Quando várias pessoas começam a pensar sobre um tema novo é inevitável surjam muitas visões divergentes. Isto é muito positivo e saudável porque a exploração de um território novo sempre começa com mais discordâncias do que concordâncias. Quanto mais visões diferentes melhor, porque há mais alternativas de estudo e mais matéria prima para reflexão. Isto aconteceu também aqui, depois que vários leitores começaram a postar comentários sobre a questão do jornalismo na era do conhecimento. As opiniões mostraram a amplitude do campo de discussão e indicaram o que podemos ganhar coletivamente com a continuidade e aprofundamento do debate. O importante é ter um foco comum e a nossa proposta é centrar no papel do jornalista no processo de transformação de conhecimento tácito (aquele que está na cabeça das pessoas e é fruto basicamente da experiência) em conhecimento explícito (o que está estruturado de forma escrita, em áudio ou imagens e que incorpora contextualização). Estou usando definições gerais (reconhecidamente imperfeitas) para evitar que o debate acabe demasiado acadêmico e com isto afaste quem não está familiarizado com conceitos cientificamente elaborados. É um risco calculado e aceito as suas conseqüências. A diferença entre notícia e conhecimento é essencial para se entender qual o papel que os jornalistas podem exercer numa economia e numa sociedade baseadas no conhecimento. Na imprensa convencional, a notícia é um produto cujo valor está vinculado à vendagem de jornais, revistas, de programas radiofônicos e televisivos. A popularização da internet gerou uma avalancha informativa que, entre outras coisas, provocou uma aguda queda do valor comercial da notícia, porque ela se tornou um bem com oferta abundante. Paralelamente à desvalorização da notícia, aumentou a importância atribuída ao conhecimento, entendido aqui a contextualização e atribuição de significado a dados e informações e não como sinônimo de sabedoria ou cultura. Trata-se do bem mais escasso neste princípio de uma era baseada no conhecimento. A busca, edição e publicação de notícias provocou o desenvolvimento de rotinas e ferramentas de trabalho específicas, bem como um conjunto de valores jornalísticos construídos ao longo de décadas. Estas rotinas, ferramentas e valores estão sendo submetidas atualmente a uma prova de fogo com a multiplicação de novas tecnologias, cujo objetivo principal não é a notícia, mas sim a produção de conhecimentos, porque estes são muito mais valorizados na era digital. Se ficar amarrado à era da notícia, o jornalismo perde a oportunidade de dar uma enorme contribuição para a geração de uma massa crítica de conhecimentos, porque ele desenvolveu ao longo dos anos uma expertise única naquilo que foi classificado como ‘primeiro rascunho da história‘. As redações estão perdendo a concorrência para os milhões de blogs, fóruns, chats e sites colaborativos que se multiplicam geometricamente na internet. É inevitável e irreversível. Mas os novos atores na arena informativa da Aldeia Global não tem experiência no trato da notícia e da informação, por isto a perspectiva é de aumento do fosso entre a produção de dados, noticias, textos, imagens e sons em estado bruto e esta mesmo material transformado em conhecimento estruturado ou explicito, capaz de ser utilizado pelo conjunto da sociedade. Conversa com o leitor
Além dos comentários postados aqui no Código, o tema jornalismo na Era do Conhecimento acabou sendo discutido também noutros blogs, como o de Rogério Kreidlow . O consultor Fabiano Caruso, cujo currículo em matéria de gestão do conhecimento é invejável (ver blog ), pergunta se a proposta é transformar os jornalistas em bibliotecários.
Me parece que não, da mesma forma que não se pode usar desvios de conduta de profissionais e de órgãos da imprensa como justificativa para negar um papel do jornalismo no processamento de informações. O debate sobre o tema também não é novo como mostrou muito bem o professor Victor Gentilli no post anterior.
Mas é necessário levar em conta todas as mudanças qualitativas provocadas pelo surgimento da internet na forma como a sociedade contemporânea valoriza o conhecimento e como a academia pensa sobre o problema.
Dizer que a participação de todos é mais do que necessária, é chover no molhado. O importante é deixar que ela aconteça e este é o nosso principal compromisso. Sem ele, o Código perde sua função.