O cartum do Angeli na Folha de hoje mostra umas pessoas diante de uma banca onde as manchetes dos jornais expostos falam de corrupção em vários pontos do país. Uma delas pergunta: “Será isso o que os governos chamam de integração nacional?”
O importante no cartum, para mim, não é a (divertida) pergunta, mas são as manchetes tratando todas do mesmo assunto — e, principalmente, a pequena aglomeração de leitores.
Porque os maus velhos tempos voltaram: a corrupção está de novo na boca do povo. Ontem, no supermercado que frequento, um cliente perguntava a outro, um tanto retoricamente: “E a corrupção, hein?”
E ontem também, no fim da noite, a corrupção estava no programa da Hebe, no SBT, cercada mais do desencanto do que da indignação dos participantes.
Só que não foram propriamente os jornais do Angeli que abriram os olhos do povo para a pouca-vergonha. Foram sobretudo as imagens levadas ao ar pela Rede Globo em dois dias consecutivos (sábado e domingo passados): no Jornal Nacional, trechos do vídeo nos Correios — que vale pelo momento em que um burocrata boquirroto recebe e embolsa um maço de notas que devem somar R$ 3 mil — e, no Fantástico, o dos bravos deputados de Rondônia tentando achacando o governador tucano Ivo Cassol.
Este último caso talvez não tivesse repercutido tanto se um juiz de Porto Velho não tivesse acolhido uma liminar que pedia que proibisse a transmissão das cenas para Rondônia — o que a Globo, com toda razão, divulgou para o Brasil inteiro, além de cobrir as manifestações de protesto diante da Assembléia estadual.
A matéria dos Correios no JN de sábado durou 2 minutos e 11 segundos, o equivalente “a uma página de jornal impresso”. Foi o que esclareceu o diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, em carta na Folha de hoje, em que se queixa do colunista Nelson de Sá, o qual criticara a Globo por apenas registrar o escândalo no sábado e por demorado a dar-lhe a merecida atenção.
Kamel demonstrou que a Globo deu mais do assunto que a própria Folha (limitando-se, domingo, a um “estreito rodapé de quatro colunas, sem chamada na primeira página; e, na segunda, “pequena reportagem dentro de um quadro com quatro medidas”, também sem chamada na primeira).
Além dos Correios e de Rondônia, a Globo teve a indisfarçada satisfação de noticiar no sábado a decisão da juíza eleitoral que tornou inelegível até 2007 o casal Garotinho, por fraudes no pleito municipal em Campos, no ano passado. No dia seguinte, foi a vez do jornal de esbaldar-se com o castigo da dupla populista Anthony e Rosinha.
E tudo isso na esteira do inquérito aberto no Supremo contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o pedido de inquérito contra o ministro da Previdência, Romero Jucá.
Alimentada pelo competente noticiário da TV, a raiva do povo pelos políticos lembra o período entre o fim do regime militar e a eleição para a Constituinte. O eleitor deu o troco, lembra hoje nos jornais o vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô, do PFL de Alagoas — outro Estado presente no noticiário das falcatruas —, reelegendo apenas 1/4 dos senhores deputados e senadores.
Pena que também elegeu o “caçador de marajás” Fernando Collor, mas essa é outra história. O povo não é bobo, mas às vezes é.
Já o correligionário baiano de Nonô, José Carlos Aleluia, líder da oposição na Câmara, deu a entender que os seus colegas voltaram a tirar o distintivo que os identifica como parlamentares, quando saem do Congresso Nacional, porque “a opinião pública considera que todos são ladrões”.