Falamos muito de autoria compartilhada, de web social, de edição coletiva e de muitos outros chavões do jornalismo online, mas quando eles se tornam realidade, a gente quase sempre se assusta. Foi o que aconteceu comigo depois do post sobre os blogs da Copa criados pelos principais jornais brasileiros. O volume de comentários feitos pelos leitores, tanto os publicados no próprio blog, como os enviados para meu correio eletrônico pessoal mostraram como a produção jornalística já não pode mais prescindir do leitor. Vários comentaristas criticaram o fato de muitos blogs não terem sido mencionados, no que estão absolutamente certos, porque não foram poucas as omissões involuntárias. Outros mostraram as dificuldades enfrentadas pelos jornalistas/blogueiros da grande imprensa brasileira na hora de administrar o seu tempo de trabalho. Mas a convivência com o leitor significa entrar em contato com percepções bem diferentes e principalmente com a crítica. Nós jornalistas estamos pouco acostumados a sermos criticados e normalmente reagimos como se fosse uma agressão pessoal. Quando alguém critica o jornal ou o programa no qual trabalhamos, reagimos como se a nossa competência e credibilidade pessoal tivessem sido diretamente atingidos. Mas enfim, não me preocupam tanto as críticas, porque sei que, na internet, é praticamente impossível não cometer erros ou omissões na hora de escrever. Os jornalistas online têm que aprender a conviver com a nova realidade criada pela interatividade com os leitores através da qual a crítica passou a ser uma norma e não uma exceção ou agressão. As sugestões e correções publicadas no post sobre os blogs da Copa, além de uma nova lição de modéstia, foram também uma aula de produção compartilhada, porque os leitores me levaram a visitar outros blogs sobre a Copa, onde os seus autores conseguiram a densidade informativa que os blogs de grandes jornais continuam devendo. É o caso dos blogs Carta Bomba de André Rizek e o Blog do Juca Kfouri. Ambos conseguem um invejável equilíbrio entre informação, análise e observações pessoais. Através deles é possível vislumbrar o que pode ser o papel de um blogo jornalístico na internet. É difícil chegar a esta receita porque um blog jornalístico, numa situação como a de uma Copa do Mundo, não pode competir em instantaneidade com a transmissão ao vivo da TV e também não pode ficar só na fofoca, como é o caso do blog Nós Na Copa, cuja principal matéria prima é o dia a dia das estrela do jornalismo da TV Globo, na Alemanha. Entendo a queixa de alguns jornalistas blogueiros na Alemanha que alegam falta de tempo para produzir informação específica e consistente para seus sites na correria da Copa. Esta constatação é mais válida ainda quando se trata de profissionais que foram mandados para a Alemanha por jornais ou revistas que ainda priorizam o material impresso ou para a televisão. Os grandes jornais ainda encaram os blogs como uma espécie de luxo ou modismo editorial, apesar de muitos deles já vislumbrarem possibilidades comerciais concretas na blogosfera, como é o caso do O Globo. E quem sofre é o coitado do profissional que acaba sendo cobrado nos blogs por uma qualidade que não lhe permitem oferecer. Por isto muitos deles estão recorrendo a solução de publicar fotos para preencher o espaço que poderia ser usado para oferecer material como o de Rizek e Juca. As fotos são uma solução pobre, porque geralmente não tem qualidade ou são pouco informativas, embora os fotologs possam ser usados com eficiência como mostram os blogs do jornal inglês The Guardian e da BBC. Mas enquanto as grandes empresas jornalisticas não colocarem os blogs no mesmo pé dos veículos tradicionais, vai ser difícil para elas competir em criatividade com os blogueiros independentes, porque para eles postar é a prioridade número um.