Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Blogs noticiosos mexicanos substituem jornais na cobertura do narcotráfico

Depois de verem a imprensa acuada pela combinação da violência do narcotráfico e da policia contra  jornalistas, os mexicanos descobriram uma nova fórmula para buscar notícias sobre a guerra entre os cartéis da droga e o governo, um conflito que já matou 66 jornalistas e 14 mil civis e militares, na última década.

Até a Agência Norte-Americana de Combate as Drogas (DEA) passou a acompanhar o  drama mexicano por meio dos blogs criados por quase 30 jornalistas e cidadãos comuns que passaram a ser a linha de frente numa narco-guerra , que a grande imprensa trata com luvas de pelica por temor de represálias.

O fenômeno dos narco-blogs, como o popularissimo  Blog del Narco, que tem cerca de 50 mil acessos diários,  provocou uma mudança radical nos hábitos informativos dos mexicanos. Eles agora buscam mais informações nos blogs em vez da imprensa convencional.

Isto é o resultado de uma dupla pressão sobre as redações. Se por um lado o crime organizado transformou os jornalistas em alvos preferenciais, por outro a policia também passou a usar a intimidação sobre repórteres e editores como forma para impedir denúncias de corrupção nos organismos de  segurança pública.

Esta dupla armadilha montada sobre a imprensa é claramente visível no México por conta da radicalização da narco guerra, mas ele acontece em quase todos os países latino-americanos, inclusive no Brasil.

É cada dia mais difícil cobrir jornalisticamente os crimes envolvendo narco-tráfico porque a intimidação de repórteres e editores está cada dia menos sutil.  E não é apenas por conta do crime organizado. Também a polícia pressiona jornalistas sempre que aparecem denúncias de envolvimento de agentes com os traficantes.

Esta situação está empurrando um número cada vez maior de repórteres para a atividade autônoma, contando inclusive com o estímulo das empresas jornalísticas que já não conseguem, como no caso mexicano, dar proteção especial aos seus profissionais.

O Programa de Liberdade de Expressão, do Centro de Jornalismo e Ética Publica(CEPET), do México,  admitiu em março deste ano que a espiral de violência no México levou os principais jornais e emissoras de radio e Tv do país a uma auto-censura em matéria de cobertura do narcotráfico para ”evitar mais mortes e mais prejuízos financeiros”.

É esta auto-censura que acabou levando mais leitores para os blogs entre os quais se destacam também o Narcotrafico en Mexicoe o Narcoguerra,  conhecido pela crueza das fotos que pública.

O recuo da imprensa mexicana diante da agressividade do narcotráfico é um sintoma do que o sociólogo espanhol Manuel Castells chamou de ”globalização da violência”, ou seja, o fenômeno das máfias da droga já não é mais o resultado da falência das políticas de segurança pública deste ou daquele país, mas um processo em escala planetária resultante da impotência das forças policiais em controlar o crescimento do crime organizado como fator político.

O caso mexicano pode estar balizando uma situação onde a imprensa terá que enfrentar opções nada agradáveis. De nada adiantará recuar diante do crescimento das máfias da droga, mas por outro lado, enfrentá-las significa pagar um preço ainda mais alto.

É ai que entram os blogs porque eles podem se adaptar mais rapidamente a um ambiente informativo marcado pela intimidação e violência. No caso mexicano, também aconteceram ameaças contra blogueiros conforme revelou o CEPET, mas quando um blog sai da rede, sempre surgem vários outros para substituí-lo. Isto acaba dando lugar a uma espécie de guerrilha informativa contra os narcos.