Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As últimas da crise – nos bastidores

São duas as reportagens nas páginas políticas dos jornais do dia que não podem deixar de ser lidas – mesmo que nada mais se leia sobre as últimas da novela do mensalão, ou, como prefere o PT, do caixa 2.

As duas contam histórias de bastidor, quase sempre mais importantes do que o relato dos fatos públicos, até porque aquelas costumam determinar estes.

Uma saiu na Folha, a outra no Valor. Uma descreve uma tentativa de chantagem. O que a outra descreve não chega a tanto, mas mostra um político em ação e uma tempestade em formação – a menos que…

A primeira, de Kennedy Alencar, informa que a dupla dinâmica Delúbio-Valério, embora cada um abespinhado com o outro, está fazendo o mesmo: “enviaram [ao governo e ao PT] recados pedindo dinheiro para não revelar supostos fatos novos que levariam a crise política se agravar novamente no aspecto investigativo”.

Valério, que diz ter emprestado R$ 55 milhões ao PT, toparia deixar tudo por isso mesmo e calar-se para sempre em troca de R$ 20 mi. O seu mensageiro, segundo a reportagem, é o próprio Delúbio. Valério também se vale da mídia para plantar notícias de que sua vida financeira e conjugal vai de mal a pior e, por isso, “não teria mais nada a perder”, escreve Alencar.

Já Delúbio, depois de conseguir da nova direção do PT que o partido, afinal, pague o seu advogado [e o do ex-secretário-geral Sílvio Pereira], teria voltado à carga, pedindo ajuda financeira para sobreviver no médio prazo, quando ficará sem dinheiro.

O seu porta-voz é o ex-presidente petista José Genoíno – que, afirma a matéria, foi quem convenceu o sucessor Ricardo Berzoini a pagar os honorários dos patronos de Delúbio e Silvinho.

De Marcos Valério, é o caso de dizer que o que ele não sabe do mensalão não vale a pena saber e que ainda não contou da missa a metade: o homem da mala pode virar homem-bomba.

Delúbio, por sua vez, deve ter material para deixar o PT ainda pior na fita. Mas uma coisa é certa: é mais fácil ele não poder mais fazer churrascadas do que soltar algo que possa rebentar debaixo da cadeira presidencial. Nunca é demais lembrar que Delúbio jamais foi homem de Dirceu, mas de Lula.

Pendências na “área econômica”

A segunda reportagem talvez seja menos excitante para o leitor, mas não será menos preocupante para o governo.

De autoria de Raymundo Costa e Maria Lúcia Delgado, revela que o presidente do Senado, Renan Calheiros – o “político em ação” citado acima – fez saber a Lula e ao ministro Palocci que sem “a solução de algumas pendências na área econômica” ficará difícil impedir que a crise chegue ao Senado.

Por pendências, entendam-se, entre outras coisas, a ação judicial do governo contra o aumento do funcionalismo do Congresso e do Tribunal de Contas; o não cumprimento da promessa de pagar aos Estados exportadores as compensações previstas na Lei Kandir [que isenta de ICMS produtos para venda no exterior] e, como não poderia deixar de ser, a não liberação de emendas parlamentares prometidas.

O Senado, antes da crise, era já um osso duro de roer para o governo. Foi ali, por exemplo, que caiu a MP que pretendia regulamentar de uma vez por todas o funcionamento dos bingos no país – e, com isso, esvaziar o Waldogate.

Fácil de imaginar como fica o osso à medida que a crise transborda do que antigamente se chamava Câmara Baixa para a Câmara Alta.

Contra a expectativa dos entendidos, os tucanos conseguiram ontem emplacar um pedido de CPI para investigar o uso de caixa 2 em campanhas eleitorais desde 1989. Se fosse rigorosamente isso, não sobraria um, merrmão, como diria um malandro carioca. Mas a CPI é para apanhar o senador petista Aloizio Mercadante, cujos gastos declarados são uma quirera, e, havendo gás, o presidente Lula.

“É dramática a avaliação feita no Senado sobre a possibilidade de contaminação da crise”, relata a matéria – deixando a forte impressão de que o avaliador-mór é o próprio Renan.

Não está claro como ele poderia barrar o pedido da CPI que parece estar com tudo nos conformes, imitando o golpe de mão do antecessor José Sarney, no ano passado, com o inquérito dos bingos [afinal instalado há poucos meses, por ordem do Supremo].

Por via das dúvidas, Mercadante procurou o líder da bancada pefelista Agripino Maia, a quem teria proposto “uma análise racional do cenário político”, para que o Senado não perca “o eixo da agenda de desenvolvimento do país”.

Tradução: chega de tiroteios, nada de nova CPI e vamos votar o Orçamento de 2006.

Mas, pelo que Renan disse a Lula, e como diria Garrincha, falta combinar com “os russos”, isto é, com Antonov Paloccisky.

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