É no mínimo discutível a lista de construtores do Brasil inaugurada na semana passada pelo presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo. As notícias publicadas sobre o assunto diziam que Rebelo havia consultado historiadores, mas não diziam quais foram eles. Seria interessante ouvir a opinião de um grupo grande de especialistas sobre os escolhidos pelo deputado do PC do B. Se, por exemplo, o escritor Lima Barreto – não menos patriota do que Aldo Rebelo, suponho – pudesse opinar do túmulo sobre Floriano Peixoto, um dos escolhidos, ele diria estas linhas inesquecíveis do Triste Fim de Policarpo Quaresma: “Tinham todos os privilégios e todos os direitos; precediam ministros nas entrevistas com o ditador e abusavam dessa situação de esteio do Sila, para oprimir e vexar a cidade inteira. Uns trapos de positivismo se tinham colado naquelas inteligências e uma religiosidade especial brotara-lhes no sentimento, transformando a autoridade, especialmente Floriano e vagamente a República, em artigo de fé, em feitiço, em ídolo mexicano, em cujo altar todas as violências e crimes eram oblatas dignas e oferendas úteis para a sua satisfação e eternidade. O cadete lá estava… Quaresma pôde então ver melhor a fisionomia do homem que ia enfeixar em suas mãos, durante quase um ano, tão fortes poderes, poderes de Imperador Romano, pairando sobre tudo, limitando tudo, sem encontrar obstáculo algum aos seus caprichos, às suas fraquezas e vontades, nem nas leis, nem nos costumes, nem na piedade universal e humana. Era vulgar e desoladora. O bigode caído; o lábio inferior pendente e mole a que se agarrava uma grande ‘mosca’, os traços flácidos e grosseiros; não havia nem o desenho do queixo ou olhar que fosse próprio, que revelasse algum dote superior. Era um olhar mortiço, redondo, pobre de expressões, a não ser de tristeza que não lhe era individual, mas nativa, de raça; e todo ele era gelatinoso — parecia não ter nervos. Não quis o major ver em tais sinais nada que lhe denotasse o caráter, a inteligência e o temperamento. Essas coisas não vogam, disse ele de si para si. O seu entusiasmo por aquele ídolo político era forte, sincero e desinteressado. Tinha-o na conta de enérgico, de fino e supervidente, tenaz e conhecedor das necessidades do pais, manhoso talvez um pouco, uma espécie de Luís XI forrado de um Bismarck. Entretanto, não era assim. Com uma ausência total de qualidades intelectuais, havia no caráter do Marechal Floriano uma qualidade predominante: tibieza de ânimo, e no seu temperamento, muita preguiça. Não a preguiça comum, essa preguiça de nós todos; era uma preguiça mórbida, como que uma pobreza de irrigação nervosa, provinda de uma insuficiente quantidade de fluido no seu organismo. Pelos lugares que passou, tornou-se notável pela indolência e desamor às obrigações dos seus cargos”. O mais curioso é que nem na Folha de S. Paulo, nem no Jornal da Câmara, que publicaram a notícia, foi apresentada a lista desses nomes. Leitor, dê sua opinião sobre a lista, fornecida pela Presidência da Câmara dos Deputados: JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA Patriarca da Independência Santos (SP) 13-06-1763 – †06-04-1838 Niterói (RJ) Cientista e homem de letras, foi o maior estadista brasileiro. Organizou um Projeto Nacional que incluía a libertação nacional, a abolição da escravatura, a reforma agrária e a integração dos índios. Arquitetou a fundação e a consolidação do Império do Brasil. FLORIANO PEIXOTO Consolidador da República Ipioca (AL) 30-04-1839 – †29-06-1895 Barra Mansa (RJ) Filho de lavradores, passou de soldado raso a Marechal do Exército. Exerceu a Presidência defendendo os interesses nacionais e o povo brasileiro. Seu maior feito foi derrotar as tentativas de restauração da Monarquia, e assim consolidou a República. GETÚLIO VARGAS Modernizador do Brasil São Borja (RS) 19-04-1882 – †24-08-1954 Rio de Janeiro (RJ) Líder civil da Revolução de 1930, comandou a modernização do Estado brasileiro com políticas nacional-desenvolvimentistas. No seu legado sobressaem as bases da industrialização, a legislação trabalhista e a participação do Brasil na II Segunda Guerra. DEODORO DA FONSECA Proclamador da República Marechal Deodoro (AL) 05-08-1827 – †23-08-1892 Rio de Janeiro (RJ). Chefe militar de grande prestígio na tropa, desferiu um golpe na Escravidão quando decidiu que o Exército não mais perseguiria negros fugitivos. Proclamador e primeiro presidente da República, preferiu renunciar a lançar o País numa guerra civil. ZUMBI DOS PALMARES Herói da resistência à escravidão Alagoas – †20-11-1695 (AL) Símbolo da penosa e brava luta dos negros contra a escravidão. Como uma espécie de rei do Quilombo de Palmares, incentivou a fuga dos escravos e enfrentou várias expedições de extermínio até retirar-se para a guerrilha. Traído, foi morto numa emboscada. FREI CANECA Ideólogo da República Recife (PE) 1779 – †13-01-1825 Recife (PE). Padre carmelita, intelectual e guerreiro, foi um liberal republicano. Participou da Revolução Pernambucana de 1817 e chefiou a Confederação do Equador em 1824. Condenado ao patíbulo, teve de ser fuzilado porque nenhum carrasco aceitou enforcá-lo. TIRADENTES Mártir da Independência Tiradentes (MG) 1746 – †21-04-1792 Rio de Janeiro (RJ) Líder da Conjuração Mineira de 1789, o alferes Joaquim José da Silva Xavier passou à História como um precursor idealista e ousado da Independência do Brasil. A Coroa portuguesa mandou executá-lo e esquartejá-lo, além de amaldiçoar seus descendentes. RAPOSO TAVARES Definidor das fronteiras Beja de S. Miguel (Portugal) 1598 – †1658 São Paulo (SP) Bandeirante polêmico, abalou para combater os holandeses no Nordeste e conquistou territórios espanhóis no Sul. Num feito épico, a sua Bandeira de Limites, em 1647, percorreu 10 mil km de São Paulo ao Pará e definiu as linhas de fronteira do Brasil. MARIA QUITÉRIA Heroína da Independência Feira de Santana (BA) 1792 – †21-08-1853 (?) Na luta pela Consolidação da Independência na Bahia, uma surpresa: o soldado Medeiros, bravo e audaz, era na verdade Maria Quitéria de Jesus. Pelo exemplo de altivez e independência, tornou-se símbolo do movimento de emancipação feminina. DUQUE DE CAXIAS Patrono do Exército Duque de Caxias (RJ) 25-08-1803 – †07-05-1880 Valença (RJ). Maior chefe militar da nossa História, Luís Alves de Lima e Silva foi o único brasileiro a receber o título de duque. Conduziu as tropas da Tríplice Aliança à vitória na Guerra do Paraguai, mas ficou conhecido como o Pacificador, por sempre propor a paz antes do combate. FILIPE CAMARÃO Chefe Guerrilheiro Indígena Rio Grande do Norte 1600 – †1648 Recife (PE). Índio potiguar, chamado Poti em sua tribo. Convertido ao cristianismo, recebeu o nome de Antônio Filipe pelos jesuítas que o educaram, numa homenagem a Filipe IV, rei da Espanha. Chefiou tropas na luta contra os invasores holandeses. Guerreou de Pernambuco à Paraíba e na primeira Batalha de Guararapes (1648), recebendo o título de dom. ANITA GARIBALDI Heroína dos dois mundos Laguna (SC) 1821 – †04-08-1849 Ravena (Itália) Casada com o libertador italiano Giuseppe Garibaldi, que se engajara na Revolta dos Farrapos em 1836, participou com o marido de combates aqui e na Europa. É reconhecida no Brasil e na Itália como paladina da liberdade nos dois continentes. AJURICABA Herói da resistência indígena Amazonas séc. XVIII – †séc. XVIII Pará Príncipe dos manaus, tribo do Amazonas, tornou-se símbolo da insubmissão dos índios à opressão colonial. Nunca aceitou a ocupação portuguesa e liderou ataques guerrilheiros aos traficantes de escravos. Capturado, atirou-se no rio e cobriu-se de lendas. JUSCELINO KUBITSCHEK Presidente do Otimismo Diamantina (MG) 12-09-1902 – †22-08-1976 Resende (RJ). Com as bandeiras da concórdia e desenvolvimento, implantou programas de infra-estrutura e expandiu a indústria com o lema “50 anos em 5”. Em sua obra resplandece Brasília, erguida na solidão do Planalto, mudou a geografia do Brasil. HENRIQUE DIAS Herói da guerra aos holandeses Pernambuco – †07ou 8-06-1682 Recife (PE) Negro liberto, chefiou um batalhão de homens livres e escravos na guerra contra os holandeses no Nordeste, inclusive nas decisivas Batalhas de Guararapes. Foi ferido sete vezes. Condecorado pela Coroa portuguesa, pediu a liberdade para seus soldados. DOM PEDRO I Proclamador da Independência Queluz (Portugal) 12-10-1798 – †24-09-1834 – Queluz (Portugal) Era o mais brasileiro dos integrantes da Família Real que se mudou para o Brasil em 1808. Conduzido por José Bonifácio de Andrada e Silva, o jovem e impetuoso príncipe português fundou o Império do Brasil com a célebre frase “Independência ou Morte”. BARÃO DO RIO BRANCO Patrono da Diplomacia Rio de Janeiro (RJ) 20-04-1845 – †10-02-1912 Rio de Janeiro (RJ). Professor, político, jornalista, diplomata e historiador, José Maria da Silva Paranhos Júnior foi unanimidade nacional como chanceler de quatro governos, de 1902 a 1912. Consolidou as fronteiras e formulou uma política diplomática à altura da grandeza do Brasil. BENTO GONÇALVES Chefe da Revolução Farroupilha Triunfo (RS) 23-09-1788 – †18-07-1847 Pedras Brancas (RS). Nos dez anos da Guerra dos Farrapos (1835-1845) contra o Império, Bento Gonçalves foi o estrategista militar e presidente da República de Piratini fundada pelos revoltosos. Apesar de aceitar o cargo, nunca foi entusiasta do separatismo do Rio Grande do Sul. PADRE MANUEL DA NÓBREGA Missionário-estadista Entre-Douro-e-Minho (Portugal) 18-10-1517 – †18-10-1570 Rio de Janeiro (RJ) Homem de Estado sob o hábito de catequista, mudou o rumo da colonização no litoral e em 1554 fundou São Paulo no sertão. “Não há acontecimento importante na História do Brasil daquela época a que não esteja ligado o seu nome”, disse o escritor Stefan Zweig. PLÁCIDO DE CASTRO Líder da conquista do Acre São Gabriel (RS) 09-12-1873 – †09-08-1908 Benfica (AC). Gaúcho radicado no Acre, liderou os seringueiros que com trabalho e sangue incorporaram aquele torrão ao território brasileiro. Sua ação de defesa abriu a frente diplomática com que o Brasil negociou o Tratado de Petrópolis com a Bolívia em 1902. TIBIRIÇÁ Fundador de São Paulo São Paulo – †1562 São Paulo (SP). Na cripta da Catedral da Sé de São Paulo, ao lado de personalidades como o Regente Feijó e o inventor Bartolomeu de Gusmão, jaz o Tibiriçá. Sogro de João Ramalho, amigo de Martim Afonso de Sousa, o tuxaua guaianá ajudou os Jesuítas a fundar São Paulo. Esta na raiz de 16 gerações de mamelucos, entre eles muitos quatrocentões paulistas, que vieram a constituir um povo novo nos trópicos. ALMIRANTE TAMANDARÉ Patrono da Marinha Rio Grande (RS) 03-12-1807 – †20-03-1897 Rio de Janeiro (RJ) Aos 15 anos, Joaquim Marques Lisboa embarcou num vaso de guerra para seguir uma carreira de glórias militares. Entre seus feitos está a espetacular vitória brasileira na até então maior batalha naval das Américas, a de Riachuelo (1865), na Guerra do Paraguai. PEDRO ÁLVARES CABRAL Descobridor do Brasil Belmonte (Portugal)1467 ou 68 †Santarém (Portugal)1520 ou 26 Ao zarpar do Rio Tejo, em 8 de março de 1500, com a maior armada até então organizada em Lisboa, o almirante tinha a missão oficial e pública de ir à Índia. Mas seu grande feito foi tomar posse da que seria a maior obra do Ciclo dos Descobrimentos portugueses. PRINCESA ISABEL A Redentora Rio de Janeiro (RJ) 29.07.1846 †Normandia (França) 14.11.1921 Na primeira vez em que assumiu a Regência do Império, em virtude de viagem de seu pai, o Imperador Pedro II, sancionou a Lei do Ventre Livre. Na terceira, assinou a Lei Áurea, a de maior repercussão social de toda a nossa história, para decretar a Abolição da Escravatura. LUÍS CARLOS PRESTES Cavaleiro da Esperança Porto Alegre (RS) 03.01.1898 †Rio de Janeiro (RJ) 07.03.1990 Chefiou a grande marcha da Coluna Prestes durante 29 meses e 25 mil Km pelo interior do Brasil. Foi secretário-geral do Partido Comunista. Comandou o movimento modernizador e preparatório da Revolução de Trinta.