Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Americanos propõem faxina ética nos blogues

“Será tarde demais para levar civilidade à web?”

Assim, com essa provocação, começa a matéria de 32 alentados parágrafos que, já não sem tempo, o New York Times publica hoje – na primeira página – sobre a violência verbal e outras baixarias comuns na blogosfera.

Intitulada “Um apelo aos bons modos no mundo dos blogs sórdidos”, a reportagem de Brad Stone informa que “algumas figuras destacadas no mundo high-tech estão propondo um código de conduta aos blogueiros, para fazer uma faxina na qualidade do discurso online.”

O movimento é encabeçado pelo editor de livros Tim O’Reilly, que cunhou o termo web 2.0, e por Jimmy Wales, o criador da Wikipedia. Na semana passada, começaram a elaborar um conjunto de normas para despoluir os debates na internet.

Eles sugerem que os blogueiros eliminem os comentários anônimos e os que contenham ameaças ou calúnias.

Exatamente o que se faz, por exemplo, nos blogues hospedados no Observatório da Imprensa.

A dupla deixa claro que isso não pode ser considerado censura. Tem toda razão.

Por sinal, o destaque dado à iniciativa pelo mais importante jornal do mundo mostra que o mau-caratismo, a grosseria, a adulteração de fatos e imagens e o gosto pelo vitupério são como a internet: desconhecem fronteiras.

As recomendações iniciais dos faxineiros já estão no blog radar.oreilly.com e no site blogging.wikia.com. Eles incentivam o envio de comentários e sugestões na expectativa de criar um consenso sobre o que vem a ser comportamento civilizado online.

Uma das suas idéias mais sofisticadas é fazer com que os blogueiros se comprometam a certificar, citando pelo menos uma segunda fonte, rumores e notícias em primeira mão.

O sistema seria todo ele voluntário. Parte-se da premissa de que a comunidade internauta é capaz de se auto-policiar.

“A meta do código não é pasteurizar a web, mas deixar mais claras as regras informais que já existem”, comenta o respeitado blogueiro americano David Weinberger [hyperorg.com/blogger], da Faculdade de Direito de Harvard.

A matéria do Times chama a atenção para o infortúnio de que muita gente acha normal, porque inevitável, o sub-mundo blogosférico.

Pelo menos nos Estados Unidos, as mulheres padecem mais do que os homens na web.

Achincalhada na internet, a escritora Kathy Sierra ouviu de um amigo, ao vê-la indignada: “Vá cuidar da vida. Internet é isso aí.”

“Isso aí” quer dizer, em números globais, 70 milhões de blogues, com 1,4 milhão de novos textos e imagens por dia.

O ódio que circula nessa impropriamente chamada conversação é tanto maior quanto mais polarizadores os assuntos. Há quatro anos, o blogueiro Richard Silverstein [richardsilverstein.com] vem comendo o pão que o diabo amassou por defender a paz entre israelenses e palestinos.

Ele não desiste, mas diz que não consegue se acostumar com o rancor embutido nos comentários sobre suas posições tidas como pró-palestinas.

O fecho da matéria do Times não poderia ser melhor. Cita O’Reilly:

“Muita gente se engana ao achar que a manifestação sem censura é a mais livre, quando, na verdade, isso se aplica ao diálogo civil bem conduzido. A civilidade promove a livre expressão.’

P.S. Barriga do Estadão deixa TV em polvorosa

Em título de página inteira, sobre matéria assinada por Jotabê Medeiros, o Estado anuncia nesta segunda-feira “Cultura elege hoje novo presidente”.

Certos de que eleição seria – e será – no dia 7 de maio, muitos dos 47 membros do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (Rádio e TV Cultura) imaginaram o pior – não um grave erro jornalístico, mas um golpe político no jogo duro da sucessão do presidente da emissora, Marcos Mendonça.

Segundo a imensa barriga do jornal, o presidente indicado pelo governador José Serra, jornalista Paulo Markun, “deverá ser referendado na manhã desta segunda’.

Está dando o maior rebu.

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