Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Apesar dos agouros, as rotativas não param

Antes tarde do que nunca, um grande diário brasileiro, a Folha, acaba de abordar com um destaque que inclui chamada na primeira página de hoje [“Jornal passa por guinada histórica, afirma relatório”] e página inteira no seu caderno de economia a mais credenciada avaliação anual sobre a situação dos meios de comunicação, embora se refira apenas a um país, os Estados Unidos.


Trata-se do State of the Media, o levantamento sistemático produzido pela entidade americana Project for Excellence in Journalism (PEJ), associada ao Pew Research Center, de Washington.


A sua quarta e mais recente versão, a de 2007, foi comentada já em 13 de março, dias depois da sua divulgação, no blog Código Aberto, do Observatório da Imprensa. [Ver http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id =
{FBB9FDC5-CF0D-47D8-9647-5AF3823D69E8}&id_blog=2
 ]


O correspondente da Folha em Washington, Sérgio Dávila, fez um trabalho de gente grande. Somou ao relatório americano outros dois. Um, já noticiado no Brasil, foi produzido pela World Association Newspapers, com sede em Paris. Outro, que estréia no pedaço, é o Newroom Barometer [Barômetro da Redação], gerado pelo World Editors Forum, também sediado em Paris, com o apoio da legendária agência noticiosa Reuters, fundada em 1851 [o primeiro canal de mídia a informar o mundo do assassínio do presidente Lincoln].


Além disso, o correspondente deu uma geral sobre as principais mudanças em curso na imprensa americana [“Novidades já integram dia-a-dia das Redações”] e fez uma apropriada entrevista com a supervisora e co-autora do novo State of the Media, Amy Mitchell.


A sua última pergunta é “Como avalia a pesquisa que aponta otimismo em 85% dos entrevistados quanto ao futuro do jornalismo”?


A resposta não importa – nem é grande coisa. Mas o leitor que não tiver chegado à 138a. linha da matéria principal antes de ler a entrevista com a estudiosa Amy Mitchell, nem tiver se detido na numeralha do quadro-resumo dos três levantamentos, ficará sem saber do que trata a pergunta.


Os tais 85% são o ponto mais salientado – mas não o único que merece ser salientado – da pesquisa Barômetro com 435 diretores de redações e editores-chefes de jornais dos quatro cantos do mundo.


Aliás, os 85% se compõem de 61% “algo otimistas” sobre o futuro dos jornais em que trabalham e de 24% de “muito otimistas”, uma significativa diferença. [Os absolutamente pessimistas são apenas 3%.]


Outras previsões relevantes dos executivos entrevistados:


Para quase a metade deles [48%], no futuro a pessoas não precisarão pagar pelo acesso à maioria das notícias, impressas ou online.


Para a metade [51%], a qualidade do jornalismo aumentará. Metade da metade [26%] acha o contrário.


E para 66%, as páginas de opinião e análise dos jornais impressos ganharão importância nos próximos dez anos.


A idéia geral não é nova: as edições on-line e a internet em geral como fontes primárias de informação, as edições impressas como principais fontes de interpretação para o grande público.


Talvez mais importante do que os exercícios futurológicos dos chefões das redações provocados pelo Barômetro seja um fato destacado por Monique Villa, redatora-chefe da Reuters Media, ao comentar a pesquisa.


Ela disse ao editor de Comunicações do jornal britânico The Guardian [edição de 28 de março], Richard Wray, que, apesar dos maus agouros que pipocam em toda parte sobre o futuro dos jornais, “as empresas continuam investindo em novas [e caras] impressoras”, o que derruba a profecia segundo a qual a imprensa diária em papel está com os dias contados.


Outro indício de que o jornalismo impresso não está confinada à UTI vem de uma interessante pesquisa sobre publicidade na mídia britânica. Por sinal, nenhum outro país tem tantos jornais nacionais como a Inglaterra – uma dúzia. [No Brasil são cinco – Folha, Globo, Estado, Valor e Gazeta Mercantil. Nos EUA, três – USA Today, New York Times e Wall Street Journal.]


No ano passado, pela primeira vez em qualquer lugar do globo, a internet assumiu a liderança como destino de gastos publicitários na Grã-Bretanha. Ficou com 11,4% do bolo. Nos Estados Unidos não chega a 8%. Na média mundial, não chega a 6%.


A fonte é um estudo do Internet Advertising Bureau, que por alguma razão escapou ao jornalista da Folha.


Mas, não obstante os tais inéditos11,4%, não é o caso de dobrar os sinos pelos jornais britânicos. Por dois motivos:


1. O destino das verbas publicitárias na internet do Reino Unido está longe de ser exclusivamente os sites e blogs jornalísticos. Os anunciantes gastam uma nota, isso sim, em sites de relacionamento, tipo YouTube ou MySpace, onde os usuários são os próprios geradores de conteúdo. É a chamada “publicidade viral”: o anunciante paga aos usuários/produtores mais acessados para que transmitam publicidade em meio a seja lá o que for que ponham no ar.


2. O crescimento dos gastos publicitários britânicos na internet não se deu às custas dos jornais, mas da TV. Em 2006, as emissoras perderam 4,7% de sua receita comercial. E os jornais continuaram na deles: ganho de 0,2%.


Sem falar que, nos últimos cinco anos, a publicidade em jornais impressos, na média mundial, cresceu 11,7% [e mais do que isso na Índia, China e América do Sul].


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