Este caso de imprensa chegou por e-mail e, apesar de ter sido ultrapassado por outros desdobramentos da crise, mostra até aonde podem ir as derrapadas da chamada grande imprensa, no caso a revista Veja.
A pessoa atingida publicamente é uma moça gaúcha, estudante do segundo ano de uma escola técnica de Porto Alegre. Hannah Beineke, no último dia 4, animou-se para participar da primeira passeada de sua vida, uma manifestação estudantil que tinha como palavra de ordem “Com Lula, contra a corrupção”. Mas, para sua indignação e de sua família – Hannah reparte a indesejável notoriedade com Ulysses Guimarães e sua esposa, Dona Mora, e outro anônimo em uma das páginas da revista que trouxe na capa Lula com a metástase dos dois eles de Collor.
O título do texto em questão diz “Os cara-pintadas ganham as ruas …. …. e, tímidos, ganham as ruas”.
O texto-legenda que indignou a estudante tem apenas trinta palavras e sugere o desalojamento de Lula do poder duas vezes:
“Os estudantes se rebelam contra a corrupção no governo, promovem manifestações e pedem a saída do presidente. Na semana passada, neocaras- pintadas de verde-e-amarelo começaram a se manifestar contra o governo Lula.’
O uso do primeiro plano nas fotos, que acabou resultando na exposição pessoal e indesejável da estudante – ela escreveu para a revista protestando contra a exploração de sua imagem – também possibilita outra leitura paralela. Tanto na tevê quanto na mídia impressa, o fato de uma manifestação popular estar ilustrada com foco fechado significa também que havia menos pessoas do que o repórter ou a redação esperava.
O caso de Hannah despertou o interesse do portal Vermelho, ligado ao PC do B, que traz reportagem de Sônia Corrêa com uma peça interessante: a justificativa da revista para explicar porque Hanna foi à passeada e gritou “Com Lula, contra a corrupção”, mas a Veja escutou “contra o governo Lula”.
Num dos trechos da resposta, a revista disse para Hannah que irá apurar se houve “erro da agência”, transferindo a responsabilidade pela mancada ao repórter-fotográfico Jefferson Bernardes, da agência Preview.
A parte mais saborosa da explicação da revista, porém, segue abaixo:
“Quanto a querer derrubar o governo, esta tem sido a queixa dos sucessivos governos, desde 1968, quando Veja surgiu, e serviu de desculpa para a implantação da censura na redação. Veja não quer que o presidente Lula caia. Quer que ele cumpra seu mandato como um verdadeiro presidente, descendo do palanque e encarando de frente os problemas gerados, não fora, mas dentro de seu próprio governo e de sua base de apoio no Congresso. O que Veja fez foi mostrar que, da forma como vem reagindo o presidente, está cada vez mais parecido com Collor. É um alerta, que ele deveria ouvir”.
Hannah, segundo O Vermelho não engoliu. E acusa a revista de má fé, pois a mesma manifestação já havia sido noticiada pela tevê gaúcha e pelos maiores jornais do Rio Grande do Sul – Zero Hora e Correio do Povo – e pela Folha de S.Paulo.
O portal arrematou: “O que a redação de Veja não diz é que trabalha no sentido de passar para os brasileiros uma imagem do presidente Lula idêntica à de Collor. E, não apenas isso, mas tenta manipular o movimento social. E que, no caso, levou a manipulação ao ponto de usar a imagem de Hannah Beineke exatamente no sentido oposto ao da manifestação expressa da jovem cidadã porto-alegrense”.