De dez casas, sete serviram os adolescentes. Foi a maneira de divulgar a aprovação de uma lei proposta pela deputada estadual Maria Lúcia Amary, que determina o fechamento de estabelecimentos que sirvam bebida alcoólica a menores de 18 anos, o que já é proibido há 17 anos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA.


Trata-se de uma reportagem redonda – todos os donos dos bares foram ouvidos e os sete faltosos reconheceram o erro –, com uma denúncia inequívoca, mas, talvez devido ao clamor causado pelo selvagem assassinato do menino João Hélio Fernandes, no Rio, em seguida a tantos episódios traumáticos, entre eles o desabamento na obra do Metrô paulistano, a mídia nem tomou conhecimento dela. Pior, apesar de tudo que se sabe e se repete sobre efeitos perigosos do álcool em jovens, os próprios leitores da revista (algo em torno de 2 milhões de pessoas) não reagiram, como contou Paola de Salvo ao Observatório.


– A repercussão foi nula. Praticamente nula. Para não dizer nula, eu recebi uma carta do pessoal que me forneceu dados, o Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool). Só eles comentaram a matéria, mais ninguém… Leitores, cartas, nenhuma. Só para fazer uma comparação, quando a gente divulgou aqui uma crônica do Walcyr Carrasco, sobre o cachorro dele que estava doente, prestes a morrer, foi o recorde de cartas. Então, não sei explicar isso. Por que isso não sensibiliza os leitores. Sinceramente, não consigo explicar – disse a repórter.



Paola explicou que a pauta surgiu porque um assessor de imprensa da deputada mandou um e-mail dizendo que o projeto de lei tinha virado lei e já estava valendo. A revista pensou então em como usar o projeto como “gancho” jornalístico e verificar se os bares estavam cumprindo tanto a nova lei como a que já existe há tantos anos.


Vocês acreditam que a reportagem pode ter efeito? Vão checar isso em algum momento do futuro?


Paola de Salvo – Minha idéia seria checar. Eu entrei no jornalismo com a vontade de mudar alguma coisa que está estabelecida. Isso me norteia. Eu gosto de fazer matérias assim e eu espero que isso sensibilize os bares. É difícil medir a influência medir a influência do jornalismo nessas questões. Espero que tenhamos a oportunidade de refazer esse teste dentro de alguns meses, vou até sugerir isso, para saber se houve alguma mudança.


A repórter, que se formou em 2005, chegou à Veja São Paulo há três meses. Antes passou um ano como estagiária e dois como repórter da Quatro Rodas. Ela falou dessa experiência.


Paola de Salvo – Na Quatro Rodas eu não falava só de carros. Fazia matérias sobre consumidor, problemas nas estradas, acidentes, testes de produtos – fizemos uma vez um teste de vidro elétrico para saber se a força com que ele batia em cima machucava ou não as crianças, se os sistemas antiesmagamento funcionavam. Sempre gostei de fazer essas matérias de teste, para saber se o consumidor estava seguro. Eu também tinha uma seção na Quatro Rodas chamada Autodefesa, em que investigávamos problemas crônicos dos carros. Por exemplo, carro em que quebra muito a coluna de direção, ou que represente algum risco para o usuário que vá manejar a porta. Até tivemos um retorno. Uma vez eu fiz uma matéria sobre o banco do Fox, que machucava os dedos das pessoas – inclusive um homem teve o dedo decepado –, conseguimos quatro casos, e agora o Ministério Público vai mover ação contra a Volks com base nessa matéria. Eu sempre gostei de fazer matérias que tragam algum benefício para o consumidor, para o leitor, que façam diferença na vida dele.