Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alvejado pela Folha, Exército lança versão 2.0

O Globo, o Estado e o JB de hoje praticamente se limitaram a abrir aspas e fechar aspas na cobertura das armas roubadas do Exército e dadas como reavidas.


Dadas como reavidas pois, como assinala o colunista Janio de Freitas, da Folha, “não há comprovação alguma” de que sejam as que foram levadas de um quartel.


Os três jornais destacaram a prisão do primeiro suspeito e tornaram a publicar o mantra oficial de que o Exército “não negocia com foras-da-lei”.


Ontem, a Folha tinha dado, com base em “relatos de pessoas envolvidas”, que “integrantes do Exército negociaram sigilosamente com a facção criminosa Comando Vermelho (CV) a recuperação de 10 fuzis e uma pistola roubados de um quartel do Rio”.


E hoje continuou alvejando a história oficial.


Primeiro, destacou que a versão 1.0 do Exército mudou. O mesmo general que havia dito que as armas foram recuperadas graças à denúncia de “um elemento que passou e se evadiu” passou a dizer que isso seria apenas “um exemplo do que, em determinadas ações, pode ocorrer”.


A versão 2.0 é que “dados de inteligência informaram o local”.


Segundo, o repórter free-lancer Italo Nogueira apurou para a Folha que a “câmara de imóvel da Universidade Cândido Mendes, na estrada das Canoas – instalada a 1,5 km do local onde o Exército diz que encontrou as armas roubadas – não registrou movimentação de nenhum veículo das Forças Armadas durante a tarde e a noite de terça-feira” [quando o material teria sido achado].


A Folha continua sustentando a informação do repórter Raphael Gomide de que as armas estavam em poder do Exército desde domingo – e “mesmo assim, uma megaoperação na Rocinha foi montada na segunda-feira”.


Além disso, o jornal noticiou que uma gravação do SBT mostra o tenente-coronel que comanda o 1º Batalhão da Polícia do Exército tentando o que parece ser uma negociação com o tráfico. Falando por um radiotransmissor, ele diz: “Nossa missão aqui é encontrar os fuzis. Encontrando os fuzis, nós iremos embora.”


Se na imprensa apenas a Folha não comprou o pacote fechado das discrepantes versões 1 e 2 do Exército, no oficialismo começou uma guerra.


O Globo de hoje destaca que o prefeito carioca Cesar Maia “afirmou que teve informações de que o armamento já havia sido encontrado na segunda-feira”. Ao que o secretário de Segurança do Rio, Marcelo Itagiba, retruca: “Lamento que pessoas desinformadas, que em nada contribuíram na ação de recuperar o armamento ou na prisão das pessoas, dêem uma declaração como essa.”


A verdade é que a Folha acuou o Exército. Ou o Exército deu um tiro no pé. No Estado de hoje, a colunista Dora Kramer escreve que a história de que as armas foram achadas num matagal “guarda semelhança com aquela contada pelo aparato de segurança de Fernando Henrique Cardoso, em 1999, sobre as fitas de gravação do grampo do BNDES debaixo de uma ponte em Brasília”.


E arremata: “Até podem ser ambas verdadeiras. Mas não parecem.”


Tanto pior para os jornais que em vez de ir atrás da verdade dos fatos no caso, como a Folha, mais parecem repassadores de declarações militares – sem nem mesmo chamar a atenção para o que possam ter de contraditório.


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