Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

“Algo maior se alevanta”, ou xô, xeretas

Os repórteres Maria Lima e Gerson Camarotti, ao risco de ter os seus nomes riscados do caderninho do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, contaram as coisas como as coisas são na instrutiva matéria ‘Chinaglia quer a imprensa distante’, com o sub “Presidente da Câmara transfere comitê de jornalistas para longe do plenário”, no Globo de hoje.

Fosse o Globo um jornal menos convencional, o título bem poderia ser “Xô, xeretas”. Pois esse é o desejo nem tão secreto de nove em cada dez políticos. Menos, naturalmente, quando precisam da imprensa para promover os seus interesses. Como, por exemplo, quando forcejam para se eleger presidente da Câmara.

A matéria, por inteiro:

‘A dificuldade já revelada pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para lidar com as cobranças da imprensa e com o trabalho de cobertura dos jornalistas na Casa levou-o a desengavetar um projeto do ex-presidente João Paulo Cunha (PT-SP) de transferir o Comitê de Imprensa do local em que funciona há mais de 30 anos para outra área. Considerado um espaço privilegiado pela amplitude, proximidade e acesso direto ao plenário, o comitê dará lugar ao gabinete do próprio Chinaglia.

Com a mudança, discutida ontem em reunião da Mesa, os cerca de 200 profissionais de rádio, jornais, TVs e veículos de comunicação de todo o país que cobrem diariamente as atividades da Câmara serão acomodados em um espaço menor, um pouco mais distante e sem acesso direto ao plenário. O comitê será transferido para o espaço onde hoje funciona a primeira vice-presidência.

O projeto, que altera a obra original de Oscar Niemeyer, foi elaborado à época de João Paulo Cunha e retomado na nova administração petista na Câmara. Recentemente, a bancada do PT na Casa lançou uma cartilha para os novos deputados, com dicas como a de evitar conversas longas com jornalistas.

“Não tem jeito, os membros da Mesa alegam que precisam de mais espaço para trabalhar. Vai ser um redesenho geral de espaços, também para acomodar lideranças como a do PSOL, como determinou o STF. Ninguém gosta de mudança, mas algo maior se alevanta”, justificou o primeiro-secretário, Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Não é a primeira vez que a gestão Chinaglia tenta dificultar o trabalho dos jornalistas. Uma das medidas que tomou foi a suspensão do acesso do Comitê de Imprensa à Intranet – o site interno onde os atos da administração da Casa são noticiados. Mas, diante da reação da imprensa, o acesso foi mantido.

Segundo Serraglio, no projeto original de Niemeyer a presidência da Câmara funcionaria onde hoje está o comitê. O arquiteto nega, diz que o prédio é tombado e que toda reforma tem de ser feita de forma que não desfigure seu projeto: “Não fui consultado sobre nada disso. Estou sendo ouvido e informado dessas mudanças pela primeira vez.”

O ex-presidente Aldo Rebelo (PCdoBSP) ampliou o espaço do comitê, retirando de uma parte do salão os servidores do cerimonial. “Não só não aceitei retirar o comitê, como ampliei o seu espaço”, dizia Aldo ontem.

Com a mudança, Chinaglia se livra do assédio popular e dos jornalistas que o interpelam no Salão Verde quando chega à Casa e nos seus deslocamentos entre o plenário e o atual gabinete. A idéia é dar ao presidente uma entrada privativa.

“O que o presidente não quer é atravessar o Salão Verde e ser incomodado pelos jornalistas”, confirma o líder da minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS).

O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), disse que Chinaglia está usando a determinação do STF de que os pequenos partidos tenham estrutura de funcionamento para justificar a mudança.

“Já temos nosso espacinho lá no anexo 3 e estamos bem. O PSOL não pode ser usado para justificar decisões obscuras da Mesa. Mudar o comitê me parece querer esconder uma visão política de que jornalista incomoda, pergunta o que não deve, publica o que não pode”, disse.

O comitê foi inaugurado no início da década de 70, quando era presidente da Casa o hoje senador Marco Maciel (DEM).

“O objetivo foi facilitar o trabalho da imprensa, criando um símbolo de liberdade e transparência e dando condições de melhor divulgação dos trabalhos do plenário. O comitê ali é histórico. Saíamos do plenário e íamos conversar direto com os jornalistas, sem nenhuma barreira”, lembra Maciel.”

P.S. Outra de Chinaglia, o que não perdoa:

Da matéria do repórter João Domingos, da sucursal do Estado em Brasília, publicada na edição de hoje sob o título ‘PMDB apresentará lista para estatais e 2º escalão‘:

‘O ex-senador Sérgio Machado (CE) deve continuar na presidência da Transpetro. Renan [Calheiros, presidente do Senado] conseguiu convencer Lula a não tirá-lo de lá, apesar da pressão nesse sentido feita pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinglia (PT-SP). Este não perdoa Machado por ter atuado intensamente em favor de seu adversário na eleição da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP).’

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