Pelo menos é esta a impressão que ficou depois da publicação nos últimos dois dias de uma série de informes sobre a situação da imprensa na Europa e Estados Unidos, neste final de ano. A executiva chefe do The New York Times, Janet Robinson, divulgou esta semana um comunicado no qual admite que as perspectivas de 2007 indicam a continuação do declínio no faturamento global das edições impressas tanto do jornal novaiorquino como do Boston Globe, do mesmo grupo empresarial. Esta tendência somada ao fato de que o mercado espera um faturamento menor nas operações com Internet, coloca o Times e quase todos os grandes jornais norte-americanos diante de decisões muito difíceis, no ano que vem. Estes prognósticos sombrios foram confirmados por uma reportagem especial da revista Time com os principais executivos da imprensa norte-americana. Scott Bosley, diretor executivo da American Society of Newspaper Editors (Sociedade Norte-americana de Editores de Jornais) afirmou que a palavra ‘newspaper’ (jornais em inglês) vai desaparecer sendo substituida pela palavra ‘new’ (noticia). Scott Bosley admitiu que os jornais atuais ficam bem menores e mais especializados. Andrew Davis, presidente do Instituto Americano de Imprensa (API) não é tão drástico mas admite que o grande dilema dos jornais norte-americanos é como financiar os sete bilhões de dólares anuais gastos com a produção de notícias. ‘Sem este dinheiro, que alimenta o trabalho de milhares de editores e repórteres, como contribuir para o exercício de uma cidadania bem informada?, pergunta Andrew. Para Alexia Quadrani, analista da indústria de jornais nos EUA, o grande problema da imprensa é a defasagem nos custos da publicidade. Ela diz que um anunciante em jornal gasta em média 20 dólares para que sua mensagem chegue a cada mil leitores enquanto na internet tudo isto é feito com apenas cinco dólares. O The Wall Street Journal anunciou que vai reduzir em 10% o tamanho de sua página para economizar papel, passando de sete para seis colunas. Mas a mudança mais importante será a diferenciação das edições impressa e online. A versão internet concentrará a parte noticiosa enquanto a edição em papel dará prioridade a textos analíticos e investigativos. Na Bolsa de Valores de Nova Iorque, os analistas do mercado destacam a performance futura de empresas como a Disney (dona da rade de tv ABC) por conta da valorização do vídeo online em 2006, mas não esperam a repetição dos mesmos resultados em 2007. Segundo os analistas consultados pela CNN Money o grande problema será a resistência dos investidores em continuar aplicando recursos em jornais impressos, o que pode comprometer seriamente a rentabilidade do setor. Além dos jornais, outros segmento que deve ter problemas com fluxo de caixa e publicidade no ano que vem é o do rádio, segundo analistas norte-americanos. Na Europa, a agência de noticias Reuters aliou-se ao portal Yahoo para lançar um ambicioso projeto na área do chamado jornalismo cidadão com o objetivo de ampliar a cobertura local sem investir muito. A estratégia é comprar fotos e filmes feitos por amadores que documentaram fatos de interesse jornalistico. É mais um passo na oficialização do jornalismo praticado por pessoas sem formação especializada e que tiveram a ventura de estar no local certo, na hora certa, com o equipamento certo. Apesar dos prognósticos sombrios, a indústria dos jornais vem mudando a um ritmo que muitos analistas ainda consideram lento diante da rápida migração de público e anunciantes em direção à internet e ao vídeo digital. Todos reconhecem que as edições impressas não acabarão mas estão seguros de que 2007 será o último prazo para as empresas jornalísticas promoverem mudanças capazes de tranquilizar os investidores e reconquistar a confiança do público.